Em março deste ano, Ruy Irigaray (PSL), 36 anos, deixou o cargo de deputado estadual (para o qual teve a segunda maior votação no Estado — mais de 102 mil votos) para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Turismo do Rio Grande do Sul, a Sedetur.
Ao Pioneiro, ele falou das expectativas à frente da pasta e também tratou das polêmicas envolvendo o pedido de mudança de região turística de Caxias para as Hortênsias e da crise interna do PSL no Estado. Confira a entrevista:
Pioneiro: Quais expectativas que o senhor tem frente à secretaria?
Ruy Irigaray: Estamos promovendo toda a reestruturação da pasta. Havia projetos de 20 anos que não tinham mais sentido de existir, de situações que não eram de atribuição do Estado e eram conflitantes com Fiergs, Sebrae e outras entidades que têm capacidade técnica e financeira para tocarem. Também vou sugerir ao governador (Eduardo Leite, do PSDB) decretos para facilitar a vida de quem quer investir no Estado, para desburocratizar ainda mais nossa secretaria e órgãos de fiscalização que acabam atrapalhando os investimentos.
Funciona o diálogo entre os setores econômico e turístico nessa junção?
Foi o maior acerto do governador Eduardo Leite (PSDB). O turismo é a principal indústria do mundo. Gramado, Canela, Bento Gonçalves são exemplos de cidades que não quebram por causa do turismo. No contexto da nossa secretaria, é uma das prioridades.
O senhor considera o setor do turismo no RS consolidado o suficiente para ser quase autônomo?
O Estado pode auxiliar em algumas demandas importantes de cunho de divulgação nacional e internacional, junto às empresas de turismo e municípios. Estamos fazendo um papel importante agora que é parar de vender o Rio Grande do Sul como um lugar falido, quebrado. Sabemos dos problemas que o governo tem, mas, para quem está de fora, vendemos as coisas boas. Mostramos um ambiente favorável para investimentos, com fronteiras importantes, com empresas de importância nacional e internacional como Tramontina, Randon, Marcopolo, Grendene, etc.
O senhor acredita que a pasta tem, de fato, representatividade, considerando que há outras ligadas à questão econômica?
Nunca foi prioridade de nenhum dos governos, não é à toa que chegou nesta situação. Se fosse prioridade, o Estado não teria quase quebrado. Tem sido prioridade no Governo Eduardo Leite. Nós temos ido ao interior junto com secretarias vinculadas, BRDE, Badesul e Junta Comercial. Hoje nós temos créditos sobrando nos bancos. Podemos emprestar dinheiro. O Estado tem essa ferramenta que são os bancos de fomento e o empreendedor não sabe disso. Temos juros que chegam a ser negativos. Tenho juros para a área de turismo com dois anos de carência, 20 anos para pagar, com taxa de 7% ao ano. É um juro irrisório. Nós queremos emprestar dinheiro. Claro, não vamos fazer como fizemos no passado e emprestar dinheiro de forma irresponsável, mas temos dinheiro para emprestar para quem paga.
De que forma participa o Estado nesta questão envolvendo o pedido de Caxias em fazer parte da Região das Hortênsias?
Mais no aspecto burocrático, não participamos do debate. Eu jamais colocaria Caxias na região das Hortênsias, se eu fosse prefeito, eu lutaria para manter na Região Uva e Vinho. É um conceito econômico que traz mais benefícios, a marca "uva e vinho", o momento é dela. A Região das Hortênsias já é consolidada, não vejo muita proximidade com o público de Caxias.
Houve recepção negativa de alguns segmentos da cidade. A secretaria pode intervir de algum modo?
Preciso de um pedido do prefeito. É uma questão do município. Não posso intervir. Eu, particularmente, acho a ideia ruim.
Surgiram rumores de uma possível candidatura do senhor à prefeitura de Caxias. Existe essa possibilidade?
Não não, isso não vai acontecer. Apesar de ser muito grato pelos votos que fiz e de estar sempre na cidade para me reunir com empresários, não vai acontecer. Mas garanto que estamos discutindo um candidato para a cidade. Não temos certeza se teremos candidato a prefeito ou a vice. Estamos conversando com outros partidos que possamos apoiar. Mas certamente Caxias é uma das cidades que pretendemos dedicar atenção especial. Caxias e Porto Alegre são nossas prioridades. Temos que cuidar de Caxias melhor e, principalmente, garantir uma interlocução entre o prefeito com o governo federal. Isso é essencial para Caxias.
O senhor, na função de secretário, teve contato com prefeito de Caxias?
Nunca nos procurou, e todos os eventos que fizemos em Caxias, nunca compareceu. Não é por questão partidária que vou criticar qualquer função política, porém apoiamos quem têm capacidade técnica e política de gestão. É importante haver interlocução com governo federal e estadual. Ninguém perde nada, só ganha.
E as crises internas do partido, envolvendo especialmente os deputados (estadual) Luciano Zucco e (federal) Bibo Nunes?
Eu trouxe ao RS o vice-presidente nacional do PSL, Antonio de Rueda, para apaziguar os ânimos do partido, mas alguns deputados não quiseram compor. Infelizmente, o deputado Bibo Nunes tem uma atitude que realmente não é republicana, de tomar medidas impulsivas, de forma que o partido entende que não são atitudes de uma pessoa digna de ser presidente do PSL no Rio Grande do Sul.
Acha que é natural essa divisão?
Roupa suja se lava em casa. A gente tem de manter esses fatos dentro de casa. Infelizmente, os deputados Bibo Nunes e Zucco transcenderam as porteiras do partido e externaram problemas internos. Isso é muito ruim.