O prefeito de Farroupilha, Claiton Gonçalves (PDT), usou uma expressão de baixo calão para demonstrar sua indignação contra supostas fake news que estariam sendo divulgadas sobre o novo software de gestão da saúde municipal. O descontrole aconteceu durante o programa Fim de Expediente, da Rádio Spaço FM, na quarta-feira. O apresentador Rogério Portolan perguntou ao Chefe do Executivo se ele estava indignado ou brabo. Claiton respondeu: “não estou nem indignado e nem brabo. Eu quero que quem fique mentindo e fazendo politicagem que vá à m...”.
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Em nota divulgada na manhã de ontem pela prefeitura, Claiton pediu desculpas “pelo uso da expressão coloquial”.
– Não podemos mais admitir que mentiras sejam ditas para atacar minha pessoa e a todos que trabalham para o bem da população farroupilhense –afirmou.
No final da manhã de ontem, o prefeito reuniu entidades e imprensa para apresentar a plataforma de saúde. Antes do início do evento, Claiton justificou que seu destempero na emissora de rádio aconteceu devido a um encontro com o presidente da República, Jair Bolsonaro, no final de 2019, conhecido por seus ataques a adversários políticos:
– Depois da minha visita, da minha estada com o presidente Jair Messias Bolsonaro, fiquei um pouco porco nas palavras. Eu tive uma conversa muito boa com ele (Bolsonaro), e ele é muito aberto, fala muita porcaria também e não admite algumas coisas. E eu sou meio sanguinário. Se alguém se sentiu ofendido é por que está mentindo contra o produto.
Em entrevista coletiva, o prefeito foi questionado se estava arrependido de ter mandado entidades e opositores à “m...”.
– Eu não mandei entidades a esse lugar. O que eu mandei foram as pessoas que estavam falando mentiras, são só para essas pessoas. Cada um sabe o que falou de inverdade. Cada um que ponha a mão na consciência e veja o que falou e o que reproduziu sobre o assunto plataforma de saúde – justificou, sem dar nomes de quem teria produzido as fake news sobre a plataforma de saúde.
“PROJETO PILOTO”
Ontem, 15 entidades empresariais e da sociedade civil entregaram a Claiton um documento solicitando o cancelamento da contratação do software e a realização de nova licitação no mesmo modelo realizado por outros municípios.
O novo sistema custou R$ 3,3 milhões, porém a contrariedade ocorre com o serviço de implantação, assistência técnica e suporte no valor mensal de R$ 196 mil. O contrato tem vigência de 48 meses. O custo da plataforma será de R$ 12,7 milhões. As entidades apontam que a prefeitura gasta com o sistema atual R$ 23,5 mil por mês. A empresa vencedora da licitação é a Mais Vida Soluções em Saúde Eireli, que já trabalha na implantação do sistema. A prefeitura de Farroupilha projeta inaugurá-lo até o final de 2020.
Uma das entidades que se manifestou contrária à implantação foi a OAB de Farroupilha. Conforme o advogado e presidente da entidade, Mauricio Bianchi, o intuito era pedir o cancelamento deste contrato.
– Hoje (ontem) fizemos a entrega ao prefeito da nota de manifestação. O que surpreendeu as entidades é o gasto desproporcional. Talvez se nós contratássemos com esse valor que está sendo gasto para mais médicos, será que não seria um investimento melhor do que contratar um software para a gestão da saúde, ou uma plataforma no caso? Farroupilha é um projeto piloto de implantação, porque não podemos receber isso de graça? – questionou Bianchi.
O QUE DIZEM OS VEREADORES
O Pioneiro procurou os 15 vereadores de Farroupilha para ouvir a opinião sobre o valor pago pelo software e também sobre a manifestação do prefeito Claiton Gonçalves (PDT). Os vereadores Maria da Glória Menegotto (Rede), Tadeu Salib (PP), José Bellaver (MDB), Thiago Brunet e Deivid Argenta, ambos do PDT, não retornaram à solicitação.
