A última semana de janeiro foi marcada pelas primeiras críticas direcionadas à administração de Adiló Didomenico (PSDB) por parte de supostos ou antigos aliados. Mais recente e significativa foi a saída do ex-prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho da presidência do Conselho de Governança, cargo criado especificamente para ele na prefeitura. Mansueto assumiu a função no dia 1º de janeiro e solicitou a saída 13 dias depois. Disse que a decisão foi tomada após descobrir que havia sido nomeado CC8, quando havia pedido para não ser remunerado. Também contestou a própria atribuição de presidente de conselho, que, no seu entender, deveria ser eletiva dentro de um colegiado constituído.
— Fui surpreendido quando li que seria cargo de confiança. Ora, eu sou contra esses cargos de CC8, "CC não sei o que", que visam dar emprego para cabos eleitorais, etc., e não quis participar disso — revela.
Em entrevista anterior ao Pioneiro, Mansueto havia dito, que desde sua última administração, terminada em 1992, recebeu diversos convites para compor chapa como candidato a vice-prefeito, mas que não aceitou em razão da experiência prévia como prefeito e o costume de ocupar o cargo máximo do Executivo. A aceitação ao convite de Adiló teria sido justamente pela boa relação que eles cultivam e pela admiração admitida pelo atual prefeito a Mansueto. No entanto, o ex-prefeito ressalta não ter percebido acolhimento por parte de Adiló das sugestões que deu nesse início de governo.
— O Adiló é meu amigo, e não tem nada a ver amizade com a política. Mas os conselhos que dei pra ele não foram aceitos nunca, ele tinha outras ideias. Ele tinha outros conselheiros acho mais importantes do que eu, então acho que é difícil qualquer retorno nesse sentido. Conselheiro que não tem os conselhos acatados não é conselheiro — comenta.
Mansueto foi prefeito de Caxias do Sul de 1977 a 1982 e de 1989 a 1992. Como presidente do Conselho de Governança, ele atuaria no papel de conselheiro e interlocutor de entidades representativas, além de se envolver em assuntos das secretarias. Parte de entidades, como a CIC (a Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul) e a UAB (a União das Associações de Bairros), já haviam sinalizado interesse em compor o colegiado.
SEM AVAL DO PREFEITO
Entre as propostas que não receberam o respaldo do prefeito, Mansueto relata ter sugerido a criação do Instituto de Planejamento Urbano "para pensar a Caxias do futuro", e a centralização das decisões no gabinete do prefeito:
— Um governo deve ter as decisões tomadas pelo gabinete, não vinculado a nenhuma secretaria. (...) As secretarias seriam apenas órgãos executores. Não acredito na descentralização, em que cada secretaria acaba sendo uma "prefeiturazinha", acho que não dá certo — defende.
Café para "esclarecer"
Adiló admite que houve um "mal-entendido" na questão da nomeação do cargo.
— A ideia dele era auxiliar o governo sem ser remunerado. Acho que houve uma falha de comunicação por não ter tempo necessário de sentar e conversar com ele, mas ele precisava ser lotado na prefeitura até para justificar ele estar usando uma sala, o telefone, daqui a pouco precisa chamar um carro, fazer essas reuniões com entidades. Legalmente, não tenho como manter uma pessoa interna sem estar registrado. Acho que houve essa falha, e não tive o cuidado necessário de combinar isso com ele — explica o prefeito.
Apesar do desencontro de ideias, Adiló ressalta ter Mansueto em boa estima e considerar o ex-prefeito um grande amigo.
— Independente de qualquer coisa, ele é meu amigo, tenho uma consideração muito grande. Nada vai mudar o conceito que tenho a respeito dele, como ex-prefeito, amigo, gestor. Tenho sempre recorrido às opiniões sábias dele e isso não vai mudar — garante.
Segundo o prefeito, nesta quinta-feira (28), ele deve se reunir para um "café" com Mansueto, no qual Adiló afirma que pretende esclarecer toda a situação e diz que espera convencer o ex-prefeito a voltar à função, embora ressalte que vai respeitar qual seja a decisão dele.
Mansueto, por sua vez, disse que dificilmente deve voltar atrás.
PSB tem críticos e nomeados
Enquanto o PSB usufrui de duas nomeações no governo _ a do ex-vereador Rodrigo Beltrão (PT), no Samae, e de Flávio Antonio Fernandes na Assessoria de Relações Comunitárias e Regional (antigo Orçamento Comunitário) —, na bipolaridade da outra ponta, dois críticos surgiram recentemente: o ex-vice-prefeito Elói Frizzo e o ex-vereador Alberto Meneguzzi.
Enquanto Meneguzzi fez críticas relativas às nomeações de cargos de confiança, Frizzo classificou como demagogia o anúncio de que o Samae não iria reajustar a tarifa de água, sequer com a reposição inflacionária e comparou a atitude de Adiló ao perfil do ex-prefeito Daniel Guerra (Republicanos).
Sobre as críticas acumuladas no primeiro mês de gestão, Adiló disse respeitar e reafirmar como inviável obter unanimidade ao seu governo.
— Nós vamos fazer o nosso trabalho da melhor forma possível e sempre dando satisfação à população. Não posso me pautar por uma ou outra crítica com ponto de vista pessoal. Vamos estar sempre muito abertos, francos mostrando com transparência os atos do governo. Jamais vamos conseguir unanimidade nas opiniões. A gente respeita as opiniões e o contraditório muitas vezes nos faz crescer e rever algumas posições — declarou.
Especificamente sobre a questão do Samae admitiu possível superficialidade na explicação dos motivos que levaram a administração a tomar a decisão:
— A questão do Samae está definida em função da crise, talvez faltou explicar um pouco melhor por que não reajustar a tarifa. Existia a cobrança de 50% para a tarifa social baseado no decreto de calamidade do governo federal, como esse decreto não foi reeditado, nós não podemos mais abonar 50%, então a saída de não reajustar minimiza um pouco o impacto a essa camada que tem tanta dificuldade de bancar as suas despesas.
O que disseram
"Demagogia barata e que retira (do Samae) a capacidade de investimentos altamente necessários. Muito ruim essa decisão, lembra as demagogias do prefeito cassado." ELÓI FRIZZO (PSB), ex-vice-prefeito, sobre o anúncio de que a tarifa da água não terá reajuste em 2021
"O Adiló dizia uma coisa na campanha. Na prática, todos aqueles que já estiveram em outros governos, aos poucos, entram no governo dele também. É mais do mesmo. É só acompanhar as nomeações da Câmara e da prefeitura. É a mesmice de sempre e seus grupos de poder." ALBERTO MENEGUZZI (PSB), ex-vereador, sobre nomeações de CCs pelo Governo Adiló
"Os conselhos que dei pra ele não foram aceitos nunca, ele tinha outras ideias. Ele tinha outros conselheiros acho mais importantes do que eu. Conselheiro que não tem os conselhos acatados não é conselheiro." MANSUETO SERAFINI, que não quis assumir a presidência do Conselho de Governança do Governo Adiló
O QUE DIZ O PREFEITO ADILÓ
"A questão do Samae está definida em função da crise, talvez faltou explicar um pouco melhor por que não reajustar a tarifa." Sobre o reajuste zero para a tarifa da água
"A ideia dele (Mansueto) era auxiliar o governo sem ser remunerado. Acho que houve uma falha de comunicação por não ter tempo necessário de sentar e conversar com ele. Legalmente, não tenho como manter uma pessoa interna sem estar registrado. Acho que houve essa falha, e não tive o cuidado necessário de combinar isso com ele." Sobre o cargo de Mansueto Serafini