Uma das principais lideranças históricas do PMDB caxiense diz que o presidente Michel Temer não representa o partido. Aos 83 anos, Joanira Kayser, analisou o cenário político do país e do Rio Grande do Sul.
— Ele (Temer) errou muito e não representa o PMDB — diz Joanira.
Ao comentar sobre a decisão do governo de José Ivo Sartori de parcelar os salários do funcionalismo, a ex-presidente do partido ressalta que é contra a medida, mas diz que não existe alternativa devido às condições financeiras do Estado.
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Recuperada de uma cirurgia de diverticulite no início de setembro, Joanira recebeu a reportagem no escritório da joalheria da família, na Praça Dante Alighieri, onde ainda cumpre expediente de manhã e à tarde. Na entrevista, também defende a candidatura própria para a prefeitura de Caxias em 2020, como ocorreu na última eleição.
Pioneiro: Como surgiu seu interesse pela política?
Joanira Kayser: Eu era muito jovem. Me casei aos 15 anos e meu marido (Ilson Heitor Kayser) já era vereador pelo PTB, e tinha o (Pedro) Simon, o (Nadyr) Rossetti, aquela turma de políticos, e eu participava junto. Em 74, já era presidente do partido. Naquela época, eu já gostava de política, mas o político era meu marido. Ele foi vereador durante 20 anos quando não ganhava nada, quando os vereadores começaram a ganhar salário ele se retirou e disse: "Agora não quero mais ser (vereador)." Eu participava pouco do setor feminino do partido, me sentia melhor discutindo com os homens.
Por que poucas mulheres têm interesse em participar da política em Caxias?
Quando comecei a fazer política, tinham só dois partidos, o MDB e a Arena. Eu gostava de política, naquela época participavam ainda a Ester Troian, a Nair Ramos, a Raquel Grazziotin, tanto que a Ester Troian foi a primeira vereadora de Caxias. Eu gostava de participar ativamente dentro dos quadros do partido. Hoje, acho que as mulheres vão participar mais. Muitas mulheres que foram políticas não deram em nada. Poucas tiveram sucesso. As que estão na Câmara de Deputados não conseguirão se eleger (a presidente) porque elas gritam, brigam, não tem educação. Não são mulheres que conseguem debater coisas boas. Elas desestimulam outras a participarem da política. Elas não têm interesse que outras mulheres participem da política para elas continuarem.
Como atrair mais mulheres para a política?
Primeiro, acho que tem que ter mulheres mais instruídas. A Ruth, mulher do Fernando Henrique (Cardoso), foi uma grande política e nunca participou da política. A mulher do Ulysses Guimarães era política também, mas por trás. Agora, por exemplo, acho que a mulher do (Michel) Temer é mais inteligente que ele. Eles não dão oportunidade. Os homens são muito machistas.
O seu esposo a incentivava a participar da política?
Sim. Eu era do diretório nacional, viajava para Brasília. Quando ele podia, ia junto comigo, e quando não podia, eu ia sozinha.
Por que a senhora nunca quis disputar um cargo eletivo?
Eu gostava de participar ativamente das reuniões do diretório. Nunca quis disputar um cargo. O meu marido era vereador e logo depois virei presidente do partido e nunca quis concorrer para não causar ciúmes. Não me frustrei por não concorrer.
Qual o fato que trouxe mais alegria no período que presidiu o PMDB?
Elegemos quatro governadores, três de Caxias. O primeiro foi o Simon, depois o (Germano) Rigotto e agora o Sartori.
E algum fato triste?
A gente pediu para o Rigotto fazer campanha e ele não fez campanha pensando que estava eleito e perdeu (a eleição para Yeda Crusius, do PSDB).
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Por que a senhora defendeu candidatura própria do PMDB à prefeitura de Caxias na eleição de 2016?
Acho que todos os partidos devem concorrer isoladamente. Sou contra essas coligações. Elas só dão desgastes nos partidos.
O PMDB de Caxias do Sul está diminuindo de tamanho?
Não. Fizemos reunião do diretório recentemente e elegemos um presidente (vereador Paulo Périco) que vai reconstruir o partido. Somos contra. Vamos lançar um candidato a prefeito e, se Deus quiser, vamos eleger mais vereadores. Também vamos eleger deputados estadual e federal. Está na hora de a população pensar em eleger candidatos do nosso município. Tem gente que vota em candidatos que nunca viu. Não somos a favor daqueles que fizeram tanta coisa errada. E está na hora de os políticos se darem conta de que roubaram demais. Eles não tiveram pena do povo. Começou no governo daquele que quer concorrer novamente a presidente (Lula). Nessa altura, o Temer deve ficar até 2018, para a população não sentir tudo de novo, mas também não é o indicado.
O parcelamento de salários é inevitável, ou o governador Sartori deveria buscar outra saída?
Ele (Sartori) não tem outra saída. Pegou o Estado falido de tal maneira que não tinha dinheiro para o cafezinho. Ele está investindo muito pouco nas estradas, está fazendo tudo o que pode, mas não tem outra alternativa. O Estado estava quebrado. Eu sou contra o parcelamento (de salário), mas não tem como pagar, não existe outra possibilidade. É muito triste a gente ter que dizer isso. Os professores, os policiais e todos que trabalham no Estado ter o salário parcelado, mas não tem alternativa. O Sartori é um homem muito correto.
O presidente Michel Temer tem condições de continuar governando o país depois de passar por duas denúncias de corrupção?
O país está tão mal, tão mal e tão falido que qualquer um que estivesse lá não faria nada melhor do que ele. Se outra pessoa assumisse, tinha que começar tudo de novo. Acho que ele vai criar vergonha e fazer alguma coisa pelo país. O presidente da Câmara (deputado Rodrigo Maia, do DEM-RJ) deu uma entrevista ontem (na quarta-feira) e disse que agora o presidente Temer precisa fazer alguma coisa pelo povo. Ele precisa fazer alguma coisa porque se não quem vai votar nele em 2018? Esse dinheiro que roubaram precisa voltar para o país, tem muito dinheiro em banco, acharam R$ 50 milhões. Tem que distribuir esse dinheiro na educação, na saúde para o povo.
O presidente Michel Temer, que é do PMDB, lhe representa?
Não. Ele errou muito e não representa o PMDB.