Com a experiência de 10 eleições e cinco mandatos (quatro na Assembleia e um na Câmara Federal), o ex-deputado Francisco Appio (PP), 69 anos, preferiu não concorrer a cargos eletivos após a eleição de 2014 quando conquistou 22.028 votos e não alcançou uma cadeira no parlamento gaúcho. Desde fevereiro de 2015, assumiu o cargo de diretor administrativo-financeiro da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa).
Responsável pela criação da ONG SOS Caminhoneiro, de apoio a buscas de motoristas desaparecidos e amparo às famílias, além de um programa de rádio, que atualmente é veiculado em 57 emissoras, Appio comenta sobre os principais momentos de seus mandatos e lamenta não ter sido eleito prefeito de Vacaria, cidade que o projetou para a política.
Em entrevista por telefone, na quinta-feira, Appio anunciou a assinatura da ordem de serviço para a construção do terminal de passageiros do Aeroporto Regional de Vacaria. Confira a entrevista.
Pioneiro: Quais os principais momentos dos seus mandatos de deputado estadual e federal?
Francisco Appio: Tivemos a implantação do SOS Caminhoneiro, que foi o precursor da Comissão da Segurança da Assembleia que resultou na CPI do Crime Organizado, onde fui relator. Conseguimos enfrentar o roubo de carga desarticulando várias quadrilhas e enfrentando o narcotráfico. Na época, saímos atrás do Nei Machado, de Passo Fundo, que era braço direito do Fernandinho Beira-Mar. Radiografamos a estratégia de acesso das drogas que vinham do Paraguai. Eram lançadas em tambos de leite em várias fazendas do Estado sem controle da força aérea e do Cindacta (Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo) porque voavam baixo. Isso acabou determinando ações no controle aéreo do país. Na Câmara Federal, auxiliei na criação de uma subcomissão do caminheiro, que é uma categoria que encontra dificuldades de representação porque o motorista não vota, pois está viajando no dia da eleição. Um grupo de deputados optou por não continuar em Brasília, porque éramos reféns dos líderes. Me recusei a votar o projeto do Estatuto do Desarmamento e outros, e isso criou uma situação de embaraço. Consegui atrair mais de R$ 24 milhões em emendas, criando em Vacaria a hemodiálise com 19 máquinas para atender a 80 pacientes por dia. Nos empenhamos na questão do aeroporto de Vacaria.
Vacaria não elegeu mais deputado estadual. Quais são os prejuízos para a cidade e a região?
O aeroporto (de Vacaria) ficou parado por oito anos. Ele foi concluído pela (ex-governadora) Yeda (Crusius) em 2010 e, de lá para cá, a única notícia nova foi dada pelo governador (José Ivo) Sartori, que autorizou a construção do terminal de passageiros. Uma obra grandiosa daquelas é um absurdo que tenha ficado parada durante oito anos. Uma das causas foi a falta de uma representação específica dos Campos de Cima da Serra.
Por que a decisão de não concorrer mais a cargos eletivos?
Comecei com a abertura democrática lá em 1985. Fui por 10 vezes pedir votos para os eleitores e quem sabe, na ânsia de renovação, eles buscaram outras alternativas. O número de cadeiras do PP na Assembleia caiu muito e tomei a decisão de não participar mais do processo eleitoral porque creio que cumpri com a minha missão. Me dediquei ao Partido Progressista até em eleições que eram impossíveis, como a eleição para prefeito em Vacaria em 2012, quando ninguém queria concorrer porque o prefeito do PT era considerado imbatível.
Qual o sentimento de não ter sido prefeito de Vacaria?
Não digo frustração, mas lamento, porque me preparei, fiz cursos, busquei experiências de outras prefeituras do país e até do exterior na área da educação, do lixo, da informática, e prestei serviços à região.
Quais são as principais demandas dos Campos de Cima da Serra?
A região se ressente de uma industrialização. Creio que (precisa de) uma política de introdução de micro e pequenas empresas associadas a empresas de porte, o que poderá formar mão de obra para que tenhamos essa descentralização. Você não pode ter bolsões de desenvolvimento. Vacaria é destacada em grãos, na fruticultura, abriu uma frente na rota dos vinhos de altitude, mas se ressente de algo mais. Sempre sonhamos com o aeroporto regional de cargas, pela demanda das empresas transportadoras, na área médica, na assistência para a agricultura e do transporte alternativo de passageiros. Tem demanda de empresários que utilizam aeronaves de pequeno porte, e por isso a necessidade da construção do terminal de passageiros, cuja ordem de serviço será assinada pelo governador para o início das obras na próxima terça-feira, dia 7, às 10h30min, no Palácio Piratini. É uma obra de menos de 400 metros quadrados, com recursos da Cide (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico) no valor de R$ 351 mil.
Como o senhor projeta a eleição para o Piratini?
Há um sentimento do que nós (do PP) deveríamos ter um candidato próprio, mas ainda é muito cedo para saber quem pode capitanear esse projeto.
E como avalia o momento político do país?
As pessoas deveriam, de certa forma, agradecer à eclosão dessa crise. Agora desnudou boa parte dos problemas do Mensalão e da Operação Lava-Jato e mostra para o pretendente à candidatura que ele será mais patrulhado. Lamento que, em meio a essa discussão, tenha surgido nitidamente, mas não tenha avançado, a proposta do voto distrital, que torna o candidato praticamente imune à corrupção porque é vigiado pelo eleitor e torna a campanha baratíssima. Temos que voltar ao contato pessoal, onde o eleitor precisa encarar o candidato e vice-versa.
O senhor está descrente com a política?
Não. Eu acredito na política. Sou um político com muito orgulho. Passei 30 anos pela política e jamais tive um processo. Não tenho preocupação nenhuma em me reconhecer como político, porque a política é necessária. Se não tivermos partidos políticos, não teremos democracia. Se não tivermos democracia, a ditadura não será a alternativa mais adequada. Espero que a política seja corrigida, restaurada, os que devem que paguem, e que o eleitor assuma um papel consciente para as eleições do ano que vem.