Ao Pioneiro, o embaixador Pedro Miguel da Costa e Silva, coordenador nacional do Mercosul, explicou o andamento dos trabalhos e o funcionamento da Cúpula do Mercosul. Confira:
Como funciona a dinâmica do Mercosul, no que consistem essas reuniões prévias?
Estamos trabalhando desde segunda-feira. O meu nível é de coordenadores nacionais, abaixo de mim tem série de outros órgãos, mas nós preparamos a reunião dos ministros e a dos presidentes. Chegamos acordos no nosso nível, por meio de grupos de trabalho, que são referendados pelos ministros e finalmente são apresentados aos presidentes. Se há algo a assinar, as assinaturas cabem aos presidentes, mas pode também ser feito pelos ministros, dependendo do assunto.
É reducionismo, mas a grosso modo, ministros e presidentes só assinam?
É difícil que os ministros não deem aval, pois eles estão cientes dos acordos. Mas há um ritual de apresentar aos ministros os resultados e eles aprovam. A nossa reunião é de negociação, a dos ministros já tem caráter mais políticos, em que são feitos discursos, apresentam as posições dos países, fazem avaliação do que foi semestre. A mesma coisa os presidentes, conforme sobe a hierarquia, as reuniões assumem caráter mais político.
Os cinco acordos (ver quadro) previamente divulgados foram o alicerce das negociações?
A negociação continua até o final. Já avançamos muito e neste momento (ontem à noite) temos praticamente todos os acordos fechados, com exceção de dois, mas são pequenos detalhes. Isso vamos negociar nas reuniões ministeriais para ver se conseguimos fechar para apresentar aos presidentes maior número de acordos possíveis. Os acordos de referentes a temas fronteiriços e o de facilitação de comércio são os que ainda estão em aberto.
Redução da tarifa externa comum (TEC), alguma chance de entrar em pauta?
Não, vamos apresentar relatório do trabalho realizado.
Acordo automotivo entre Paraguai e Brasil em negociação?
Estamos tentando fechar neste momento. É um tema complexo, mas estamos tentando fechar.
Politicamente, teremos duas transições de governo que serão drásticas. Argentina perde sintonia e Uruguai ganha mais compatibilidade política. Essas transições atrapalham a cúpula ou chegam a tirar relevância?
Não vejo assim. A sintonia nos termos econômicos e comerciais com governo do Uruguai foi muito boa, temos divergências nos temas políticos, mas isso não afetou, trabalhamos muito bem. No caso dos argentinos, teremos de ver o que o novo governo faz, mas conforme forem definidos, vamos nos reunir, sentar com eles. O governo do Uruguai continua em função até março, na Argentina está acabando, mas é oportunidade de celebrar os excelentes resultados. tem gente falando que é uma cúpula esvaziada, de fim de festa, mas os resultados do Mercosul são cumulativos e vamos trabalhar para dar mais encaminhamentos.
Ameaça de saída do Mercosul por parte do Brasil prejudica o clima de algum modo?
Não, de forma alguma, essa questão já foi esclarecida. As declarações foram dadas num contexto específico. Essa não é discussão para essa cúpula, é para o futuro. Estamos dispostos a sentar e trabalhar, estamos dispostos a trabalhar com novas autoridades argentinas, mas queremos Mercosul que funcione e atenda nossos interesses.