Pioneiro, Gaúcha Serra e pioneiro.com dão continuidade à série de oito reportagens que apresentam temas que são as maiores preocupações de eleitores entrevistados em pesquisa da RBS. Dois especialistas opinam sobre as possibilidades para melhorar a mobilidade urbana em Caxias do Sul. Confira:
Walter Cruz, engenheiro industrial e professor da FSG
VISÃO HOLÍSTICA
"Mobilidade urbana não é só ônibus, tem relação com vários modais. Mobilidade urbana tem que tratar do pedestre, do patinete elétrico, da bicicleta, da motocicleta, de automóveis, de vans, de micro-ônibus, de ônibus padrão, articulados, biarticulados, metrôs. No nosso caso, não temos metrô. Tudo isso deve ser tratado individualmente e no conjunto. Como eu, como pedestre, posso me movimentar de forma adequada? Preciso de calçadas, de estrutura. Nós precisamos muito mais de área de transporte de pessoas por bicicleta."
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MAIS ESPAÇO PARA O ÔNIBUS
"Caxias tem que ter mais corredores e mais estações de integração. Tem que ter uma na Zona Norte e outra na Zona Sul. Quando o sistema foi implantado em Caxias (o SIM), a conversão à direita foi proibida por uma razão técnica, que era facilitar que os ônibus trafegassem em seus corredores em velocidade mais alta. Antes de começar, Caxias tinha uma velocidade de 12 quilômetros por hora na região central. Quando o sistema foi implantado, em 2016, Caxias alcançou quase 22 quilômetros. Isso significa que as pessoas chegam mais rápido aos seus destinos. O fato de ter sido retirado aquele corredor auxiliar de ultrapassagem de ônibus também fez com que a velocidade média diminuísse. O ônibus fica parado atrás do outro esperando, não consegue ultrapassar em função da quantidade de carros. Eu sugeriria, como técnico no assunto, implantar aquela ideia (do SIM)."
MUITO CARRO
"Caxias tem 520 mil habitantes e 320 mil veículos. É um índice muito grande. Temos 1 veículo para cada 1,6 pessoa. As pessoas se movimentam basicamente de automóvel. No passado, a gente entrava na Pinheiro (Machado) e na Sinimbu e, em horário de pico, tinha muito carro, mas nos outros horários não tinha tanto carro. Hoje não tem horário, porque as pessoas estão se movimentando mais de carro, é mais fácil. Se tem um sistema de ônibus bem feito, as pessoas usam. Acho que a gente não pode só falar de mobilidade urbana, eu gosto de falar de mobilidade humana. Ou seja, a cidade tem que ser mais humana, tem que ser mais para as suas pessoas e, para isso, tem que facilitar a vida das pessoas."
MAIS ÔNIBUS
"Evidentemente que o número de ônibus é importante. Tem que ser muito bem avaliado, porque os ônibus não estão cem por cento circulando todo o momento. Nos horários de pico, entram mais ônibus e nos horários de menos movimento, saem ônibus do sistema. O grande motivo dos atrasos dos ônibus está ligado ao fato de que os ônibus perderam velocidade. Perdendo velocidade, ele não consegue cumprir horário. O sistema precisa ser repensado, Caxias precisa de mais ônibus, Caxias cresceu demais. É um estudo que precisa ser feito para dar mais conforto, as pessoas não podem ficar andando amontoadas, ainda mais agora, porque elas desistem do sistema."
GRATUIDADES
"Um grande problema (para o alto preço da tarifa) é a gratuidade. Vou dar um exemplo: eu tenho 63 anos. Se eu for pegar o ônibus, eu poderia ter uma carteirinha, mas eu não tenho e não vou ter, porque acho que mais pessoas precisam. Eu não preciso, não vou ter. Tem que ter uma tarifa social, realmente avaliada para pessoas que necessitam. É o que eu penso. É um assunto polêmico."
