Em outubro de 2019, após conceder entrevista ao Pioneiro, o então vereador Elói Frizzo (PSB) questionou de forma sugestiva: "você não vai perguntar se eu vou ser candidato a prefeito?" Soava como brincadeira, porém, pouco mais de dois meses depois, Frizzo, de fato, se apresentaria como candidato à prefeitura, como vice de Flavio Cassina (PTB). Sem disputa, a dupla foi eleita facilmente com apoio de 19 dos 23 vereadores. Mesmo que a intenção fosse de fato concorrer na disputa para prefeito na eleição municipal, o cenário se embaralhou, segundo o próprio vice eleito:
— Nunca esteve no meu horizonte a necessidade de ser prefeito. O homem e as suas circunstâncias.
Aos 64 anos, Frizzo começou a se envolver com política logo cedo, de forma indireta, ainda aos 15 anos. Foi eleito parlamentar em Caxias em 1982, pelo então PMDB, aos 27 anos. Entre idas e vindas, já acumula seis mandatos como vereador, rodou por cinco partidos (PMDB, PCdoB, PDT, PT, PPS) até chegar ao PSB, pelo qual exerceu os últimos três mandatos (2005-2019).
Antes de se tornar oposição e principal articulador do impeachment do ex-prefeito de Daniel Guerra (Republicanos), Frizzo foi situação. Durante os mandatos como vereador nos últimos 14 anos ocupou cargos no Executivo. Integrou o primeiro escalão dos governos Pepe Vargas (PT), José Ivo Sartori (PMDB) e Alceu Barbosa Velho (PDT), governos que defende com afinco.
— A motivação principal para eu aceitar ser vice foi para conhecer o caos que estava instalado na prefeitura de Caxias do Sul e eu, conhecendo as outras administrações, as belas administrações que tivemos do Sartori, Alceu e Pepe, pude perceber o contraste. Precisávamos resgatar a cidade para a cidadania. Vivemos três anos de isolamento de Caxias do Sul de todo mundo — afirma.
Embora reitere estar à disposição plena de Cassina, a verdade é que Elói Frizzo possui, implicitamente, a prerrogativa por ter sido o "maestro" do impeachment. Foi somente quando Frizzo assumiu a "defesa" das denúncias contra Guerra que a cassação progrediu dentro do Legislativo. As oposições pontuais do agora vice-prefeito reverberaram na Câmara e ganharam adeptos até a consolidação do impedimento de Guerra.
— Frizzo é quem tem maior experiência pública, disparado — mencionou Cassina após a posse.
A influência que Frizzo exerce sobre os demais vereadores, assim como a ampla experiência nas relações institucionais que envolvem o poder público fizeram ressaltar o rumor de que a prefeitura seria, na verdade, comandada por ele. O socialista nega e garante lealdade a Cassina.
— O Cassina é uma pessoa muito inteligente, muito justo e ponderado. Se alguém tentar me colocar contra o prefeito, não vai conseguir. Em nenhum momento vou ser um desafeto . Somos acima de tudo pessoas adultas. Temos opiniões eventualmente diferentes, mas as nossas opiniões mais nos unificam do que separam. Formamos uma dupla talhada para este momento que a vida nos colocou.
Ainda assim, afirma como condicional para si mesmo não ser "vice decorativo".
— Única função que um vice não pode ter é decorativa. O resto tem de ser parceiro. Minha postura será leal para com o prefeito. Naquilo que ele me acionar eu vou ser parceiro — garante.
Vice decorativo
Tornar-se "vice decorativo" foi um dos estopins para a relação conflituosa entre o ex-prefeito Daniel Guerra e seu vice (nêmesis e autor do processo de cassação), Ricardo Fabris de Abreu (sem partido), que reivindicava assumir uma pasta do Executivo, a da Segurança Pública, o que foi negado por Guerra. Desta vez, entretanto, Frizzo tem não só a autorização de Cassina para comandar uma secretaria como também "pode escolher", conforme afirmou o próprio prefeito após a posse.
