Oficializada candidata à Presidência da República pelo PSTU na sexta-feira, durante convenção do partido, em São Paulo, Vera Lúcia terá o professor Hertz Dias, também do PSTU, como seu vice. Não haverá coligação.
Formada em Ciências Sociais, ela iniciou a trajetória política no movimento sindical, aos 19 anos, quando trabalhava no setor calçadista, em Sergipe. Filiada ao PT, foi expulsa em 1992 junto com integrantes da corrente Convergência Socialista, que fundou o PSTU, em 1994.
Nesta entrevista, Vera diz que, se eleita, irá promover uma revolução socialista, que inclui anular as reformas do governo Michel Temer (MDB), estatizar as empresas privatizadas nos últimos anos e criar conselhos de trabalhadores para que eles administrem o país. Confira:
Pioneiro: Por que a senhora concorre a presidente?
Vera: É uma atribuição que me foi conferida pelos militantes do PSTU. Em frente a essa crise econômica, política e social, esse caos social em que a classe trabalhadora e os mais pobres estão mergulhados, o nosso partido achou que poderíamos construir a tarefa de apresentar uma saída que de fato atenda às nossas necessidades que são reais. Estamos com a tarefa de apresentar à classe trabalhadora brasileira esse chamado à rebelião, que é um manifesto que nós lançamos, mas também um chamado de que a classe trabalhadora se organize nos seus locais de trabalho, de estudo, de moradia para que de forma organizada os de baixo possam derrubar os de cima. E a partir de então, resolver os problemas que são nossos, que não são dos ricos, são dos pobres.
O PSTU defende uma revolução socialista. Como seria?
Esse é o chamado que fazemos aos trabalhadores porque acreditamos que só uma revolução socialista é capaz de resolver os problemas desde a sua causa. Os problemas que nos afligem hoje são os marcos do sistema capitalista e são impossíveis de serem resolvidos na nossa visão tanto é que a cada crise e a cada busca de saída pela burguesia o que nós observamos é que há uma concentração cada vez maior da riqueza na mão de um número cada vez menor de grandes empresários, que são milionários, enquanto que os trabalhadores vão concentrando um número cada vez maior de trabalho precarizado, achatamento salarial, desemprego que campeia e miséria. Só isso é da natureza do sistema capitalista. Só se for construída outra sociedade, outra base, para que ela possa atender de fato às necessidades humanas, onde a produção da riqueza fosse pensada, elaborada, planejada e executada com o objetivo não da obtenção do lucro, mas da satisfação das necessidades humanas. Isso é revolucionar, porque você muda completamente a lógica de funcionamento da sociedade.
Se eleita, quais medidas tomaria nos primeiros dias de governo?
A anulação de todas as reformas feitas contra a classe trabalhadora a exemplo das medidas 664 e 665, da Reforma Trabalhista, da lei da terceirização. A anulação das reformas da Previdência feitas anteriormente, portanto, sepultaria a proposta colocada hoje. A reestatização e indenização de todas as empresas que foram privatizadas neste país e chamaria imediatamente a classe trabalhadora a se organizar nos seus locais de trabalho, estudo e moradia em conselhos para que eles pudessem administrar esse país. Elaborar um plano de obras públicas com o dinheiro que não pagaremos à dívida pública para atender exatamente a esse plano de satisfação das necessidades das pessoas, que são serviços básicos de saúde, educação, transporte, saneamento. E a redução imediata da jornada de trabalho para no máximo 36 horas semanais sem redução de salários. Entendemos que essas são medidas prioritárias em um primeiro momento para atender a essas demandas da população. Junto com isso também a não remessa de lucros das multinacionais que estão hoje instaladas no Brasil aos seus países de origem.
A senhora falou do não pagamento da dívida. Isso vale para os estados? A dívida do RS seria perdoada?
Nós não pagaremos a nenhum banco porque os estados e a União estão sacrificando a vida da classe trabalhadora, dos servidores públicos e dos serviços públicos para pagar a quatro bancos uma dívida que quanto mais a gente paga mais a gente deve. A primeira coisa era não pagar, então, seria da União e consequentemente de todos os estados e municípios.
