Candidato do Republicanos, Júlio César Freitas da Rosa foi o quinto candidato a ser ouvido pela Rádio Gaúcha Serra dentro da série de entrevistas com os postulantes ao cargo de prefeito de Caxias do Sul. Em 20 minutos, o ex-chefe de Gabinete e ex-secretário da Saúde durante o governo de Daniel Guerra respondeu perguntas sobre pandemia, aeroporto de Vila Oliva e transporte coletivo urbano. Também falou sobre a postura que pretende adotar, se eleito, dando sequência ao governo interrompido pelo impeachment.
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A entrevista foi ao ar durante o programa Gaúcha Atualidade na manhã desta sexta-feira (30) e foi conduzida pelos jornalistas Tales Armiliato e Babiana Mugnol. Confira:
Qual o seu projeto para enfrentamento da pandemia em Caxias do Sul?
Nosso plano de governo para a área da saúde é realmente fazer o enfrentamento da pandemia como até hoje não foi feito. Caxias recebeu R$ 66 milhões do governo federal e, por declarações do seu atual secretário da Saúde, foi aplicado em torno de 11% desse valor. Ou a gente prioriza a saúde da população, como nós priorizamos nos três anos de governo da administração do prefeito Daniel Guerra, ou a gente fica só num discurso vazio e quem paga com isso é a população, os nossos empresários, os nossos empreendedores. Em Caxias, desde que pandemia chegou não se teve uma barreira sanitária instalada nas entradas e saídas do nosso município. Não houve testagem em massa da população. Não houve a separação e o controle de grupo de risco, ao menos os grupos de risco dentro dos serviços do município. Nem os nossos funcionários da área da saúde recebem testagem ou muito menos até EPIs. O nosso enfrentamento à covid é realmente tratar a pandemia com a seriedade que merece e investir recursos para que a gente possa definitivamente ter o controle dessa pandemia até que nós tenhamos a distribuição das vacinas para a população.
O senhor foi escolhido pelo ex-prefeito Daniel Guerra para ser o candidato pelo Republicanos. O seu vice, Chico Guerra, também foi escolhido pelo irmão. O senhor concorda com tudo o que o ex-prefeito fez? Qual será o seu papel e o papel do ex-prefeito caso o senhor seja eleito?
O meu papel é ser prefeito. A população me elegendo, tenho que ser prefeito por quatro anos, esse é o meu papel. O prefeito Daniel Guerra foi um governo de quebra de paradigmas. Se nós compararmos tudo o que fizemos em três anos, de 2017 a 2019, não há comparação com nossos adversários que já estiveram na prefeitura em qualquer cargo. Nós abrimos duas UPAs de nível 3 em três anos de governo. Não conheço outro município no Brasil que em três anos de governo tenha aberto duas UPAs de nível 3. Nós cortamos 50% dos CCs, economizando R$ 50 milhões em três anos. Nós diminuímos o déficit da educação infantil, de 7,5 mil vagas de zero a cinco anos para 2 mil vagas em três anos de governo. Nós fizemos o aumento zero da água entre os anos de 2018 e 2019. Nós realmente administramos o município para a população. Nós ficamos sempre ao lado do usuário do transporte coletivo e não ao lado da concessionária que explora esse serviço há mais de 20 anos. Ou seja, nós fizemos em três anos de governo aquilo que os nossos antecessores não fizeram em oito, não fizeram em 12. E isso fez com que nós sofrêssemos um processo de impeachment totalmente absurdo, ilegal e imoral. Tiraram um prefeito com 66% dos votos da população, a maior votação da história de Caxias, tiraram porque tinham certeza que o prefeito Daniel Guerra estaria reeleito nesta eleição. A indicação do meu nome e o do vereador Chico Guerra para compor a chapa nada mais é do que duas pessoas que estiveram tanto na chefia de Gabinete, eu estive por dois anos e o Chico em 2019, nós temos o conhecimento da realidade financeira do município, dos grandes gargalos, dos grandes desafios. Isso nos credenciou. Além disso, fui secretário da Saúde em 2019, que é a maior secretaria, o maior orçamento, o maior desafio que temos em Caxias que é cuidar da saúde pública de uma população de mais de 500 mil habitantes.
A falta de diálogo é apontada como uma das principais razões para o impeachment. O eleitor que votar no senhor deve esperar uma postura semelhante ou diferente da de Guerra?
