Nesta segunda-feira, completaram-se 100 dias do impeachment do ex-prefeito de Caxias do Sul, Daniel Guerra (Republicanos). Desde a votação em dezembro, na Câmara de Vereadores, Guerra sumiu do radar de visão do cenário político da cidade. Isso, no entanto, não significa que deixou de participar da articulação do seu partido, o Republicanos, para as eleições deste ano. Pelo contrário, de acordo com o presidente municipal da legenda, Júlio César Freitas da Rosa, Guerra é o protagonista e a principal inspiração para o partido disputar a majoritária.
Segundo ele, a legenda atualmente trabalha com duas frentes: a que defende judicialmente a restituição de Guerra ao cargo de prefeito e a de organização do partido para o pleito. Caso Guerra consiga reverter a situação e voltar à prefeitura, ele seria o candidato natural do partido nas eleições. Entretanto, caso permaneça inelegível, o Republicanos buscará outro nome.
— O partido, na sua organização, tem uma participação completamente ativa do prefeito Daniel Guerra, que nos orienta com a forma e os cuidados que temos de ter para nos apresentarmos à população. Falo com ele praticamente todos os dias, e não é somente eu. Ele guarda sentimento de injustiça pelo que fizeram com ele, mas não se lamenta, busca os caminhos judiciais para reverter isso. E caso não se reverta, ele é o primeiro da fila a nos ajudar na organização para retomarmos a prefeitura pela porta da frente, através do voto popular - diz Júlio.
O discurso que reconhece a possibilidade de Guerra estar impedido de concorrer diferencia das primeiras reações após a cassação, quando o partido desconsiderava o planejamento sem o nome de Guerra como potencial candidato.
— Tem de ser uma pessoa que tenha os mesmos princípios e a mesma retidão com a coisa pública. E esse nome obviamente terá de ter o total apoio e aval do prefeito Daniel Guerra — declara.
Ele reitera a fidelidade com o denominado (no período de campanha) "projeto de cidade" como a principal diretriz do partido para as eleições.
— O que queremos apresentar para a população de Caxias do Sul é uma continuidade —ressalta.
NA JUSTIÇA
Atualmente, a defesa de Guerra tenta recorrer judicialmente das decisões que respaldaram o afastamento do cargo. Não há nenhuma decisão recente sobre a Ação Anulatória do Processo de Impeachment. No Superior Tribunal de Justiça (STJ), houve em fevereiro o arquivamento de ação ingressada em dezembro pela defesa do ex-prefeito. Já no Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RS) não haverá movimentação pelo menos até 30 de abril, uma vez os prazos judiciais estão suspensos em razão do coronavírus.
Na segunda-feira (30), o Supremo Tribunal Federal (STF) publicou decisão declarando improcedente o pedido de anulação de suspensão do processo de cassação. Na reclamação constitucional, a defesa do prefeito alegava que houve irregularidade no processo de encaminhamento do impeachment. Segundo a ação, não havia legalidade no adiamento da leitura da denúncia, como ocorreu na apresentação do pedido de impeachment na Câmara de Vereadores. A sentença é assinada pelo ministro Luiz Fux.
A reportagem tentou contato com o ex-prefeito, mas foi informada que ele só deve se manifestar quando houver decisão judicial definitiva sobre o caso.
De 7 a 10 ex-secretários para a Câmara
No embate político, o Governo Guerra não teve forças para superar uma maioria opositora na Câmara de Vereadores. A base formada apenas por dois parlamentares (Elisandro Fiuza/Republicanos e Renato Nunes/PL, ou PR, na ocasião), mostrou-se insuficiente numericamente, tanto no que diz respeito à proeminência de discursos no parlamento quanto nas votações. A experiência serviu de lição e, para a próxima eleição, o partido dedica atenção especial à nominata de candidatos a vereador.
