O prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) conversou com o Pioneiro na terça-feira e, mesmo sem assumir que será candidato, foi claro em defesa da continuidade dos partidos que compõem o governo na disputa à prefeitura de Caxias em 2016.
Às críticas pela saída de eventos do Centro, disse que não é autoritário, que tem seu modo de governar.
Para o último ano de governo, ele anunciou alteração do organograma da estrutura da administração.
Confira as últimas notícias do Pioneiro
Pioneiro: Como a crise econômica afetou o município?
Alceu: Vamos arrecadar menos no ano que vem. Lembra que eu sempre falava em R$ 35 milhões? Pode-se falar agora em R$ 47 milhões (de perdas). Apesar de aumentar, o ICMS foi prejudicado. Se não fosse o aumento do governo do Estado, nós não íamos realizar o ICMS que estamos realizando em 2015. Porque além de diminuir esse percentual no bolo, o imposto diminuiu, diminuíram as transações, tudo. Os R$ 47 milhões são de 2014, 2015 e 2016. Mas por que vai dar só R$ 12 milhões de diferença? Porque aumentou o imposto. Caiu tudo o que tem incidência de ICMS. É reflexo das empresas, do comércio.
Está criando algum plano para dar a volta?
O plano é continuar com o decreto que temos, limitando tudo ao estritamente necessário. Tive uma reunião de trabalho com os secretários, os CCs, mostrando aquilo que apresentamos esses dias para os partidos, e já deixei bem claro que até o final de 2016 não tem aumento.
Sem reposição trimestral para prefeito, vice, secretários e CCs até fim de 2016?
Perfeito. Isto é mais que qualquer prefeitura poderia fazer. Em quatro anos de governo, só no primeiro ano teve aumento.
E obras, serviços, o que pode ser afetado?
O que mais afeta é aquela coisa a mais que se poderia fazer de reparos das obras, recapeamento asfáltico em algumas ruas, o paralelepípedo, que às vezes precisa trocar ou reparar, uma cobertura de asfalto, aquele ginásio de esportes da escola... E, principalmente, no feijão-com -arroz, no dia a dia da prefeitura. O orçamento está sendo feito em cima da saúde e da educação.
Como é a relação de Caxias com o governo do Estado?
É um engano as pessoas acharem que essa relação de proximidade que tenho com o Sartori (José Ivo, governador), com o governo do Estado, está beneficiando Caxias. Não está vindo uma vírgula para Caxias do Sul, a mais ou a menos. Pelo contrário, hoje está pior do que antes, na saúde, inclusive. Falando especificamente de saúde, hoje Caxias está sendo mais desassistida do que no governo passado. Não tenho nenhuma dúvida disso. Absoluta falta de dinheiro do Estado. Daí as pessoas dizem: "Ah, tu é amigo do Sartori". Sim, amigo nós somos, agora negócios à parte, né? Ele não vai mandar recursos para Caxias só porque é Caxias.
O senhor está prevendo alguma medida mais drástica?
Estamos cortando 30% de todos os contratos, isso não é pouca coisa. São materiais de expediente, de escritório, prestação de serviços da prefeitura, limpeza, higiene, merenda, tudo o que a prefeitura depende de fornecedores. Se você pegar só esse não repasse de aumento para prefeito, vice, secretários e CCs, passa de R$ 500 mil. Diminuir salário não pode. Temos um projeto muito importante para o futuro, que é resultado desta assessoria que pegamos para fazer o plano de carreira e a reforma administrativa. Está muito bem gestado, estudado, e estamos dissecando isso. Tem muita implicação jurídico-legal. Lá na frente vai ser apresentado um projeto bem ousado.
Vai mexer com toda a estrutura? Tem previsão? Altera as secretarias?
Toda. Estamos chegando lá. Ano que vem. Ela altera o organograma da estrutura da prefeitura administrativa.
Resulta em enxugamento?
Dá uma diferença substancial, que diminui bastante a máquina. Tem muito critério, porque não pode fazer uma coisa que vai te criar problema. Porque essa falta de admissão de pessoas, não é fácil essa gestão. Na prefeitura de Caxias não chega a 300 CCs, é extremamente enxuta. Não é fácil.
Entra fusão de secretarias?
Sim, exatamente isso, é um enxugamento. Tem que fazer enxugamento que não prejudique o serviço. Esses dias estávamos falando de fazer uma adequação nos postos de saúde, numa questão que é meia hora (de funcionamento), mas meia hora lá no final do expediente, que não altera nada. As pessoas já fazem um barulho, pensando que vai tirar serviço, não é isso. É adequar, é otimizar.
Tem a mudança de eventos no Centro. Isso é considerado autoritário por alguns.