Acho importante essa pergunta porque me dá a oportunidade de falar com a população. O prefeito Daniel Guerra foi o único prefeito que eu tenho conhecimento que tenha pego o secretariado e, através do gabinete itinerante, foi lá conversar diretamente com as comunidades, foi ouvir as demandas da comunidade, foi dizer o que podia ser feito e se podia ser feito, quando começaria a obra, quando terminaria. E se não podia ser feito, explicava por que não dava para ser feito. Isso é uma comunicação direta com a comunidade. Agora, o diálogo que dizem que o prefeito não tinha... o prefeito recebeu, por exemplo, a CIC várias vezes, a UAB várias vezes, vereadores várias vezes. Qual o diálogo que se quer? É o diálogo que quando tu vem com uma demanda e tu diz: "Olha, não posso atender, porque não tenho dinheiro, porque tenho que priorizar saúde, educação e segurança. Não posso atender porque é ilegal, imoral. Não posso porque tecnicamente é impossível." Se isso é falta de diálogo, não sei o que que é. Esse diálogo que todas as candidaturas andam falando, à exceção da nossa, esse diálogo tem pesado no bolso da população, esse diálogo está fazendo mal à população, esse diálogo não cuidou da saúde na pandemia, esse diálogo deixou subir a tarifa da água em 4,76%, esse diálogo cancelou a licitação que iríamos quebrar o monopólio da Visate e aumentou a tarifa de R$ 4,25 para R$ 4,65, quando a nossa licitação dizia que era no máximo R$ 4,20, tinha quatro empresas interessadas. Este é o diálogo que se estabeleceu em Caxias, o diálogo do jeitinho, o diálogo daqueles que pensaram em se beneficiar do serviço público em detrimento de toda a população. Esse diálogo com a gente vai continuar não tendo.
O senhor fala em relacionamento com a população, mas a pergunta era na linha de relacionamento dentro da Câmara e com entidades. Qual vai ser a sua postura em relação a isso?
Primeiro, tenho a certeza absoluta de que a população fará uma transformação e uma renovação muito forte no Legislativo, porque não se tem na história de Caxias um Legislativo tão inoperante, tão ineficiente e tão gastador sem ter o retorno para a população. É um Legislativo que precisa urgentemente ser renovado, e o que a população entendeu e está entendendo é que não adianta escolher um projeto de cidade como escolheu em 2016 e não acompanhar com vereadores que tenham o mesmo pensamento. Se não tivermos o entendimento da população de que tem que votar no prefeito que entende que é o melhor projeto e votar com vereadores alinhados com aquele projeto, vai acontecer essa bofetada que foi dada na cara de mais de 148,5 mil eleitores. A nossa relação com a Câmara será de independência entre os poderes, de respeito, agora, de muita sinceridade. Não vamos fazer da prefeitura, como alguns governos entendem fazer, e nesse diálogo a prefeitura vira um balcão de negociação para vereadores, para espaço de cargos. Isso não haverá. A relação será muito clara e objetiva. Nós temos um projeto de cidade e, se a população entender que é o melhor, nós vamos implementar de qualquer forma, e a Câmara tem que entender o sentimento que vem das urnas.
Qual seria a grande realização ao final do mandato, caso seja eleito?
A grande realização é aquela que o nosso governo conseguiu tirar do papel, que vinha sendo um desejo da população de Caxias há mais de 20 anos. Nós vamos tirar o aeroporto de Vila Oliva do papel. Nós vamos construir. Se não conseguirmos construir em quatro anos, tenho certeza que deixaremos muito bem encaminhado porque nós temos a credibilidade em falar do aeroporto. Em dezembro de 2019, prefeito Daniel Guerra conseguiu R$ 200 milhões, e não vamos ter que devolver um centavo para o governo federal. Vamos mudar a matriz econômica de Caxias e da região com o aeroporto. Perdemos até hoje 11 meses em 2020 porque não avançamos em absolutamente nada. Inclusive, com dinheiro em caixa para o financiamento de R$ 30 milhões que nós viabilizamos para a desapropriação das terras que era uma promessa desde o governo do PT, do governo estadual do Tarso Genro, do governo do MDB, do ex-governador e ex-prefeito Sartori e do atual governador Eduardo Leite, que só prometeram e enganaram a população caxiense, dizendo que iriam auxiliar nas desapropriações. Então, será o grande marco para a economia de Caxias, para a geração de emprego, para nos recuperarmos com relação aos efeitos da pandemia.
Mas como prometer algo que não depende exclusivamente da prefeitura? E irão viabilizar de que forma a administração desse aeroporto?
Mas nós não dependemos mais do Governo do Estado. Nós aprovamos um projeto de lei na Câmara para que pudéssemos buscar financiamento na Caixa de R$ 30 milhões para as desapropriações. Isso já está garantido. O governo ilegítimo que está aí que não avançou um passo nesse sentido. Com relação aos R$ 200 milhões, também estão garantidos, se o governo ilegítimo e incompetente que está na prefeitura hoje não perder, porque o ministro (da Economia) Paulo Guedes já tem se manifestado em querer desvincular e utilizar os recursos que estão no Fundo Nacional da Aviação. Se nós temos o dinheiro para a construção, temos a terra, temos dinheiro para a desapropriação, agora é arregaçar as mangas e trabalhar. Não dependemos de mais ninguém, dependemos só de nós para fazer.
