No último dia 2, Valdir Walter foi eleito pela quarta vez para a presidência da União das Associações de Bairros (UAB) de Caxias do Sul. Ele venceu o candidato de oposição Alaor Corrêa Barbosa e reassumirá oficialmente o cargo no dia 23 de junho.
Desta vez, Walter terá um mandato de quatro anos (até então, a duração era de dois anos). Até o fim da gestão, ele completará 10 anos à frente da entidade e mais de três décadas de envolvimento com o movimento comunitário. Segundo Walter, a ideia é se afastar após esse período:
– É minha última participação no movimento, quero viver um pouco. Movimento comunitário é muito estressante, tenho que dar um tempo para a vida – afirmou.
Como principal objetivo da nova gestão, Walter espera se aproximar da gestão pública. Apesar disso, ele não poupa críticas ao Governo Daniel Guerra (PRB) e não nega o desejo de que o atual prefeito não seja reeleito na próxima disputa eleitoral. Confira trechos da entrevista:
Qual objetivo dos próximos quatro anos frente à UAB?
A ideia é tentar reaproximar a entidade da prefeitura. Também queremos trabalhar com nossos presidentes para viabilizar um novo sistema que garanta a UAB caminhar com as próprias pernas. Aproximar alguns presidentes da entidade nas assembleias gerais. Pensamos em criar um valor para as Amobs participarem com a própria entidade (UAB), promovendo almoços ou eventos na própria comunidade. É mais fácil mobilizar a comunidade nos bairros.
O que mudou ao longo das suas quatro gestões?
Hoje o movimento comunitário está bem debilitado. O governo que entrou não entendeu o espírito do movimento. Não temos objetivo de atrapalhar, e sim ajudar a cidade. Com os outros governos, tínhamos parceria, a cidade andou. Muitas vezes sabemos que prefeitura não tem perna para chegar no bairro para verificar problemas considerados pequenos. Aí que entra o movimento comunitário. O prefeito não entendeu isso e excluiu o movimento comunitário, assim como os sociais. Espero que em 2020 consigamos colocar um prefeito que realmente esteja engajado com o povo.
Mas o que faz dessa relação tão complicada?
Está muito distante da realidade e da população. (O prefeito) não tem diálogo com o movimento comunitário, não tem diálogo com movimento nenhum. O movimento comunitário é uma mão de obra que o governo não precisa gastar nada. A primeira experiência negativa foi quando solicitamos uma reunião para tentar reaproximação. O prefeito nos recebeu e 15 dias depois ele pediu reintegração de posse de todos os centros comunitários. Foi uma facada nas costas. A única coisa que ganhávamos era passe livre, e ele tentou cortar as pernas do movimento comunitário, mas não conseguiu e não vai conseguir, porque pensamos no povo.
E como é a relação com a Coordenadoria de Relações Comunitárias?
A gente sabe que ela é fictícia. Não chegou a lugar nenhum. Foi esse tipo de atitude que fragilizou as entidades. Mas temos que ir em frente até 2020 e, em 2020, ajudar a eleger um prefeito que esteja realmente interessado na comunidade caxiense.
"Ajudar a eleger prefeito" não vai em encontro daquela crítica de que a UAB tem posicionamento político?
Não, não temos movimento político, a UAB é apartidária, mas podemos tensionar as nossas associações (de bairros) a colocar na cabeça da população que prefeito A, B ou C é melhor para a cidade. Mas a UAB não tem partido e não vai se envolver. Eu não tenho vínculo partidário. Era filiado ao PT, mas saí durante o primeiro pedido de impeachment do Guerra, quando eu prometi que se o PT votasse contra o impeachment eu sairia. E foi isso que aconteceu.
Qual a situação dos bairros de Caxias atualmente?
A situação está muito debilitada. Não conseguimos entrar de carro em alguns bairros, como o Monte Carmelo. A prefeitura uma vez ia patrolar de 15 a 20 dias, era o básico. Agora está abandonado. Muitos bairros com esgoto a céu aberto, canos quebrados. Muito difícil fazer trabalhos lá dentro.
Uma das alegações para a suspensão do passe livre era de que havia suposto mau uso. De fato isso ocorre?
Não, os nossos presidentes nunca utilizaram o passe livre com má intenção. Havia controle rigoroso do cartão, inclusive ia na Visate para monitorar isso. Dificilmente constatamos irregularidade. Eles usavam para fazer o seu trabalho. Se deslocar de um bairro como Esplanada até a Secretaria de Obras são quatro ônibus. As secretarias é que deveriam estar mais próximas. Espalharam elas para dificultar o trabalho da população e dos presidentes de bairros.
A UAB se posiciona como oposição ao prefeito?
Não, a gente discorda dos pensamentos e estilo de trabalho, mas, com a nova gestão (da UAB), faremos documento solicitando que o Guerra receba a entidade. Se receber os membros da entidade já está de bom tamanho. Mas nunca seremos oposição de prefeito nenhum, o que não concordamos é com a barbárie dos atos dele.
Qual a situação do processo de reintegração da sede da UAB?
Tivemos mais uma liminar favorável ao movimento comunitário, então estamos mais tranquilos.
Para quem o Daniel Guerra governa?
O Daniel Guerra não governa para ninguém. A partir do momento que é eleito, precisa se preocupar com a população, trazer empregos para a cidade. A própria CIC está insatisfeita. Ele está destruindo coisas que foram conquistadas. Dificilmente vai se reeleger. Como ele vai pedir votos nos bairros? Tem bairros que tenho certeza que ele sequer vai conseguir entrar.
Quais outras preocupações da UAB atualmente?
Logo haverá a grande discussão do transporte coletivo urbano. Com certeza a UAB estará engajada. Sabemos da grande importância que tem o transporte coletivo de Caxias. Dentro do Estado, (a Visate) é uma das concessionárias melhor estruturadas. Neste momento não podemos deixar cair a qualidade do transporte. O que tem de acontecer é a própria prefeitura começar a dar subsídios.
Você acha que ainda haverá a insistência do poder público em mudar a concessão do transporte?
Sim, ele se elegeu em cima disso. Também disse que ia baixar a passagem, mas já aumentou mais do que os outros prefeitos. Sem falar da dívida “monstra” que vai deixar na quebra de contrato com a Visate, esse processo vai explodir alguma hora.