Seis dos 21 presidentes de partidos que integraram o coligação de apoio a candidatura de Edson Néspolo (PDT) avaliaram o resultado da vitória esmagadora de Daniel Guerra, do PRB, que se uniu a PR e PEN. Após três dias do pleito, a maioria dos dirigentes já tem uma opinião sobre os motivos que contribuíram para a virada de Guerra.
Publicamente, o presidente interino do PDT, Agenor Basso, não admite erros na condução da campanha. Segundo ele, dois momentos contribuíram para a vitória de Guerra: a insistência do candidato de oposição em desconstituir o governo do prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) e a indignação da população com os escândalos da Operação Lava-Jato.
O presidente do PSC, Tito Cavali, também afirma que não houve um equívoco que motivou a derrota do pedetista. Para o presidente interino do PTB, Gilberto Meletti, o marketing político da campanha do candidato republicano superou o do pedetista. Ele diz que Guerra apareceu como novo personagem e uma nova proposta para os eleitores que querem uma mudança.
Guila Sebben, presidente interino do PP, preferiu não comentar sobre possíveis erros antes de reunir os integrantes da sigla para uma avaliação. Para Guila, a população rejeitou o bloco formado por 21 partidos com ideologias diferentes como, por exemplo, o próprio PP com o PDT.
Já o presidente do PSB, Adriano Boff, criticou a condução da campanha que levou a derrota de Néspolo. Ele compara os erros da coordenação com o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
– Foi um somatório de fatores – diz.
Boff lista os erros: atritos na escolha do candidato a vice, ataque ao PT no primeiro turno, ter apresentado Néspolo como gestor e mostrado poucas obras das administrações do então prefeito José Ivo Sartori e do governo Alceu.
O presidente do PMDB, que teve o candidato a vice, Antonio Feldmann, reconhece que houve erros na condução da campanha como mostrar as ações dos 12 anos do governo e desconstituir a candidatura de Guerra. Para José Luiz Zechin, a participação do presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, e do pré-candidato à Presidência, Ciro Gomes, que pediram apoio do deputado federal Pepe Vargas, também contribuiu para a derrota.
ASPAS PARA OS PRESIDENTES
"Houve uma onda nacional de repúdio ao PT e aos demais partidos. Talvez a gente não tenha conseguido entender. O estilo da campanha (do Néspolo) era muito parecido com as campanhas do Sartori, com jantares de mobilização. Isso dá certo para ele (Sartori). Não deu certo aqui. A gente fazia parte do conselho de presidentes... As avaliações que a gente levava eram sempre contrárias à forma como estava sendo conduzida (a campanha), como tirar a música da campanha, se vincular mais às obras realizadas. Os erros foram os mesmos do impeachment da Dilma, é um somatório de fatores, e não um só. A fadiga dos materiais, os atritos na escolha do vice. No primeiro turno, fomos muito agressivos contra o PT. O PT de Caxias do Sul não tem nada a ver com o de Brasília. Foi tentado mostrar o Néspolo como administrador, como gestor. Acho que nem ele e nem o Guerra são, os dois são políticos."
Adriano Boff, presidente do PSB
"Houve a esperteza política de quem venceu de saber captar o pensamento do eleitorado. Erro, erro mesmo acho que não houve. Eu lamento que (o candidato vencedor) tenha buscado desconstituir quem trabalhou de maneira séria, honesta, que é o nosso prefeito Alceu, que fez obras e projetos que podemos ombrear com qualquer governo anterior. Houve um aproveitamento eleitoral de uma forma que eu não considero muito honesta. Fico na esperança de que cumpra tudo que prometeu, a começar pela abertura imediata e de forma plena da UPA da Zona Norte."