Durante a campanha, chegou usar a expressão "Lava-Jato na Visate", foi uma promessa de Daniel Guerra em 2016. Como será o transporte público na sua gestão?
Prefeito Daniel Guerra não fez nenhuma promessa de campanha, ele assumiu compromissos com a população. E um dos compromissos era estar ao lado do usuário do transporte e não ao lado da Visate. A Lava-Jato que tu falou, nós temos três ações tramitando na Justiça com reajuste de tarifas da empresa Visate contra o município. Nessas ações, foi determinada pela Justiça uma perícia judicial. Aí está a Lava-Jato e estamos aguardando que a Justiça se manifeste. É inadmissível que uma empresa que compra muito mais diesel que a nossa Codeca, tem uma frota de ônibus muito maior que a de caminhões da Codeca, compra diesel mais caro que a Codeca. Essa caixa-preta da Visate tem que ser aberta. Esperamos que essa perícia judicial faça com que os números venham à tona e a população perceba o quanto mantém um serviço ineficiente e caro. Não admitimos que esse governo ilegítimo, sem voto, faça a licitação do transporte para os próximos 20 anos. Eles não têm voto, não têm moral para isso. Somos contra essa licitação fajuta que estão fazendo e entendemos que está sendo feita sob medida para a empresa concessionária. Nós vamos fazer a quebra do monopólio, é inadmissível uma população com mais de 500 mil habitantes ter uma única empresa. Municípios muito menores têm mais de uma empresa e nós sabemos que isso é lucrativo, porque nós tínhamos uma licitação com quatro interessadas. O valor máximo ia baixar para R$ 4,20. Uma matéria do jornal Zero Hora de 12 de maio de 2014, que o título é "Empresas de ônibus de Porto Alegre fizeram transações irregulares", fala da troca de comando acionário da Autoviação Navegantes em 2006. Em 2006, a Visate já explorava há alguns anos o transporte em Caxias. Segue a matéria: Esse modelo de negócios deveria resultar em extinção da permissão realizada sem o conhecimento ou concordância da empresa pública de circulação e transporte em setembro daquele ano, a transação transferiu o controle da Navegantes para um grupo formado pela Sociedade de Ônibus (Sogil) e pela Viação Santa Tereza, a Visate. Ou seja, em 2006, o proprietário da Sogil e da Visate é a mesma pessoa, é o seu Sérgio Tadeu Pereira. Eles compraram o controle acionário da Navegantes, em Porto Alegre. Quem bancou essa compra pela Visate? Foi a população de Caxias com a alta tarifa. Isso é inadmissível, e hoje vejo candidatos se posicionando, dizendo que não fizeram quando estiveram no governo e dizendo que vão fazer daqui a quatro anos, que a passagem pode baixar para R$ 3,50. Por que não aceitou a nossa licitação que era R$ 4,20? Esse negócio é tão lucrativo que o usuário de Caxias bancou a compra da Navegantes em Porto Alegre. Então, não me venham falar em não ter quebra de monopólio, em tarifa acima de R$ 4,65 e muito menos, em momento de pandemia e de recessão, em subsídio. Dinheiro público colocado para bancar transporte coletivo. Falta verba para educação, saúde e segurança. Isso é falta de respeito com a população.
Festa da Uva: quais os planos para o evento e também a estrutura física dos Pavilhões?
Nós tivemos uma reunião logo no início da campanha com a presidente da comissão comunitária, Sandra Randon, e vamos manter a mesma linha que tivemos de 2017 a 2019. Todos os eventos festivos têm que ser autossustentáveis, nós não vamos colocar dinheiro público, principalmente em uma época de recessão em festas como Carnaval, rodeios, inclusive a própria Festa da Uva. Ela tem que ser autossustentável, tem que conseguir receita que banque suas despesas. Com relação à infraestrutura nos Pavilhões, o nosso plano de governo prevê a possibilidade de trabalharmos um parceria público-privada desde que esteja muito bem amarrado, que as contrapartidas sejam interessantes para o município e para a população. Nós recebemos os Pavilhões com um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) assinado pela antiga gestão, onde um candidato se diz orgulhoso de ter sido presidente da Festa da Uva. Sinceramente, eu me sentiria envergonhado pela situação precária daquele espaço. Tinha um TAC assinado pelo Ministério Público Federal para fazer toda a questão de acessibilidade e fazer o Plano de Prevenção Contra Incêndio. Assinaram e não fizeram, quem fez fomos nós.
Ouça a entrevista: