Ao transitar pelo centro de Caxias, Estela Balardin (PT), 21 anos, é frequentemente reconhecida e abordada com entusiasmo pela população. Desde a noite de domingo, ela tem dedicado boa parte do seu tempo para agradecer as parabenizações que recebe por ter conquistado uma das 23 vagas da Câmara Municipal de Vereadores. Não bastasse o feito, ela se tornou a pessoa mais jovem eleita na história do Legislativo caxiense.
Jovem negra e moradora de bairro periférico, o Serrano, Estela é professora dos anos iniciais da rede pública e foi uma das surpresas do pleito municipal, especialmente por representar uma nova geração de representatividade num contexto em que partidos têm dificuldades em renovar seus quadros políticos.
Apesar da pouca idade, entretanto, experiência política não falta na vida de Estela, que desde os 15 anos se envolve com movimentos estudantis, tendo sido presidente do grêmio estudantil do Cristóvão de Mendoza (participou das ocupações de 2016) e, em 2018, presidente da União Caxiense de Estudantes Secundaristas (UCES). O envolvimento partidário começou em 2017, quando Estela conheceu o Partido dos Trabalhadores e passou a integrar o movimento jovem da legenda.
— Começamos a perceber que fazia tempo que não tínhamos uma representação jovem nessa disputa institucional, que a gente precisava fazer esse debate. Por ter apoio desse pessoal e saber da importância disso, acabei topando concorrer — relata.
Apesar da disposição, ter sido eleita na primeira disputa que participou surpreendeu até mesmo Estela.
— A gente planta e não tem controle do que vai colher. Foi só quando saiu o resultado de verdade no domingo, lá pelas 23h30min, que eu confirmei que tem mais gente que pensa como nós, que quer mais representatividade dentro da Câmara. Caxias do Sul, que é uma cidade que tem seus padrões, tem suas características, apostou em algo diferente e isso é grande demais — exalta.
E da sua origem e formação, afirma que pretende buscar a inspiração para atuar na Câmara:
— Política para mim se faz com participação popular, assim que eu aprendi a fazer política e assim quero continuar. Vou estar presente nos bairros para ser a ponte das demandas das pessoas para dentro do Executivo, a ponte de cobrança e de diálogo. As pessoas têm muitas necessidades e quem sabe elas é quem está no dia a dia dos bairros.
Estela também reafirma compromissos prioritários com educação e que vai lutar pela juventude, por mulheres, negros e negras.
Representação da diversidade
Outra aspecto que destaca é a representatividade que exerce por ser negra, jovem e de periferia:
— Temos como um dos suplentes do nosso partido uma mulher trans (Cléo Araújo), é a primeira mulher trans eleita na nossa cidade. E ter isso numa cidade como Caxias, que é uma cidade com um pé um pouco mais conservador, é lindo. Eleger uma mulher jovem, negra e de periferia demonstra uma esperança de que há muito a ser trabalhado, mas que não vamos trabalhar sozinhos.
Inspiração que vem de casa
Ainda antes de se envolver com movimentos estudantis, a própria vivência em família proporcionou à Estela entender a importância social da política institucional.
— Meu avô, desde que eu era muito pequeninha, tinha uns três anos, me levava no Orçamento Participativo com ele, na votação. Ele sempre me falava que não tinha calçamento no bairro (Serrano), não tinha escola e depois passaram a ter. Com isso, aos poucos, eu fui entendendo as coisas — conta.
Ela própria reconhece que foi através de política social que sua formação foi beneficiada por política social.
— Como meus pais trabalharam muito, minha mãe tinha 15 anos quando eu nasci e meu pai 19, eu não tinha onde ficar no turno inverso da escola. Então, eu fazia centro educativo (atual Centro de Referência de Assistência Social - CRAS), que era um projeto social muito importante na nossa cidade. Fiz isso dos 6 aos 14 anos, por isso entendo como esse tipo de política é importante na vida do jovem — afirma.
Aos pais também atribui a sua maior inspiração.
— Meus pais batalham muito. Ambos fazem um trabalho que é invisível aos olhos da sociedade, mas que é de extrema importância. O meu pai é artesão e a minha mãe recicladora. Mesmo recebendo às vezes olhares tortos, meus pais sempre mantiveram a cabeça erguida e me fizeram manter a cabeça erguida acima de todos os preconceitos. Por isso, muito do que eu tenho de força e de garra dentro de mim vem deles.
QUEM É
Perfil: 21 anos, professora dos anos iniciais. Estudante de Serviço Social na UCS.
Trajetória: foi presidente do grêmio estudantil do Instituto Cristóvão de Mendoza e presidente da União Caxiense de Estudantes Secundaristas (UCES).
Referências: Manuela D'Ávila, Pepe Vargas, Nelson Mandela, Lenin, Rosa Luxemburgo
Pessoal: se define como "utópica e sonhadora", gosta muito de música, de comer, praia, natureza e cuidar das plantas. É moradora do bairro Serrano.
AS PROPOSTAS
Estela Balardin destaca o que pretende priorizar em seu mandato:
Principais bandeiras
"Irei lutar pelas mulheres, negros e negras, pela juventude, principalmente a periférica, descentralização da cultura e pela educação pública de qualidade, que foi onde eu comecei e onde sempre estarei presente."
Juventude
"Quero tentar resgatar maior representatividade da Coordenadoria Municipal da Juventude. Também quero estimular o resgate com maior efetividade dos projetos sociais como centros educativos em bairros."
Proteção à mulher
"A rede de proteção à mulher precisa de uma atenção especial urgente. Infelizmente, de um tempo para cá, os casos de feminicídio e de violência contra a mulher começaram a aumentar e a rede enfraquecer.