Com pouco mais de 2,5 mil habitantes, a cidade de Nova Pádua ganhou projeção nacional após apresentar os maiores índices de votação no país a favor de Jair Bolsonaro (PSL) no segundo turno das eleições presidenciais.
Entre os 2.308 eleitores, 1.770 (92,96% dos votos válidos) optaram pelo então candidato do PSL, enquanto Fernando Haddad (PT) recebeu apenas 134 votos (ou 7,04%). No primeiro turno, a superioridade foi um pouco menor, mas ainda assim expressiva: Bolsonaro teve a preferência de 82,75% do eleitorado de Nova Pádua.
Seis meses depois do início do Governo Bolsonaro, que se completam neste domingo, a vivência voltou a ser a mesma. Nas ruas, todos se conhecem e confraternizam nos encontros na calmaria característica da cidade.
Na quinta-feira, a reportagem foi a Nova Pádua, e a maior parte dos moradores entrevistados reafirmou apoio a Bolsonaro, dizendo não estar arrependida. Das 10 pessoas que admitiram ter votado no presidente eleito, nove afirmaram que votariam e devem votar novamente nele, caso se candidate à reeleição em 2022.
— Estou achando bom até. Tem uns que estão contra, mas acho que temos de dar mais tempo para ele mostrar o trabalho, porque está sendo interrompido a todo momento pelos senadores e deputados. Mas acho que vai dar bom. Com certeza, votaria de novo. Ele é um cara honesto e está tentando colocar as coisas no lugar — avaliou a comerciante Adriana Sonda.
A dificuldade de relação entre o presidente e o Congresso é uma das principais frustrações de outros eleitores de Bolsonaro.
— Eu estou até satisfeito (com o governo), mas sabia que não ia ser fácil fazer mudanças. Não depende só dele. A burocracia e a oposição atrapalham. É sempre assim, a oposição parece que prefere que não andem as coisas. Sem contar os deputados e senadores, que pensam mais em benefício próprio — ressaltou o comerciante Nestor Alessi.
Apesar da rivalidade política instaurada em todo o país, Nova Pádua é um ambiente à parte, segundo a maioria dos relatos.
— Não mudou nada a relação dos moradores. É tranquilo, ninguém é diferenciado pelo voto. O debate é saudável, sem rancor, nem nada. No momento, cada um defende seu partido, depois todos seguimos para um lado só _ avalia o comerciante Inácio Sonda.
Nem todos aprovam
Alguns moradores de Nova Pádua lamentam o andamento do governo.
— Sempre fui PT, mas desta vez votei no Bolsonaro. Por enquanto, não está muito bom. Desta vez, os pobres vão pagar o pato. Ele não tem capacidade de administrar o país. Sempre fui doente do PT e votaria de novo se o Lula voltasse, mas com essas confusões de ladroeira, desisti para ver se mudava alguma coisa. Me arrependi — comentou o morador Clair Testa.
Para o operador de máquinas Oscar Bernardi, que preferiu não revelar seu voto em 2018, Bolsonaro perde muito tempo com distrações quando deveria se dedicar à função governamental:
— Estou achando péssimo até agora. Fica correndo atrás de "abobrinha" de redes sociais. É um político, assume a responsabilidade — repreende.
Já o funcionário público Adelar Stuani critica suposta "ingratidão" dos paduenses com os governos do PT:
— Não consigo entender. Dizem que é por roubo, mas nunca foi provado que Lula roubou. Pode ser que ele tenha feito coisa errada, mas quem não fez? O próprio filho do Bolsonaro já está surgindo coisa. O agricultor da nossa cidade está bem, mas em razão das políticas do Lula. Vieram máquinas aqui e eles ainda criticam — dispara.