"Apesar de todas as explicações a respeito do software da saúde, apesar do prefeito ter deixado entre linhas que não entendemos a grandeza do projeto, ou seja, questionou nossas inteligências, venho acompanhando esse projeto e comparando suas proposições com a nossa realidade e com a realidade de outras cidades. A população merece sim o que há de melhor, mas com certeza um projeto mais barato poderia também atender muito bem à comunidade. E quanto às palavras de baixo calão utilizadas pelo prefeito, só mostra o quanto ele se descontrolou. Isso não é uma ditadura. Ainda somos livres para protestar contra o que está errado." Eleonora Broilo (MDB)
"O valor desse software é muito alto no meu entender. A gente tem outras prioridades. A prioridade número um é o atendimento com médicos, atender com exames, com medicamentos, cirurgia. E o mais importante é ajudar o Hospital São Carlos. Não adianta a gente ter um belo de um programa e não ter um médico para atender a população. E a respeito do que o prefeito falou eu penso da seguinte forma: sou político e temos que aceitar as críticas da população, as sugestões, as demandas. Se a população está reclamando, ela tem razão." Fernando Silvestrin (PSB)
"Eu particularmente não compartilho esse tipo de linguajar. Se é pessoa pública tem que ter um certo cuidado. Na questão do software os vereadores foram pegos de surpresa. Para Farroupilha, esse é um dinheiro significativo. Não tenho como elaborar uma opinião mais formada por que preciso de mais informações (sobre o software)." Sandro Trevisan (PSB)
"O investimento na saúde é importante, mas tem que saber se o município tem condições financeiras de arcar com esses valores. Há uma demanda reprimida de cirurgias de alta complexidade e de consultas de algumas especialidades. Eu acredito que é muito caro o que foi pago. Sobre a manifestação do prefeito não concordo com a opinião dele a respeito das pessoas que estão questionando algo que foi pago com o dinheiro público. O respeito tem que partir de cima." Sedinei Catafesta (PSD)
"Quanto à manifestação do senhor prefeito não fiquei espantado, pois já conheço a prepotência e a arrogância do rei da corte. Quanto ao custo é só comparar com Bento, por exemplo, que tem um sistema que funciona com o dobro de usuários e de postos de saúde com um custo de R$ 60 mil para implantar e R$ 30 mil para manter. Gastar esse valor em um sistema é um absurdo, pois temos outras prioridades." Arielson Arsego (MDB)
"Na minha opinião é um valor muito elevado para as necessidades de Farroupilha. Também o pagamento de R$ 196 mil por mês é algo anormal se comparado com valores pagos por todas as cidades da nossa região. E se este valor fosse investido para zerar as filas de exames, consultas e cirurgias, eu tenho certeza que atenderia às necessidades da população. Quanto à reação desproporcional do prefeito, usando palavras de baixo nível, só tenho que lamentar o descontrole." Jorge Cenci (MDB)
"Fiquei conhecendo essa plataforma hoje (ontem) à tarde. O valor é um valor meio alto que se investe, mas quanto vale uma vida se for salva por esse novo sistema? E quanto a fala do prefeito tem um ditado que quem fala o que quer e ouve o que não quer. O prefeito falou ontem de uma forma meio exaltada, mas também temos o nosso presidente que é desse sistema meio bruto." Odair José Sobierai (PSB)
"Estudei o processo e encontrei alguns exageros. Um exemplo é a obrigatoriedade do aplicativo estar disponibilizado em inglês, francês e espanhol. Visitei prefeituras da região e presenciei bons sistemas com custo muito menor do que o pretendido para Farroupilha. Ouvi técnicos da área da saúde e da informática que relataram exageros no processo licitatório. Perguntar, questionar, avaliar não dá o direito de alguém que ocupe a cadeira de prefeito mandar qualquer pessoa ‘à m...’, como foi feito nesta semana por Claiton Gonçalves. Quem perde é a comunidade com uma postura tão lamentável." Jonas Tomazini (MDB)
"Precisamos buscar novas tecnologias para melhorar métodos e processos nos serviços apresentados à população; porém, acredito que é sempre possível fazer mais com menos, priorizando os serviços essenciais para a população e investindo o recurso público da forma mais eficiente possível. Em relação à manifestação do prefeito, ele mesmo já pediu desculpas publicamente pela expressão utilizada, através de nota de esclarecimento divulgada esta manhã (ontem)." Fabiano Piccoli (PT)
"Sobre o valor comparando com os municípios da região está fora da realidade os R$ 3,3 milhões mais os R$ 196 mil por mês. Quem tem a certeza que vai dar o resultado que estão falando já que esta plataforma da saúde instalada em Farroupilha vai ser a primeira do Brasil?" Kiko Paese (PP)
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