Passadas as eleições municipais, em que o PT ficou fora da disputa pelo segundo turno, e diante do encolhimento da bancada na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul – de três vereadores, o partido terá apenas dois na próxima legislatura –, dirigentes são unânimes ao afirmar que a sigla ainda se apresenta como uma alternativa de voto para a população.
Petistas ouvidos pelo Pioneiro afirmam que nem mesmo a criminalização promovida contra o PT em todo o país por conta das denúncias de corrupção investigadas na operação Lava-jato, e da tentativa de ligar o ex-candidato a prefeito Pepe Vargas às denúncias diminuíram a força política do partido.
Para a vereadora Ana Corso, o partido precisa se reaproximar dos movimentos sociais e manter a defesa dos interesses dos trabalhadores. Ela e a colega Denise Pessôa também destacam a importância do percentual de votos que Pepe obteve no pleito municipal.
No primeiro turno, o candidato contabilizou 59.229 votos, ficando com o terceiro lugar, atrás de Daniel Guerra, do PRB, que fez 68.214 votos, e de Edson Néspolo (PDT), que somou 102.044 votos.
Fora da prefeitura até 2020, o partido vem caminhando para se aproximar de sua base: recentemente, elegeu Silvana Piroli, presidente da sigla, para conduzir o Sindicato dos Servidores Municipais (Sindiserv).
O que dizem os dirigentes
"Somos uma força política importante, que fez 25% dos votos na eleição municipal. Acredito que com essas pautas que o (presidente Michel) Temer tem colocado, como a PEC 55, e o pacote do (governador José Ivo) Sartori, o PT vai ter uma conjuntura favorável de estar com os movimentos sociais e continuar na defesa da classe trabalhadora. A corrupção atingiu todos os partidos e não é uma exclusividade do PT. Na Câmara, vamos continuar com a Denise (Pessôa) e o (Rodrigo) Beltrão com uma oposição responsável e votando nos projetos que são importantes para a cidade como fizemos nos governos Sartori e Alceu. Com o Daniel (Guerra) na prefeitura, não vai mudar esse posicionamento. O blocão do PDT/PMDB bateu demais no PT. O PMDB e o PSDB têm gente envolvida nos escândalos de corrupção da Petrobras. A gente fez uma campanha propositiva e dentro das nossas possibilidades visando aquilo que a gente achava importante, que era manter o que estava bom e nunca desconstituiu completamente o que os governos Alceu e Sartori fizeram nos últimos anos. Dê uma certa forma a gente continua sendo uma alternativa importante para a vida política do país."
Ana Corso, vereadora
"O PT deu uma grande contribuição ao Brasil em políticas sociais como o acesso à educação e na habitação, porém a gente não conseguiu, em nível municipal, ligar os programas como o Minha Casa, Minha Vida aqui de Caxias a um projeto de governo do PT. A gente precisa avaliar e revisar o nosso programa de partido para que apresentar um projeto atualizado. A gente percebe um desejo de renovação em vários lugares, mas a renovação muitas vezes acabou caindo para esse lado da política sem política. Em função do processo de impeachment, foi muito difícil organizar a base para discutir faltas e demandas municipais. Foi difícil organizar o partido para o pleito eleitoral de 2016, talvez não tenhamos conseguido compreender que a eleição era também uma forma de resistir ao que estava ocorrendo em nível nacional. O partido sozinho conseguiu a votação que teve, não é um partido descartável. Não é um partido que está morto, muito pelo contrário. Se a gente conseguir se reformular e dialogar com outros partidos, mais a frente poderemos estar conduzindo a prefeitura de Caxias."