Agenor Basso, presidente interino do PMDB
"Na eleição majoritária vimos, desde o início, um sentimento de mudança em todo o Brasil. Segundo ponto, o candidato Daniel Guerra simbolizou e foi muito hábil em canalizar para si esse descontentamento. Fez promessas que toda a sociedade de bom senso sabe que não existem recursos disponíveis. Se apresentou como um gestor. Podemos ter nossos pontos divergentes, mas temos que torcer para que as coisas deem certo. Certamente haverá uma oposição muito forte. Não tínhamos o protagonismo no âmbito do marketing político. Participamos de várias reuniões e levamos ideias para a comunicação da campanha coordenada pelo Vinicius (Ribeiro). Algumas coisas foram consideradas e outras não. Assumimos a derrota em conjunto, mas não vou deixar de reconhecer que houve problemas na condução. Um deles foi a vinda do Ciro Gomes e do Carlos Lupi, esse foi um erro fatal. Deveriam ter sido mostradas mais as obras dos 12 anos do governo. A gente desconstituiu pouco o Guerra."
José Luiz Zechin, presidente interino do PMDB
"O eleitor caxiense preferiu não dar mais continuidade a essa composição com um número grande de partidos e alguns com ideologias diferentes, como o próprio PP com o PDT. Essa mensagem ficou clara para o Partido Progressista. Os progressistas ainda não fizeram essa avaliação dos erros. (...) Houve erros. O eleitor não estava cuidadoso em comparar as propostas, mas em como vai funcionar a administração e o governo pelos próximos quatro anos."
Guila Sebben, presidente interino do PP
"Foi uma eleição bastante diferente, onde surgiu uma terceira via que há muitos anos não tinha em Caxias do Sul. Um novo personagem com uma nova proposta. O resultado prevaleceu em função da situação política e econômica do país que surgiu da mudança no governo federal. Agora é difícil achar os culpados. Apontar erros é fácil, assim como apontar as virtudes quando se ganha."
Gilberto Meletti, presidente interino do PTB
"Acho que (a eleição de) 2020 será um ano de muitas candidaturas. Esse projeto findou nessa eleição. Essa coligação ficou frágil pela composição política, pelo posicionamento do eleitorado e pelo que cada partido quer. Não houve um equívoco motivador da derrota. O que houve foi uma nova leitura que vinha se consolidando já no primeiro turno como aconteceu em São Paulo (com a eleição de João Doria, candidato do PSDB)."
Tito Cavali, presidente do PSC
PSDB e Solidariedade devem adotar independência
PSDB e Solidariedade (SD) deverão manter independência ao governo do prefeito eleito Daniel Guerra (PRB). As duas siglas ainda devem reunir seus filiados para discutir em conjunto o posicionamento de cada uma. Na próxima semana, o SD reunirá seus membros para definir uma manifestação oficial. Já os tucanos vão costurar uma decisão somente em novembro. Inicialmente, os partidos descartam uma aproximação com Guerra. PDT, PMDB, PP, PT e PSB prometem oposição.
O presidente do SD, Marcio Amaral, afirma que o partido vai analisar o que é bom para a população e para a cidade. O partido reelegeu o vereador Neri, O Carteiro.
– A gente apoiou outro candidato (Néspolo) e não vamos procurar o Daniel Guerra. Não somos nem situação, nem oposição ou neutro. Vamos avaliar se a situação é boa para a cidade. Se entendermos que não é bom (para a cidade), não terá o nosso apoio.
Amaral tem a expectativa de que Guerra tome algumas medidas já no início do ano para demonstrar que vai cumprir com as promessas da campanha.
– As primeiras atitudes do prefeito eleito vão dar o norte que vai seguir até o final do mandato.
A presidente do PSDB e vereadora eleita, Paula Ioris, diz que ainda não tem uma posição definitiva sobre a atuação no governo de Daniel Guerra. Paula vê dificuldades para uma aproximação.
– Nosso posicionamento sempre será favorável a Caxias. Se (a atuação) vai ser de oposição, de independência ou de aproximação? Acho mais difícil a de aproximação e procurar (Guerra). Nunca será uma oposição destrutiva, sempre será construtiva. A gente viu vereador dizendo que se é bom ou ruim para Caxias, vai votar contra. Não faria isso pelos meus valores.