_ Já fui secretário do Meio Ambiente, de Urbanismo, diretor do Samae. Então, onde o prefeito me escalar, não tem conversa. Mas eu me adequaria melhor nessa área que lida com planejamento, com pensar a cidade. Mas onde ele me escalar sou parceiro. Na verdade, essa questão de eu assumir o cargo é para me colocar à disposição, que meu cargo não seja só para, eventualmente, substituir o prefeito. Que o vice seja parte integrante do governo, isso é fundamental.
A diferença Bolsonaro
No salão nobre da prefeitura, a dúvida entre manter ou não o quadro do presidente Jair Bolsonaro na parede é um simples impasse que simboliza a diferença ideológica entre ambos, negada por Frizzo.
— O trabalhismo está muito próximo do socialismo democrático que eu defendo, então, não tem muita distância. Além disso, temos em comum o nosso amor pelo Esporte Clube Juventude (risos) — brinca.
Por diversas ocasiões, Frizzo classificou Daniel Guerra como "o pior prefeito da história". Mantém o discurso e se refere a ele como acidente da natureza. Em tempos de hostilidade no debate político e uma cidade incendiada pelas divergências, Frizzo parece não tão disposto a apaziguar os humores. Logo ao assumir, disse que acusações de golpe eram "choro de perdedor".
— Não fiz provocação nenhuma, eles respondem pelos seus atos. Eu disse que, se eles vão na frente da Casa da Cultura com nariz de palhaço, se eles acham isso, problema é deles. Só fiz uma constatação.
Cassina e Frizzo terão menos de um ano de administração. Frizzo negou que não houvesse programa de governo logo antes de assumir. Ainda assim, nenhum programa foi apresentado formalmente desde a apresentação da chapa. Os companheiros de chapa alegam saber "mais o que não fazer do que sobre o que fazer" com base na experiência de acompanhar o que foi feito pelo governo cassado. Ainda assim, sobre como pretende entregar a prefeitura em 31 de dezembro de 2020, Frizzo é categórico:
— Queremos entregar a prefeitura zerada para a próxima administração, com o orçamento equilibrado, programas em execução e planejamento consolidado.
No tempo que antecedeu a eleição indireta, Elói Frizzo garantiu que não deveria concorrer à prefeitura, caso assumisse como vice-prefeito. Em discurso após eleito, Cassina foi além e sugeriu que a governança do Executivo poderia significar o encerramento da carreira política para ambos. Usou a expressão "fim de carreira". Também ressaltou que, portanto, nenhum dos dois deve interferir na eleição de prefeito em outubro. Frizzo admite que é bem provável que represente de fato o fim de sua trajetória na vida pública. Mas e se a experiência no Executivo for boa, considera voltar a concorrer eventualmente?
— É que nem o Sartori fala: "Se não devo dizer que sim, não preciso dizer que não" (risos) — responde.
O perfil
Idade: 64 anos.
Origem: Canela (RS).
Estado civil: casado.
Filhos: 1.
Cargo: vice-prefeito
Trajetória
:: Formado em Direito e pós-graduado em História.
:: Já presidiu o Conselho Deliberativo da Federação Rio-Grandense de Associações de Bairros e a Liga Carnavalesca de Caxias do Sul.
:: Integra a Executiva Estadual do Partido Socialista Brasileiro (PSB).
:: Secretário de Desenvolvimento Urbano entre 1997 e 1999, no primeiro governo de Pepe Vargas
:: Secretário do Meio Ambiente entre 2001 e 2002 e diretor do Samae entre 2003 e 2004, no segundo governo de Pepe.
:: Secretário de Obras na primeira metade de 2005, no governo de José Ivo Sartori.
:: Diretor do Samae entre 2009 e 2012, no governo de Alceu Barbosa Velho.
:: Vereador por seis mandatos (um como suplente), presidiu o Legislativo caxiense em 2008 e 2009. Reeleito para o quinto em 2012, com 2.372 votos, licenciou-se da Câmara para assumir como diretor-presidente do Samae, onde ficou até o final de março de 2016.
:: Foi o 10º vereador mais votado nas eleições de 2016 com 2.718 votos.
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