Um dia após ser confirmado como vice do candidato a presidente da República pelo PSL, Jair Bolsonaro, o general reformado do Exército Antonio Hamilton Mourão (PRTB) visitou Caxias do Sul. Convidado da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) para falar sobre os desafios do país durante a reunião-almoço desta segunda-feira, ele fez uma análise do cenário e apresentou algumas propostas — a vinda de Mourão estava prevista para 28 de maio, mas foi transferida devido à greve dos caminhoneiros na época.
O general defendeu o livre mercado, o impulso às exportações e a revisão da gestão do serviço público, com menos cargos em comissão (CC) e mais servidores de carreira. Além disso, destacou a necessidade da Reforma Tributária, com redução de impostos, e de um novo pacto federativo, com a distribuição dos recursos nos Estados e municípios.
— Não faz sentido o prefeito de Caxias do Sul sair daqui para mendigar recursos em Brasília. O prefeito tem de ter o recurso não mão dele. Isso é o novo pacto federativo — disse.
Mourão criticou o Foro de São Paulo (uma conferência de partidos políticos e organizações de esquerda) e direita e esquerda — inclusive o conceito —, que estão "abraçadas à corrupção", assim como os populistas e reféns de pesquisas eleitorais. Para ele, "político fala o que a gente quer ouvir". Atacou a elite, que permite o empobrecimento cultural aceitando "placidamente que a nossa cultura seja formada por Anitta, Pablo Vittar e Jojo Todynho".
Ele também destacou a importância em se superar o complexo de vira-latas que os brasileiros, na opinião dele, têm. Mas quando falou sobre a herança cultural brasileira, disse que índios são indolentes e os negros, malandros, causando constrangimento, especialmente porque citou o vereador Edson da Rosa (MDB), que fazia parte da mesa representando o Legislativo caxiense.
— Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena, minha gente, meu pai era amazonense. E a malandragem. Edson (da) Rosa, nada contra, viu, mas a malandragem que é oriunda do africano. Esse é o nosso cadinho cultural.
"É um período de presidentes militares"
O general Mourão fez questão de destacar a defesa da democracia, respondendo ao presidente da CIC, Ivanir Gasparin, que, em seu discurso, disse que, por mais problemas que tenha, "é preferível (a democracia) que qualquer regime de exceção".
— Fora da democracia e fora da liberdade não há vida para nós. O autoritarismo, a ditadura, não vai resolver problema nenhum da gente. Nem o deputado Bolsonaro nem eu somos defensores de soluções autoritárias, mas somos sim defensores de que o Executivo exerça a sua autoridade — discursou Mourão.
Após, durante a coletiva de imprensa, o candidato disse que o período entre 1964 e 1985 não pode ser considerado ditatorial. Questionado como ele nomearia aquela época, respondeu:
— É um período de presidentes militares.
O QUE ELE DISSE NA COLETIVA DE IMPRENSA
Reforma Política
"A Reforma Política vem sendo tratada dentro do Congresso com a questão da mudança do sistema de voto, porque com o voto proporcional que nós temos, hoje, dos 513 deputados, só 36 foram realmente eleitos pelo voto e acaba descolando o cidadão da pessoa que elegeu. A maioria das pessoas não lembra quem elegeu. A visão é ir para um voto distrital, que será uma eleição mais barata e vai aproximar muito mais o político do seu eleitor."
Reforma da Previdência
"Esse é um assunto que terá de ser colocado imediatamente na pauta sem, digamos assim, aqueles paradigmas que estão ocorrendo, mas também ele tem de ser transparente, porque existe gente que diz que não tem déficit, outros dizem quem tem. Nós temos de chegar a uma conclusão de qual é a verdade, mas não resta dúvida que o nosso modelo previdenciário terá de ser mudado."
Militares e a Previdência
"Os militares, há algum tempo, já entraram nessa reforma. A nossa legislação do ano 2000 tirou uma série de privilégios, vamos dizer assim, que o grupo militar possuía, com isso, reduziu os salários de todo mundo, tanto que hoje nós temos três tipos de oficiais dentro do Exército: aqueles que foram para a reserva em 2000, os que estão indo para a reserva agora e os que vão em 2030. O de 2000 ganha mais, o de 2015 ganha menos e o de 2030, menos ainda. Mas existem algumas propostas de aumento do tempo de serviço, como a pensionista pagar pensão. São coisas que estão na pauta."
