Indicada para comandar o Ministério da Agricultura no governo de Jair Bolsonaro (PSL), a deputada federal Tereza Cristina (DEM-MS) disse ontem não sentir desconforto em ter o nome citado na lista de doações ilegais da JBS e nem diante de uma parceria comercial da família dela com o grupo empresarial no ramo de confinamento de gado.
– Se o presidente me perguntar, estão lá os documentos – afirmou a deputada antes de entrar para reunião com Bolsonaro.
A parlamentar relatou que a família dela tem uma propriedade em Terenos (MS) e que ela é inventariante e possui um quinto da propriedade.
– A minha família arrendou (a terra) para um confinamento da JBS, que tem uma propriedade ao lado, isso há anos – disse ela, acrescentando que não vê conflito de interesse em assumir a pasta da Agricultura e manter negócios com a JBS:
– Eu não tive doação direta da JBS, foi por via de dois parlamentares estaduais e eu era candidata a federal. As doações foram legais, tenho tranquilidade. Vou dar tratamento igual para todos. Precisamos de um país transparente.
Tereza Cristina também afirmou ter iniciado ontem conversas com integrantes da equipe de transição que tratam da área ambiental. A deputada disse que poderá opinar sobre nomes para ocupar o Ministério do Meio Ambiente. Na quarta-feira, ao sair da reunião com o presidente eleito, integrantes da Frente Parlamentar de Agropecuária (FPA) afirmaram que caberia ao grupo “homologar” a indicação para o Ministério do Meio Ambiente. Ontem, porém, antes de reunião com o presidente eleito, Tereza não chegou a admitir que o titular do Meio Ambiente passaria pelo crivo dela ou da FPA.
Logo depois de Bolsonaro ser declarado vitorioso nas eleições, a equipe dele passou a anunciar a fusão entre Agricultura e Meio Ambiente. Diante das críticas, tanto do agronegócio quanto de ambientalistas, a ideia foi descartada. Mas as declarações de integrantes da frente parlamentar e da ministra indicada deixam clara a tentativa de subordinar a pasta de Meio Ambiente à Agricultura.
Relação com países árabes preocupa
Tereza Cristina declarou que o setor exportador de carne bovina tem demonstrado preocupação com declarações de Bolsonaro que desagradaram países árabes, grandes parceiros comerciais do Brasil.
– Eu tenho certeza que nós vamos conversar sobre isso com o presidente. Estou recebendo ligações de pessoas aqui no Brasil preocupadas – afirmou – É gente que exporta, da indústria ligada ao setor de carnes, principalmente aquelas com mais problemas com esse mercado árabe.
Ela disse que precisa entender a posição que o novo governo vai tomar e que está acompanhando o caso do cancelamento da visita do ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes Ferreira, pelo governo do Egito, em represália à fala de Bolsonaro de que pretende transferir a Embaixada do Brasil em Israel de Tel-Aviv para Jerusalém.