Ambiente naturalmente questionador, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) compôs o mapa de resistência à ditadura militar no município no que diz respeito a alguns estudantes e alguns professores. Do ponto de vista da direção, no entanto, ocorria exatamente o contrário, segundo a historiadora Loraine Slomp Giron, que começou a lecionar na instituição em 1961. O reitor entre 1967 e 1972 era Virvi Ramos, que conseguira alçar a UCS ao status de universidade graças a um decreto do então presidente Costa e Silva.
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- Havia uma relação muito próxima entre o governo militar e o reitor. Logo, a UCS estava aberta a tudo e a todos do poder - afirma a professora.
A partir da mudança no status da universidade foi introduzida a disciplina obrigatória Estudos de Problemas Brasileiros (EPB), instituída pelos militares e voltada à doutrinação ao regime. Segundo Loraine, professores pensantes eram considerados subversivos e comunistas. Relatórios mensais das atividades desses docentes eram analisados pelos repressores.
- Havia uma rede muito bem estruturada dentro da instituição. Havia alunos que nos agrediam, não permitindo a livre expressão do pensamento. Professores entregavam colegas. Era muito duro, e o pior de tudo era a autocensura. Para dar aulas, se usava o matinho próximo do Bloco A para evitar a gravação do que se falava.
Na década de 1970, o ex-prefeito José Ivo Sartori atuava no movimento estudantil da UCS, chegando a presidir o Diretório Central de Estudantes (DCE). Em 1973, lideranças de universidades de Caxias, Porto Alegre, São Leopoldo, Santa Maria e Pelotas decidiram promover um congresso estudantil em Caxias. Pouco depois, o DCE trouxe para a cidade o show do então subversivo Chico Buarque. Nas duas oportunidades, Sartori foi chamado a prestar esclarecimentos ao Exército.
- Fomos livremente coagidos a aceitar o convite para tomar um cafezinho no quartel. Só isso. Com direito a café com leite - ironiza.
Sartori recorda que era constantemente vigiado. Reunir cinco ou seis pessoas já era considerado perigoso, especialmente se houvesse envolvimento político.
- Mas a gente sabia como escapar disso, inventava um aniversário, festa de batizado... Era o momento para discutir o que íamos fazer na semana seguinte. Arrumávamos álibis permanentes para desfocar aquilo que os outros queriam nos imputar. Não que a gente fosse maldoso ou tivesse atitudes de prepotência ou arrogância, mas fazia parte da luta dos estudantes pela redemocratização do país - revela.
50 Anos do Golpe Militar
Pensadores eram considerados subversivos pelo regime militar
Em Caxias do Sul, professores sentiram a pressão contra a livre expressão
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