Segurança
"A questão da segurança tem de ser combatida em dois aspectos: um é a repressão policial, e aí envolve não só a questão do combate direto, mas a questão dos presídios, a questão da celeridade do Judiciário nos julgamentos. Quantos presos provisórios estão aí? Camarada desses aí é pego com uma pequena quantidade de maconha, se ele vai para o presídio como preso provisório, leva tempo para ser julgado e acaba sendo cooptado por uma quadrilha. Outro aspecto é que os locais onde que sejam essas quadrilhas, o Estado tem de entrar, tem de substituir o papel que o traficante tem lá dentro hoje."
Controle das fronteiras
"Nós temos 15 mil quilômetros de fronteiras. É uma coisa complicada. Temos fronteira que é pura selva, onde a pessoa só entra pelo rio. A maior quantidade de armamento, por exemplo, não entra pela fronteira. O fuzil não vem lá pela Colômbia, vai atravessar todo o o Rio Solimões de barco, vir de carro para chegar no Rio de Janeiro. Não. Vem do Exterior, desembarca no porto do Rio de Janeiro e é distribuído. Ele chega em grande quantidade. O que vem mais é a droga da Bolívia e do Paraguai. Aí tem o sistema de monitoramento de fronteira, o famoso Sisfron (Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras), que uma vez pronto, ainda não está pronto por falta de recurso, era um projeto para ser feito em cinco anos e vai levar quase 10. Com isso a gente teria mais condições de intensificar a vigilância na fronteira."
Papel do vice
"Eu uso a linguagem militar: é o subcomandante. A minha função é proteger o presidente, sou o 02. Dono da bola é o Jair Bolsonaro. Vou assumir em viagem do Bolsonaro. Bolsonaro não vai sofrer impeachment, porque ele vai fazer um governo maravilhoso e, se Deus quiser, vai ser reeleito."
Ministro
"Eu estava preparado para cumprir qualquer tarefa que o Bolsonaro me desse, seja ministro da Defesa seja da Segurança Pública. Não sei se ele vai manter esse ministério (da Segurança). Temos de ver qual é a proposta dele para isso."
Rejeição de Bolsonaro nas pesquisas
"Nós temos de nos apresentar. Essa rejeição, muitas vezes, é colocada porque parcela da imprensa, a grande imprensa, e de certo grupo, a turma da esquerda, procura apresentar o deputado Bolsonaro quase como um troglodita e ele não é. Ele é um homem do interior de São Paulo, um cara que subiu na vida pelos seus méritos, um guri que estudou em escola pública, fez concurso público para a Academia Militar das Agulhas Negras, se tornou oficial, depois foi candidato a vereador, foi eleito no Rio de Janeiro, e a partir daí foi sete vezes eleito deputado. É um homem que se fez. Nunca esteve metido nessas maracutaias ocorridas no Congresso, ou seja, ele tem uma imagem positiva. Agora, o que que se passa? Determinadas declarações polêmicas que ele fez uma vez ou outras são colocadas como se fossem verdade absoluta."
Militares na política
"Existe uma busca de valores na sociedade brasileira e as Forças Armadas sempre se apresentaram como defensora desses valores. A partir do momento em que há essa demanda da sociedade, o grupo militar diz: bom, minha gente, está na hora de a gente se apresentar para o jogo. Historicamente, nós sempre tivemos militares na política, no Império, na primeira República, durante o período de Getúlio. A partir de 1964, presidente Castelo Branco limitou essa participação. Antigamente, o que acontecia era que o militar da ativa, por exemplo, era candidato, passava quatro anos no Congresso, voltava para a Força. Isso não era bom. O presidente cortou e muita gente deixou de se candidatar. E agora voltou o apelo para que o grupo militar se apresente."
Ditadura
"Período de presidentes militares não foi ditadura. Querer qualificar aquilo de ditadura é ir contra a história. Era um governo autoritário? Era um governo autoritário. Exercia de forma forte a sua autoridade. Mas você tinha Congresso funcionando, Judiciário funcionando, você tinha partidos políticos. Tinha instrumento de exceção? Tinha. Ele vigorou durante 10 anos. E vamos lembrar que no governo do presidente Figueiredo não havia nenhum instrumento de exceção. Então, chamar de ditadura não é um raciocínio intelectual correto. Aquilo que estou falando é uma coisa muito clara, aquele período não foi ditadura. Ditadura foi de Getúlio. Agora, uma ditadura no Brasil hoje só vai nos levar a uma guerra civil."