A vice-prefeita Paula Ioris (PSDB) tem duas semanas no cargo. É início de trabalho de uma nova administração, e a fase é de planejamento, entendimento da estrutura, organização de trabalho e muitas nomeações. Paula detalha nesta entrevistas as primeiras tarefas, o direcionamento que está imprimindo à sua atuação, bem como a divisão de atribuições com o prefeito Adiló Didomenico (PSDB), as áreas e focos preferenciais de cada um. Também reflete sobre a cidade que quer deixar daqui quatro anos.
A entrevista foi feita quinta-feira (14), no início da tarde. Confira os principais trechos.
Já são duas semanas no cargo, qual percepção que se tem da prefeitura?
Esse momento inicial é todo ainda de organização. Fizemos nomeação do primeiro escalão, reuniões de organização, direcionamento em relação ao planejamento. Em relação ao planejamento, mostrar o que está sendo construído em termos de estrutura organizacional. Já está sendo articulada a primeira reunião por dimensões, que é como estamos nos organizando: a dimensão social, a dimensão econômica, planejamento urbano e serviços públicos. Neste momento inicial, ainda é todo de organização, agora tem todo um trabalho em cima do segundo e terceiro escalão. Aí senta com cada secretário, vê as nomeações nas áreas e aí vai colhendo demanda. Diria que ainda é fase de bastante planejamento. O prefeito me coloca bem claro, até quando perguntavam se eu ia assumir alguma secretaria, eu dizia que não, é uma visão do todo, vendo as nomeações, organizando por assuntos transversais.
Mas do que já deu para perceber, é uma "bronca" maior do que esperava ou está dentro da expectativa?
Os pontos de fragilidade que já conhecíamos agora começamos a projetar cenários, a própria questão do Faps (déficit previdenciário bilionário do fundo de aposentadoria dos servidores), já conversamos com o presidente do Ipam (Instituto de Previdência e Assistência Municipal), sindicato, identificamos alternativas que não tínhamos conhecimento. Então, começamos a trabalhar em cima dos assuntos, mas dizer que estamos tendo surpresas, que não esperávamos, não. A gente só vê que de fato são coisas já conhecidas que temos de enfrentar.
Qual visão efetiva da atribuição que você tem do cargo? Como pretende atuar como vice?
Da forma que eu estou fazendo: o tempo inteiro interagindo com os secretários, montando as equipes, dando diretrizes em relação ao funcionamento de equipe.
O prefeito Adiló disse que ele tem mais o perfil "da rua", enquanto você faria mais esse trabalho de gabinete. Você se vê como uma pessoa mais de gabinete, de fato?
Eu posso ir para a rua. Eu diria que infraestrutura, obras, quem sabe mais o que tem para resolver é mais o Adiló. Ele é muito bom nisso, é resolutivo. Já eu sento com pessoal da saúde, os temas mais do eixo social, eu me sinto muito mais à vontade, e ele mais de infraestrutura. Planejamento a gente senta e vê junto. Nós estamos trabalhando de uma forma muito integrada, alinhamos cada situação, tanto da agenda, quanto do plano de governo, eu fico com algumas pautas. A gente trabalha junto. Se bate agenda dele, eu participo de eventos que o Adiló não pode. As nomeações de pessoas, o pessoal está interagindo comigo, eu que estou tratando com os secretários, são coisas que alinhamos antes. O Adiló é mais envolvido com infraestrutura, serviços públicos e eu, pela minha trajetória, é saúde, segurança... esses assuntos tenho um direcionamento maior. Saúde, social e educação são pautas que tenho atendido mais. Está muito bacana, é um compartilhamento muito tranquilo, a gente alinha, tem dúvidas, falamos um com outro, realinhamos...
A função do vice recebeu muito destaque nos últimos anos. Tem-se o risco daqueles dois polos, do vice decorativo e do vice inconveniente. Acha que é momento de mostrar que vice pode ter uma função de fato útil administrativa?
