Antes mesmo do resultado da eleição em Caxias do Sul, o porto alegrense Renato Nunes (PL) já entrou para a história. É o primeiro pastor a concorrer à prefeitura da cidade. Na linguagem bíblica o pastor recebe uma unção, ou seja, uma marca que é também o reconhecimento de sua autoridade espiritual. Mas, para além do cargo, a Sagrada Escritura diz que há uma responsabilidade a quem recebe a unção. No livro Atos dos Apóstolos diz: "Cuidem de vocês mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo os designou como bispos, para pastorearem a igreja de Deus, que ele comprou com o seu próprio sangue".
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Renato recebeu a unção pastoral na adolescência, aos 17 anos. Mesmo jovem, carregava na bagagem uma experiência muito grande, principalmente no que se refere ao cuidado de pessoas. É que, desde os sete, quando os pais se separaram, coube ao menino Renato ficar com o pai, Ananias Soares Nunes, e cuidar dele.
— Nossa vida sempre foi muito difícil, porque meu pai tinha problema com a bebida. Vi minha mãe sofrendo muito. Eu não tive uma infância legal, não tenho lembrança de brincar. A partir dos sete anos, eu fazia comida, lavava roupa, arrumava a casa, estudava e ia para o trabalho com meu pai — recorda Renato Nunes, 47 anos, que diz ter cuidado do pai até sua morte.
Cansado de sofrer, o jovem Renato resolveu buscar paz em uma igreja evangélica. Na época, ele ainda morava junto do pai, em Porto Alegre. Mas, depois de conhecer a Jesus, de encontrar conforto e acolhida, Renato lembra que o pai o proibiu de frequentar a igreja.
— Então, fiquei uma semana sem ir à igreja. O pessoal sentiu a minha falta e no final de semana seguinte, todos eles, do grupo de jovens, cerca de 60 pessoas, bateram lá em casa. Quando eu saí na porta, eles cantaram uma música pra mim. Lembro até hoje que música era: "Jovem seja bem-vindo, sua presença é um prazer. A galera Universal ama você" — recorda Renato, cantando o trecho da canção evangelística.
Ao final do louvor, os jovens abraçaram Renato e o seu pai. Depois desse dia, seu Ananias nunca mais proibiu o filho a frequentar a igreja.
— Meu pai nunca foi à igreja. Ele se convertei no final da vida. Ele teve um câncer, que fez ele sofrer bastante. E quem cuidou dele? A família. Era ele e nós, sofrendo juntos, por um ano e meio, até ele morrer. Mas antes de falecer, ele se rendeu a Cristo. Meu pai morreu dia 14 de abril de 2014. Ele se arrependeu dos seus pecados e entregou sua vida para Deus — diz Renato, com o semblante de quem tem cumprido a sua missão na terra, de pregar as boas novas aos contritos de coração.
Na igreja, Renato diz que conheceu a Deus como um pai.
— Eu senti amor, paz de espírito, uma alegria que eu nunca tinha sentido. Porque Deus é vivo, ele é maravilhoso. Deus é espírito e verdade. Eu sinto Deus falando comigo no meu coração. Deus me mostra o caminho. Deus é o meu pai — reconhece.
Foi também na igreja que Renato conheceu sua esposa, Crys Nunes, atualmente com 47 anos. Se conheceram, namoraram, noivaram e casaram conforme os preceitos bíblicos, inclusive no que diz respeito à relação sexual, que ocorreu apenas após o matrimônio.
— Quando tivemos a primeira conversa, eu disse que estava gostando dela. Então oramos para saber se o namoro era mesmo de Deus. Quando sentimos que era de Deus, fui falar com os pais dela para pedir permissão para namorar. Quase dois anos depois, noivamos. Namoramos direitinho, sem passar do limite, não fizemos nada antes do tempo — ensina o pastor.
EXÉRCITO DE CRISTO
Renato casou-se com Crys aos 21 anos. Mas antes disso, entre os 17 e 18 anos, já havia sido consagrado pastor. A unção pastoral ocorreu como uma confirmação dos planos de Deus para a vida do jovem Renato, que naquela altura desejava seguir carreira militar.