Uma coisa fique bem claro: eu não sou autoritário, tenho meu modo de governar. Mas quando me disseram, e das bocas que vieram essa história do autoritário, eu digo: prefiro ser autoritário do que ser ladrão, corrupto. Mas eu não sou. Os livreiros vieram aqui, conversaram, depois disso foi reunido, (a Feira do Livro) era pra ser transferida este ano, por conversa, por consenso não foi. Não houve falta de diálogo. Algumas pessoas se acham donas de algumas ideias e acham que isso é imutável, porque sempre foi assim. Sempre foi, agora não vai ser mais. É uma mudança para o bem, para um lugar melhor. A prefeitura ali está investindo todo ano R$ 400 mil, R$ 500 mil para as pessoas venderem livro. E aí? Se fizermos isso lá na estação nós vamos gastar muito menos e eles vão continuar vendendo os livros. Lá na estação, que é um lugar apropriado, cultural, não tem problema das criancinhas descerem do ônibus e atravessarem a rua, trancarem a Júlio de Castilhos, facilita o acesso.
Qual é a economia que o senhor está projetando com a mudança da Feira do Livro?
Reduz a metade. E com o tempo, criando uma estrutura, no futuro vai se gastar muito menos do que se gastava hoje. Se persistir lá, porque sou prefeito até 31 de dezembro de 2016. Se amanhã ou depois o meu sucessor entender que o desfile da Festa da Uva vai voltar para a praça, qual é o problema? Agora, o que eu quero é que me deem o direito de experimentar o novo.
A Câmara reprovou a abertura da rua que divide a Maesa. O senhor vai sancionar?
Os técnicos da prefeitura sempre se manifestaram contra. Mas a Câmara de Vereadores fez, eu respeito. Vou me aconselhar. Eu não tenho isso maduro na minha cabeça. O que eu penso: independentemente de lei, a rua nunca vai ser aberta. Pelo menos enquanto eu for prefeito. Como é que tu vai derrubar aqueles muros para fazer uma rua? Aquilo é patrimônio histórico e vai ser preservado. Com lei ou sem lei, não altera nada. Já foi feito o decreto de tombamento. O que falta é registrar no registro de imóveis. Eu não posso fazer o registro enquanto não houver o documento público, que está sendo providenciado, que é a transferência lá no cartório de registro de imóveis do Estado para o município.
E nunca esquecendo que ainda tem lá dentro uma fundição, que a gente está negociando, que há de sair o mais breve possível. Uma propriedade só se consolida quando está registrada no cartório. O ato de transferência já houve, que é a doação por lei. Vou levar essa escritura ao registro, pois tinha problema de área nas matrículas antigas. Nunca ninguém disse que lá ia ser depósito de escola de samba. Hoje, você fazer os carros da Festa da Uva lá dentro, com todo aquele espaço sobrando, não altera nada o local e as condições da doação e do monumento histórico. Confeccionar os carros da Festa da Uva, que é uma coisa artesanal, isso é problema. Ter uma fundição funcionando lá, não é problema? Vai se usar da melhor maneira possível. Quanto mais secretarias puder passar para lá, mais eu quero, porque é economia.
Isso está dentro daquelas mudanças previstas?
Sim, sim. A questão de passar a Secretaria de Segurança Pública e Proteção Social para já termos a Guarda lá dentro, isso tudo está andando, mas não da cabeça do prefeito. Isso tudo com respaldo e em consonância com a comissão (Comissão Especial para Análise de Uso do Prédio da Maesa).
Dá para nós fazermos o mercado público, dá para ter um bom restaurante, uma boa lancheria, um teatro, um espaço de ocupação cultural bacana. E aí vem outra coisa: quem vai pagar toda essa conta?
O senhor não tem ainda a definição se vai concorrer ou não?
Não. A definição que eu tenho é que sou contra a reeleição.
Tem dúvida?
Claro. Hoje eu não tenho definido se concorro ou se não concorro. O que defendo é a manutenção desse projeto. Defendo que tem que ser o PDT de cabeça de chapa, o PMDB de vice e a conjugação desses partidos que estão conosco hoje.
Defende a continuidade?
Defendo. Mas o projeto não precisa ter o Alceu e o Toninho (Antonio Feldmann, PMDB).
Se sair da chapa à prefeitura uma das atuais figuras principais, especialmente o prefeito, muda tudo...
Eu digo um pouco diferente. Não necessariamente pode haver mudança, porque no PDT tem muita gente qualificada que pode me substituir e no PMDB, que já tem o vice e pode mantê-lo e tem muita gente boa também. Acho que a política tem que ser despersonalizada. Caxias caminhou muito assim, concorreram muito Pepe, Rigotto, Sartori... Pepe, Rigotto, Sartori... Isso mudou, é o Alceu. E quando isso se abriu (sem os nomes tradicionais) está se vendo a continuidade de tudo sem transtorno, porque as pessoas em Caxias são comprometidas com gestão, com a coisa séria.
A decisão de concorrer será política, pessoal ou profissional?
Pessoal. Não tenho nenhuma incompatibilidade com nenhum partido que está na base, tanto que estamos há três anos juntos. E é por isso que defendo a continuidade, são três anos de harmonia, teve um titizinho daqui, dali. Mas também, né?, 20 partidos juntos vai ter (um titizinho), mas depois se compõe, se conversa, se acerta. Essa ação toda que a prefeitura tem é fruto da força dos partidos, do respaldo da Câmara.