Tiago Fiamenghi, co-fundador do projeto Vivacidade
ÚNICO MODAL
"Acho que o principal problema da mobilidade do Brasil como um todo, mas especificamente de Caxias do Sul, é que hoje a gente detém praticamente 100% da nossa mobilidade urbana sobre o modal rodoviário, que são carros, automóveis, ônibus, motos. A estrutura viária de Caxias é pensada, planejada e incentivada para que se tenha cada vez mais o uso de veículos automotores. A falta de opções complementares é o principal problema de Caxias."
INCENTIVO AO USO DO CARRO
"O principal problema é que a gente tem um grande incentivo ao uso do automóvel. Toda vez que a gente vê projetos de alargamento de vias ou de retirada de estacionamento, não é para aumentar calçada, mas para aumentar via de carros, o asfaltamento de vias, a manutenção constante de vias, a iluminação de vias rodoviárias. Isso é um chamado para que eu e todo mundo entendamos que o carro é o principal veículo. Entendo que a gente não incentiva outros modais, como bicicleta, VLT ou qualquer outro tipo de modal."
FALTA DE ENTENDIMENTO
"O que falta é uma visão mais completa do que é mobilidade urbana. Existe um relatório que mede o índice de walkability, que é o índice de caminhabilidade das principais cidades do mundo. E a mobilidade do caminhante também deveria ser considerada, porque a gente caminha muito, mas a gente não tem o mesmo cuidado com calçadas que a gente tem com as vias. Caxias não é uma cidade caminhável pelo descaso que a gente vê nas calçadas e até mesmo pelo fato de cada vez mais alargarmos as vias para dar prioridade aos carros."
PLANO DE CIDADE
"A gente precisa de técnicos conduzindo esse trabalho (de elaboração de um plano de mobilidade), mas que esses técnicos tenham ouvidos para os usuários, que esses técnicos estejam na rua e entendam o funcionamento urbano. O que falta é não um plano de governo, mas de cidade, porque a gente corre o risco, ao fazer um plano de governo de mobilidade, entrar uma gestão que não compactua do plano e, do dia para a noite, interromper o projeto, que foi o que aconteceu nas últimas eleições. Todo o investimento feito no SIM Caxias foi desfeito logo no primeiro dia da nova gestão. E isso não é uma crítica à gestão A ou B, é só uma amostra de que Caxias não tem um plano de mobilidade enquanto cidade."
GRANDE LABORATÓRIO
"Nós temos em Caxias duas grandes empresas que trabalham como mobilidade, a Randon e a Marcopolo, que poderiam olhar para Caxias como um grande laboratório de protótipos de novas e melhores tecnologias. A gente fala de VLT, a própria Marcopolo investindo bastante em ônibus elétricos, a Randon investindo em vagões, em trens, tudo isso para fora daqui. Caxias, muitas vezes, acaba não se beneficiando de uma inteligência daqui."
A reportagem também ouviu usuários do transporte coletivo urbano de Caxias do Sul e perguntou: o que o futuro prefeito pode fazer para melhorar o trânsito e o transporte em Caxias do Sul? Veja as respostas:
"Primeiro, a pandemia tem que acabar. Os horários estão diferentes por causa da pandemia. Não tem aulas e reduziram as linhas." Milton Fadanelli, 65, aposentado
"Tenho três horas de intervalo e fico duas no trânsito. Já estava ruim antes, com a pandemia piorou. Precisa de mais horários, mais linhas." Valdirene Gonçalves Correa, 29, açougueira
"Não moro em Caxias já há 11 anos e achei boa essa evolução das estações. Se puder ampliar para outras áreas da cidade, seria bem legal." Paulo Renato Machado Silveira, 32, microempresário (mora em Florianópolis e veio ver a mãe)
"Às vezes, fico 30 minutos esperando ônibus. O intervalo entre um e outro é muito grande. Pego mais de um ônibus e os horários não batem." Cleusa Mantovani, 48, doméstica
"Tem pouco ônibus, o tempo de espera é grande. Do Centro até a EPI, é rápido, mas na EPI chego a esperar 25 minutos." Ruan Leite, 26, montador de quadro elétrico