O QUE DIZEM
"Com certeza, votaria de novo. Ele é um cara honesto e está tentando colocar as coisas no lugar." Adriana Sonda, comerciante
"O nosso município é pequeno, todo mundo é trabalhador e quer uma política melhor. Todos foram convictos de que ele (Bolsonaro) era o cara, mas não foi bem assim. Uma mudança não é de hoje para amanhã, milagre não acontece de hoje para amanhã." Oscar Bernardi, operador de máquinas, que não revelou seu voto em 2018
"Dizem que é por roubo, mas nunca foi provado que Lula roubou. O agricultor de nossa cidade está bem, mas em razão das políticas do Lula. Vieram máquinas aqui e eles criticam." Adelar Stuani, funcionário público, que vou em Fernando Haddad (PT)
"Estou gostando. Passou só seis meses para colocar tudo em dia, é pouco tempo ainda. Mas parou um pouco a roubalheira, e ele quer tirar os ladrões lá de dentro. Em parte, ele está conseguindo. A oposição que quer atrapalhar de todos os jeitos." Valério Alessi, eleitor de Bolsonaro
"Não mudou nada a relação dos moradores. É tranquilo, ninguém é diferenciado pelo voto. O debate é saudável, sem rancor, nem nada. No momento, cada um defende seu partido, depois todos seguimos para um lado só." Inácio Sonda, comerciante
À procura dos 7% e o suposto "bairro petista"
Em pouco mais de uma hora em que o Pioneiro esteve em Nova Pádua, a maior dificuldade foi conseguir localizar algum dos que fazem parte dos 7% que votaram no candidato Fernando Haddad (PT) no segundo turno. Eleitores de Bolsonaro, no entanto, indicaram à reportagem o suposto "bairro petista". Eles se referiam ao loteamento Jorge Baggio, próximo ao principal acesso a Nova Pádua.
Quem mora lá nega a alusão. Segundo os moradores do loteamento, a alcunha acabou sendo imposta após publicação de uma matéria no período eleitoral que informou que a comunidade teve maior representatividade na votação para Haddad.
Uma moradora do bairro, que preferiu não se identificar, admitiu ter votado no candidato petista e avaliou a gestão de Bolsonaro até o momento como "preocupante".
— Está repercutindo bastante (o governo), está assustando o pessoal. Mas eu achei que ia ser pior até.
Apesar do posicionamento nas eleições, ela afirma que não votou pela ideologia partidária e garante que não foram guardadas mágoas da relação com eleitores de Bolsonaro.
— Não tem mágoa, não torço contra, pelo contrário, torço que as coisas andem, que ele faça um bom governo, embora ache que ele e nem ninguém consiga resolver os problemas em um mandato ou em 20 anos — afirma.
A moradora também informa que a maior parte dos familiares dela votou em Haddad, porém disse não ter havido pressão de nenhum lado ou intrigas com quem teve posicionamento contrário:
— Não senti pressão nenhuma na cidade para votar no Bolsonaro. Cada um tem de ter a própria opinião e votar no que acha mais certo. Meu marido votou no Bolsonaro, por exemplo, mas não houve briga por isso.
Rusgas pontuais
A maioria dos moradores assegurou não haver conflitos ou desafetos por questões políticas no município. Ainda assim, algumas declarações indicaram um possível desconforto na relação.
"A maioria de nós que votou no (Fernando) Haddad fica quieta no cantinho. Não foi fácil. Todo mundo teve que recuar porque sofre pressão." Adelar Stuani, funcionário público
"Quem é do bem, quem defende o interesse da família, vai ser sempre o Bolsonaro. A gente acaba olhando com os outros olhos (para pessoas que votaram no Haddad). Tu não tem nada contra ela, mas ela não é muito bem-vinda pra ti." Adelir Antonio de Oliveira, segurança
AS 10 MAIS BOLSONARISTAS
Jair Bolsonaro (PSL) fez acima dos 80% dos votos válidos em 30 dos 65 municípios da região. Nova Pádua foi o único município onde a votação superou os 90%. Confira os 10 municípios onde Bolsonaro fez a maior votação na Serra Gaúcha
1. Nova Pádua: 1.770 votos (92,96%)
2. Flores da Cunha: 16.466 (87,89%)
3. Monte Belo do Sul: 2.087 (86,78%)
4. Nova Bassano: 4.980 (86,55%)
5. Campestre da Serra: 1.774 (85,74%)
6. Protásio Alves: 1.315 (85,28%)
7. Veranópolis: 12.103 (85,27%)
8. Antônio Prado: 7.131 (85,09%)
9. Pinto Bandeira: 1.548 (84,82%)
10. São Marcos: 10.338 (84,06%)
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