— Eu queria servir o exército como estava fazendo um grande amigo de infância, o Claiton, que atualmente está aposentado. Eu me alistei, disse que gostaria de servir, mas não entrei por excesso de contingente. Foi a minha segunda maior decepção da vida. A primeira tinha sido a separação dos meus pais — recorda.
Chateado, Renato foi à igreja. Enquanto ouvia a pregação do pastor, entendeu a mensagem como um sinal de Deus para a sua vida.
— O pastor pregava algo assim: "Deus está levantando um exército de Cristo. Você que vai servir no exército de Cristo...". Na hora, eu entendi a mensagem. Já que eu não havia conseguido servir no exército do homem, eu iria servir no exército de Cristo. Eu pensei: "Vou sair pela cidade pregando a Palavra de Deus" — recorda.
ENTRADA NA POLÍTICA
Dos 17 ao 30 anos, Renato manteve-se cumprindo o ministério de Cristo, evangelizando, pregando, pastoreando, cuidando do rebanho que o Senhor lhe entregava em mãos. Até que, em meados de 2003, foi enviado para Caxias, a fim de ser um dos pastores do templo da Igreja Universal, na Sinimbu.
— Em 2008, estavam buscando um nome para ser candidato a vereador na eleição de 2008 e acabei sendo escolhido. Eu nunca tinha sido filiado a partido nenhum e nem participado da política. Então, me filiei, concorri e fui eleito — lembra.
Foi um tempo de muito aprendizado, reconhece Renato.
— Nos primeiros meses, eu não falava nada. Eu não sabia o que era oposição e situação —diz.
O PIOR DA POLÍTICA
Em cerca de uma hora de entrevista, Renato não se esquivou de temas delicados da sua vida pessoal tampouco sobre os bastidores do impeachment do então prefeito Daniel Guerra (Republicanos). Por um momento, após o impeachment pensou em abandonar a política, por tristeza e desgosto e desacreditar na política. O pior lado da política, para Renato é justamente a falta se senso coletivo, em detrimento do individualismo.
O MELHOR DA POLÍTICA
Pergunto a Renato por que continuar na política, apensar de tantas decepções?
— O que me faz permanecer é o que eu chamo de "a resistência do bem". Cada pessoa de Deus, do bem, que está na política é menos um corrupto — afirma.
Além disso, Renato explica que aceitou o desafio de concorrer à prefeitura por atender a um chamado de Deus.
— Tem uma coisa interessante que é ligada ao meu nome. Renato quer dizer "renascido". Quando eles pensam que me matam eu ressurjo das cinzas. Eu creio em um Deus vivo e poderoso, que fala com a gente. Essa candidatura é um chamado pra mim. Quem quiser acreditar, que acredite. Atendi a esse chamado, como o maior desafio da minha vida. Temos poucos recursos, eu sou o marqueteiro, o presidente do partido, o candidato, o cara que grava e edita os vídeos e trato das imagens — conta.
DESAFIO COMO PREFEITO
Renato entende que a sociedade está desmobilizada e Caxias precisa de um prefeito com condições de aglutinar forças.
— Meu maior desafio é chegar no segundo turno e vencer. Passada essa fase, com a permissão de Deus e, o voto das pessoas, tenho certeza que será o governo mais tranquilo de todos os candidatos. Eu sou um cara agregador, pacificador e sou um cara de diálogo — defende.
Para o candidato, além das diferenças partidárias, é preciso pensar na cidade, em primeiro lugar. Ousado, promete escolher os melhores, independentemente da linha ideológica.
— Nosso secretariado vai ser montado com o melhor que temos em Caxias, em cada uma das áreas. Se o melhor nome que tivermos para a área da saúde, por exemplo, for do PT, não tem problema. Ou ainda, se o melhor nome da educação for do PDT, não tem problema. Serão convidados a trabalhar por Caxias.
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