Com seis mandatos parlamentares (dois na Assembleia e no quarto na Câmara Federal), o deputado Onyx Lorenzoni (DEM) afirma que carrega o sonho de concorrer a governador há mais de 20 anos, mas que depende de duas condições: viabilidade eleitoral e de gestão. A definição deverá ocorrer somente em março de 2018.
Na entrevista, concedida na manhã de sexta-feira em uma sala reservada de um hotel de Caxias, Onyx defendeu a candidatura de Jair Bolsonaro (PSC) à Presidência. Confira a entrevista na íntegra.
Pioneiro: As 10 medidas contra a corrupção do MP (Ministério Público) iriam reduzir as ações criminosas?
Onyx Lorenzoni: Todos os países que conseguiram isolar a corrupção, eles usaram sempre medidas sistêmicas que começam pela participação da sociedade, passam pela avaliação dos órgãos de controle. As 10 medidas eram a primeira proposta sistêmica. Hoje, se botar numa balança, as vantagens de atos de corrupção na relação pública e privada ainda são muito maiores do que a eventual punição. Tem que inverter essa balança. O que aconteceu há um ano foi uma grande tragédia que o parlamento cometeu contra si mesmo, no momento em que divorciou da sociedade. O que vimos naquela noite (da votação) foi uma vingança. Grupos de dentro da Câmara (Federal) queriam a anistia para os crimes da Lava-Jato como a lavagem de dinheiro, corrupção ativa, corrupção passiva. Nós que lutamos pelas 10 medidas estamos feridos, mas não estamos mortos. O projeto está “vivinho” no Senado. O grupo que trabalha pelas 10 medidas quer o posicionamento dos presidenciáveis e assumiu o compromisso de apoiar aquele candidato que vai tocar as 10 medidas para frente.
Qual a sua avaliação do Governo Temer?
Eu fui o primeiro dos cinco votos contra o Democratas entrar no Governo Temer após o impeachment de Dilma (Rousseff). Achava que o partido deveria apoiar o governo sem ter cargos. Não é ao acaso que a Dilma e o Temer se juntaram. É a mesma prática. De maneira coerente, votei a favor do impeachment da Dilma, a favor do afastamento do (deputado e ex-presidente da Câmara) Eduardo Cunha e depois da cassação dele e a favor da abertura de investigação contra o Temer duas vezes. Organizei a Frente de Parlamentares Independentes com 108 deputados que não estão nem aliados ao governo e nem aliados com a oposição para construir pontos com a sociedade para o Brasil avançar.
A Lava-Jato cometeu excessos, como a negociação de delações e prisões preventivas, ou tudo que foi feito se justifica pelo combate à corrupção?
Erros podem acontecer. Somos humanos e seres humanos erram. Uns tentando acertar e outros porque têm tolerância ao erro. Se a gente colocar numa balança, a Lava-Jato errou muitas vezes, mas acertou muito. Se não fosse a Lava-Jato, o Brasil olharia para o futuro com muito temor. Hoje, temos o temor do presente, mas há uma centelha de esperança na sociedade de que o futuro pode ser diferente.
O senhor está disposto a concorrer ao governo do Estado?
Eu carrego esse sonho desde o primeiro dia que pisei na Assembleia há mais de 20 anos. O partido tem feito pesquisas, os resultados têm sido muito positivos, mas é um processo que precisa ter uma construção. O partido nacional deseja e o estadual também deseja, mas depende de um binômio: viabilidade eleitoral mais a viabilidade de gestão, e essas duas coisas têm que caminhar juntas. Temos um prazo (para decidir), que é março do ano que vem. No final de janeiro e início de fevereiro, vamos fazer uma nova pesquisa com avaliação do cenário e vamos tomar a decisão definitiva.
Qual a prioridade número 1 do Estado?
Não tenho nenhuma dúvida de que o Estado precisa priorizar a questão da segurança pública. A insegurança é algo brutal. O grande pecado do atual governo é a falha na segurança. E no plano nacional, a mesma coisa. Nenhum governo federal nos últimos 14 anos tomou uma atitude firme em relação à segurança pública. O conflito árabe israelense nos últimos 10 anos matou 20 mil pessoas com ações terroristas. No Brasil, no ano passado, foram 60 mil mortes.
O senhor assinaria o regime de recuperação fiscal com o Governo Temer?Com a cláusula que tentei retirar e não recebi apoio da maioria da bancada gaúcha – de que o Estado, ao assinar esse acordo, ele tem que abrir mão das ações judiciais onde discute todas as ações diretas em relação à dívida e todas as ações correlatas da Justiça –, com essa cláusula, não assinaria, porque ela é indigna. Há um princípio constitucional que nos garante o direito de litigar em defesa dos interesses individuais ou dos interesses do Estado. É muito grave essa retirada de um direito que o Estado tem de litigar em defesa da sua sociedade.
Uma eventual eleição de Jair Bolsonaro preocupa?
Ao contrário. O Jair Bolsonaro é o único caminho para o Brasil encontrar duas coisas fundamentais: ordem e progresso. Jair Bolsonaro é a única pessoa, hoje, no Brasil com coragem suficiente para poder fazer o setor público brasileiro se encontrar com a sociedade. A sociedade brasileira está cansada desse discurso de viés esquerdista que vem desde o (ex-presidente) Itamar (Franco). Ele (Bolsonaro) é um candidato com grande potencial de crescimento, de chegar ao segundo turno e de vitória. Acredito que o adversário dele será o Lula e vão se confrontar duas visões de mundo.
Em maio, o senhor admitiu ter recebido R$ 100 mil. Como um político que critica tanto a corrupção comete esse erro?
Na verdade, recebi essa doação da Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) e cometi o erro de não declarar. Agora não é valor de nenhum ato de corrupção. O erro foi a não declaração desse dinheiro. Entre carregar uma mancha de continuar mentindo, como a maioria das pessoas faz, escolhi a verdade e ter uma cicatriz. Tenho recolhido das pessoas a compreensão, o estímulo e o apoio. Errar é humano, errei, reconheci o erro cometido e estou com a minha consciência tranquila. Isso não vai mudar em nada o meu enfrentamento à corrupção. Já fiz contato com o PGE e estou aguardando para que esse entendimento seja feito.