— Temos de buscar obviamente, sim, cada vez mais o aumento da base de apoio do governo (de Guerra) na Câmara. Mas essa base tem de se estabelecer de forma muito clara. Não focada em loteamentos de cargos. Não há crime nenhum que algum vereador venha indicar algum nome ou fazer parte de uma administração, mas isso tem de ser baseado em cima de ideias e princípios comuns — defende Júlio.
Com o fim da janela próximo (encerra-se em 4 de abril), o presidente do Republicanos ressalta que o partido já está com a nominata praticamente completa. Como já havia revelado anteriormente, parte da nominata será composta por ex-integrantes do Governo Guerra. Pelo menos sete nomes já estariam confirmados, segundo Júlio, que prefere não relevá-los, pois devem ser oficializados apenas em agosto, na convenção do partido.
— Hoje tenho sete ou oito, podendo chegar a nove ou a 10 secretários de Daniel Guerra — salienta.
A ORGANIZAÇÃO DO PARTIDO
O presidente do Republicanos caxiense, Júlio César Freitas, revelou a condução dos preparativos do partido para as eleições municipais. Confira:
Ingressos negados
"Tivemos solicitações de ingresso que, pelo histórico, não aceitamos. Eram pessoas que em determinados momentos tiveram cargos em alguns órgãos ou organizações da cidade e que buscam espaço para concorrer, e nós deixamos claro que temos princípios claros e, quem não estiver dentro disso, não pode ser republicano e nem candidato a vereador representando os três anos da administração de Daniel Guerra e o que pensamos para a cidade. Oportunistas de ocasião que querem buscar legenda não têm espaço aqui (no Republicanos). "
Alinhamento com Bolsonaro
"Entendemos que somos uma proposta de governo de cidade muito alinhada como nós temos também no presidente (Jair) Bolsonaro com relação ao interesse da população e a negação dos partidos políticos. Os partidos são apenas instrumentos para que pessoas possam se candidatar e colocar em prática os seus planos de governo, plataformas de governo. Mas entendemos que o partido é o meio, não o fim. O fim é o interesse público."
Caxias é prioridade
"É uma determinação da nacional do Republicanos que os municípios tenham candidatos à majoritária, e Caxias do Sul, em nível nacional, é a segunda cidade mais estratégica do partido no país. A primeira é o Rio de Janeiro com o prefeito Marcelo Crivella e a segunda, Caxias, pela sua representação no cenário no RS e no Brasil."
Coligar com quem
"Tivemos alguns contatos de partidos querendo conversar conosco. A questão é que o (ex-)prefeito (Daniel Guerra) ganhou eleição com três partidos pequenos, mas uma proposta muito sólida. Estamos abertos ao diálogo com qualquer agremiação que tenha a mesma ideia de administrar Caxias do Sul. Infelizmente, hoje, se olharmos para Caxias, não sobra praticamente ninguém para estar com a gente. Todas as pré-candidaturas hoje representam tudo que Caxias do Sul negou nas urnas em outubro de 2016. O que vamos apresentar é um projeto aprovado nas urnas. Não estou batendo o martelo, mas provavelmente estaremos nas eleições sozinhos."
Falta de diálogo
"Qual outra proposta de governo ou outro governo pegou toda uma equipe de secretariado e levou para conversar com cada cidadão de Caxias do Sul? Foi a nossa, com o nosso gabinete itinerante. . O prefeito Daniel Guerra dizia "isso pode'' ou ''isso não pode, porque..." O que diziam sobre a nossa administração era porque o nosso prefeito não recebia determinados setores da comunidade. Muitas vezes esses mesmos setores, vereadores, representantes da CIC, UAB, foram recebidos pelo prefeito, mas acontece que as pessoas têm a mania de dizer que não tem diálogo quando a administração pública não faz o que eles querem. A continuação do projeto Daniel Guerra, com o prefeito ou quem quer que seja, terá diálogo franco, de respeito e direto com a população. Não haverá diálogo de jeitinho, de acomodação."
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