Com certeza, talvez até em nível de Constituição nós tínhamos algo simplório, 'o vice substitui o prefeito ou presidente', enfim, não é o que temos visto. O papel do vice já foi bem destacado, tanto em impeachments quanto agora, o Mourão (vice-presidente), por exemplo, tem um papel importante, tem pessoas que confiam até mais no Mourão do que no (presidente Jair) Bolsonaro, tem se dado um enorme destaque à Kamala Harris nos Estados Unidos (vice-presidente de Joe Biden), ela não surgiu para ser vice decorativa. E eu vejo que, numa administração de uma cidade do tamanho da nossa, tem trabalho para os dois, e quanto mais sintonia os dois tiverem, melhor, senão começam os conflitos por aí. Nós temos pensamentos nem sempre iguais e formações diferentes, mas a gente usa para construir, a gente se complementa, não disputamos. Temos clareza total, quando vem uma demanda até mim, eu digo minha opinião, mas para bater o martelo vamos falar com o prefeito. Eu tenho clareza que o papel do prefeito tem poder decisório, mas eu influencio muito, tenho esse espaço. E isso foi alinhado desde o início, desde que ele me convidou para ser vice-prefeita.
Quais maiores desafios que identifica na prefeitura e como gostaria de entregar a administração daqui quatro anos?
Com uma estrutura bem organizada, produtiva, que tenhamos de fato uma visão de longo prazo em tudo que fizermos, todas as atitudes têm de ser para o bem da cidade, com planejamento, diagnóstico. O transporte público, por exemplo, por que Caxias tem esse problema? Não temos plano de mobilidade urbana, quantas vezes já venceu o prazo que o governo federal nos deu? Então, essa falta de planejamento estoura em problemas como os que a gente tem. Pouco hábito do uso de transporte coletivo, reduz o número de passageiros, aumenta a passagem. A visão de que gratuidade é de direito de alguns, só que todos pagam. O governo que eu gostaria de entregar é com muito olhar no foco dos problemas para construir soluções duradouras, que as pessoas compreendam a complexidade e ajudem a resolver e não vire somente discussões politiqueiras.
Você disse que tem mais proximidade com a pauta social. Quais são os principais problemas sociais de Caxias na sua visão?
O nosso grande desafio é o cuidado com nossos jovens, temos um problema de evasão escolar muito alto, e o jovem fora da escola é um problema grave e que acaba muitas vezes com índice de escolaridade baixo, aí é ruim para o mercado de trabalho, e cria o risco do envolvimento com drogas. Temos clareza de que, quando vemos os jovens internados num Case (Centro de Atendimento Socioeducativo), é por falta de escolaridade, então a evasão é uma questão a ser atacada, e por todo eixo social. Temos um problema do envelhecimento da população, e temos de ter idosos com qualidade de vida, atuantes, propiciar políticas públicas que tornem idosos autônomos. Mais a questão da população de rua, as recicladoras, então, a pandemia vem e piora uma série de coisas. Mas a saúde, quando falamos em atendimento hospitalar, claro, a falta de leitos de antes da pandemia era grave, trabalhávamos com número de leitos de UTI muito defasado, mas precisamos ter cada vez mais no município a cultura da prevenção. Quando a gente fala de leito hospitalar, fila de consulta, falamos da saúde secundária e terciária, e isso já é doença. Precisamos trabalhar mais na atenção básica, na prevenção. Se temos uma cidade que privilegia a caminhada, temos uma cidade com menos obesos, é toda uma sistemática que se complementa. O social não é só falar de morador de rua e assistencialismo, o eixo social na nossa dimensão social tem saúde, educação, segurança pública e proteção social, cultura, turismo e a FAS (Fundação de Assistência Social). Essa gente está trabalhando conjuntamente com transversalidade. Temos de fazer busca ativa por crianças que precisam de vagas nas escolas, quem sabe a mãe que está trabalhando e precisa de vaga? A UBS sabe, pois essas famílias vão na UBS.
Pretende concorrer a deputada ou garante que vai permanecer como vice até fim do mandato?
Eu pretendo continuar no mandato. Acho que tem muito a fazer nesses quatro anos. É meu plano hoje, nunca pensei diferente disso, tem muito trabalho a ser feito, assumi esse compromisso junto com o Adiló e penso que aqui é meu caminho. Agora dizer que eu garanto que não saio, aí eu não sei, pois não sei o que pode acontecer, mas a minha perspectiva e a forma como eu me organizo é de cumprir esse mandato e fazer muito bem feito esses quatro anos.
Segundo e terceiro escalão então está sob seu controle e do prefeito Adiló. Qual critério para escolha desses cargos?
A gente tem de considerar, temos olhado pessoas que participaram conosco da eleição, primeiro suplente e tal, tem, sem dúvida, dentro desse mapeamento muitas pessoas com perfil político, mas a gente está procurando colocar de uma forma que a experiência dessa pessoa tenha afinidade com o que ela vai fazer.