Denise Pessôa, vereadora
"Apesar da derrota eleitoral, nos saímos bem. Com o prestígio do Pepe e as nossas propostas, a campanha conseguiu um patamar muito digno. Precisamos agora dar uma resposta ao povo, ter um novo programa político e econômico que traga o Brasil para os eixos, com crescimento econômico e continuar diminuindo a desigualdade. Internamente, o PT tem que fazer autocrítica dos processos nos quais se meteu. No ponto de vista ético, temos que ter mais transparência na questão dos recursos internos do partido e uma política de aliança bem definida com a esquerda e partidos que queiram construir um projeto de nação e tomar decisões sobre pessoas que continuam no partido e que tenham cometido deslizes ou crimes para benefício próprio. Temos um capital político muito importante na cidade. A votação do Pepe foi expressiva e demonstra a relação de respeito que as pessoas têm pela nossa história. Seremos uma alternativa para a cidade daqui há quatro anos. Mas com quais rostos, ainda não temos como dizer."
Roberto Nascimento, assessor e coordenador da campanha de Pepe Vargas
"O PT demorou a dar algumas respostas a nível nacional e obviamente que acabaram acontecendo coisas que sempre combatemos. O partido tem que se reaproximar da base e ouvir os movimentos sociais. Temos que fazer um profundo debate daquilo que queremos para o futuro de nossa sociedade. Eu pretendo ajudar a reconstruir o PT em Caxias e no Estado. Conquistamos muitas coisas importantes para o país e representamos um avanço social, administrativo, econômico e político. Também não fizemos tudo e erramos quando não tivermos a coragem de fazer algumas mudanças no país como a reforma política e tributária. Esse profundo debate também passa por oferecer novos nomes para o eleitor caxiense. Política se faz com novos nomes, mas também com novas ideias e o jovem na política não é só aquele da idade, mas aquele que tem a capacidade de acompanhar o a sociedade pensa. O partido tem de estar atento a nomes que oxigenem e tragam novas ideias, mas jamais podemos deixar de garantir os mesmos espaços àqueles que construíram o partido."
Marcos Daneluz, ex-vereador e coordenador da campanha de Pepe Vargas
"A gente tem que reafirmar o nosso compromisso e continuaremos na luta contra os retrocessos que estão sendo impostos pelo governo golpista. Essa é a principal tarefa que temos pela frente. Temos uma proposta e uma ideologia. Somos uma das legendas viáveis eleitoralmente. Temos pessoas que foram construídas ao longo de suas histórias, umas têm uma construção maior, outras uma construção mais recente, mas a gente sempre viveu um processo de renovação. Temos dois vereadores bastante jovens, assim como temos o Pepe, que já foi prefeito da cidade e ministro. As eleições definiram o PT na oposição ao governo Guerra. Agora, esperamos que o governo cumpra com os compromissos que assumiu com a cidade."
Silvana Piroli, presidente do PT caxiense
"O PT se consolidou como uma oposição nos três mandatos dessa coligação. O PT fez uma oposição responsável, que trouxe grandes assuntos e criou vários constrangimentos para governo. Vamos cumprir fielmente a missão delegada pelo povo nas urnas e seremos oposição ao governo Guerra. O PT é a grande referência da classe trabalhadora, porém o partido tem de ter a capacidade de se renovar e precisa dar uma oxigenada, atualizar a sua pauta. Tem de se produzir um grande debate interno para identificar nossos erros. O Guerra, por exemplo, sabia que ia ser candidato há quatro anos. No ambiente externo, o partido foi criminalizado e no ambiente interno demoramos para deflagrar a tática eleitoral e erramos a tática. A ideia da campanha tinha que ser a coragem de mudar e nos apresentarmos como a efetiva mudança e pontuar as conquistas para comunidade. A campanha eleitoral (do Pepe) tocou outra música. O foco não era 'por amor a Caxias'. Nós éramos a mudança, não era o Guerra. Erramos o nosso foco."
Rodrigo Beltrão, vereador
Futuro da sigla
PT ainda se apresenta como alternativa em Caxias do Sul
Lideranças analisam o futuro do partido em Caxias às vésperas do novo governo municipal
André Tajes
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