Qual sua opinião sobre a Lava-Jato?
Nós achamos que as operações de investigação de esquemas de corrupção são extremamente importantes, mas não temos nenhuma ilusão, nós não confiamos na Lava-Jato, porque a Lava-Jato que prendeu o Lula e vários outros corruptos é a mesma Lava-Jato que liberou Geraldo Alckmin, que também recebeu propina da Odebrecht, e transferiu para o TSE fazer a investigação. Do mesmo jeito que a Justiça, nós também não temos nenhuma ilusão nela, tanto é que Gilmar Mendes arquivou o processo de Furnas que investiga os escândalos que envolvem Aécio Neves. Do mesmo jeito que Renan Calheiros, todo mundo sabe, é envolvido em escândalos durante toda a sua vida, era para ter sido afastado do Senado, bateu pé e lá ficou. Não guardamos nenhum tipo de ilusão de que essa Justiça que tem lado resolva os problema da nossa classe. Por outro lado, em nome dessa seletividade que o PT tanto denuncia, nós achamos que não é a campanha Lula Livre que resolve. O que resolve é colocar todo o resto na cadeia: Temer, Aécio, Alckmin, Renan Calheiros, (Romero) Jucá, todo esse pessoal que está envolvido em esquemas de corrupção.
Quando Lula foi preso, partidos de esquerda que fizeram oposição aos governos petistas, como o PSOL, saíram em defesa de Lula. O PSTU não. Por quê?
Porque Lula escolheu governar com os grandes empresários desse país, escolheu receber dinheiro das empresas e dos empresários, escolheu envolver-se em esquemas de corrupção e essa não deve ser a nossa preocupação. O que nos preocupa e nos move são os mais de 27 milhões de desempregados nesse país que são pais e mães de família desesperados sem ter como sobreviver. O que nos move são os milhões que não têm uma casa para morar e que a sociedade só tem conhecimento desse drama das nossas vidas nos momentos de tragédia. A nossa preocupação é com a entrega, por exemplo, de todo o patrimônio nacional pelos governos e pela burguesia para atender aos interesses do imperialismo, exemplo a privatização dos portos, dos aeroportos, das rodovias, das ferrovias, da Petrobras, através dos leilões, da violência que campeia e prende a nossa juventude, mas deixa solto os ricos que são os maiores ladrões desse país e que desfilam muito bem vestidos nos palácios. Isso é o que nos move e o que move o PSTU e não a campanha se o Lula está preso ou se ele está livre, até porque ele está muito bem servido de defesa.
A senhora falou em violência, que é um grave problema do país. Como se resolve?
São várias as medidas. A mais urgente é a classe trabalhadora e os mais pobres se organizarem para garantirem sua autodefesa, se protegerem da violência do Estado e da bandidagem com uma polícia unificada. Portanto, somos a favor da desmilitarização da polícia, ela também tem o direito de se organizar. Mas junto com isso é preciso um plano de obras públicas que garanta emprego para os pais e para a juventude desse país, que ela tenha direito à educação pública de qualidade, que tenha perspectiva de futuro. Por outro lado tem a ver com o fim do tráfico de drogas e a única forma que você tem de acabar com tráfico é legalizando, não existe outro caminho. Quando você legalizar, você acaba com o tráfico e consequentemente você vai saber quem vende e quem compra, tratar os dependentes como doentes e aqueles que vendem pagarem impostos, porque hoje lucram absurdamente. Não é possível que entrem toneladas e toneladas de maconha, de heroína, de cocaína e todo tipo de arma e o Estado não saiba e não tenha o lucro dos grandes empresários por trás disso, porque isso não existe nas favelas desse país, não tem fazenda de maconha nas favelas, não existe indústria de heroína e cocaína. Indústria armamentista é altamente protegida por todos os governos, então, consequentemente tem o braço pesado do Estado como tem grandes setores empresariais envolvidos com isso, mas quem paga é a nossa juventude pobre e negra que não tem perspectiva de futuro. Então, a única forma que temos de resolver a violência é garantindo emprego para todo mundo.