O prefeito de Farroupilha, Claiton Gonçalves (PDT), disse nesta segunda-feira (9) que acredita que os vereadores o manterão no cargo ao fim dos dois processos de impeachment que tramitam na Câmara. Em coletiva de imprensa, ele voltou a se defender das acusações que embasam os pedidos de cassação. Garantiu ainda que não gerou prejuízo financeiro ao município:
— Eu confio muito nos vereadores. Cada um dos vereadores tem um trabalho honesto e leal junto à comunidade. Os vereadores ouvem a comunidade, os vereadores ouvem as pessoas, e eu confio muito que esse grupo de vereadores vá dizer que o prefeito não deve ser impeachmado, não deve ser colocado na vala comum do impeachment, que é a vala dos corruptos, daqueles que se apropriam de dinheiro público, daqueles que têm vantagem pessoal, daqueles que fazem negócio com a política pública, com o dinheiro público. Eu imagino que os vereadores não entendam isso do seu prefeito.
Ao lado do vice-prefeito, Pedro Pedrozo (PSB), Claiton anunciou que sairá em uma licença saúde por tempo indeterminado a partir de quarta-feira (11). O prefeito terá de fazer uma biópsia no estômago. Apesar da condição de saúde ser apontada como a principal para o afastamento, o chefe do Executivo admitiu que a defesa nos dois processos também colaborou para a decisão de deixar o cargo temporariamente.
Além disso, Claiton considera que, ao se afastar, abre caminho para aprovação de projetos de lei junto à Câmara de Vereadores. A proposta destacada por ele é a reforma administrativa, que deverá ser encaminhada ao Legislativo. Segundo o prefeito, a ideia é reduzir de 32 para 20 o número de faixas de Cargos em Comissão (CCs) e cortar em 30% os salários. Com isso, de acordo com ele, a economia anual seria de R$ 3,5 milhões.
A mudança passaria a vigorar no ano que vem, após a troca de governo. Conforme o prefeito, a decisão de adiar a reforma para após a saída da administração dele leva em consideração a prerrogativa legal de que ninguém pode ter o salário reduzido enquanto exerce a função ou ser demitido e recontratado com uma remuneração menor.
— É novo governo, novas pessoas, não tem relação com esse governo. Quer dizer, não tem impacto trabalhista.
Leia mais
OAB propõe novo pedido de impeachment contra prefeito de Farroupilha
Prefeito de Farroupilha volta atrás sobre compras de terrenos e plataforma de saúde
Alvo de processos de impeachment, prefeito de Farroupilha vai se afastar do cargo
As causas centrais do pedido de impeachment
Alvo de processo de impeachment, prefeito de Farroupilha volta atrás e nega possibilidade de renúncia
Processos em tramitação
Claiton Gonçalves é alvo de dois pedidos de impeachment, ambos em tramitação na Câmara de Vereadores. O primeiro, assinado pelo empresário Glacir Gomes, foi acolhido, por nove votos a cinco, em 17 de fevereiro. O segundo, de autoria da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio Grande do Sul, foi protocolado na segunda-feira passada (1) e acolhido por unanimidade.
Dois itens das denúncias coincidem: a abertura de crédito suplementar por decreto para a compra de quatro terrenos para a Secretaria da Saúde e a aquisição das áreas de terras sem autorização do Legislativo. O prefeito diz que seguiu as leis federal e estadual, ao invés da municipal que exige a tramitação na Câmara. Claiton afirma ainda que novos recursos não previstos entraram no caixa municipal e, por isso, atualizou de R$ 10 mil para R$ 890 mil o valor no orçamento destinado para aquisição de bens para a área da saúde.
O processo proposto pela OAB tem ainda outros dois pontos. Um deles diz respeito, de acordo com a denúncia, à nomeação de um fiscal municipal para atuar em função privativa de advogado — Gelso Priotto assumiu a Procuradoria Geral do Município (PGM) sem se exonerar do outro cargo, conforme a OAB. Ele foi afastado da PGM antes da admissibilidade do pedido assinado por Gomes. O prefeito disse, nesta segunda-feira, que entende que Priotto deve responder à OAB, mas que, ao convidá-lo para ser procurador, acreditou que ele havia avaliado as regras da profissão que exerce.
O quarto item do pedido da OAB é o entendimento de que houve quebra de decoro por parte do prefeito ao reagir a questionamento feito por 15 entidades do município à aquisição de um software para a área da saúde. Ao abordar o assunto em uma rádio local, o prefeito falou um palavrão. Sobre esse assunto, Claiton admitiu que a colocação foi mal feita. Justificou que a própria condição de saúde, "o estômago ardendo", e o entendimento de que falava-se mal da cidade provocaram a reação.