Permanece preso em Porto Alegre o empresário caxiense Nei Renato Isoppo, diretor-proprietário da empresa Água Mineral Boca da Serra, localizada em Vila Seca.
Ele foi detido na manhã de segunda-feira, em Caxias, por suspeita de envolvimento em um esquema de fraudes na concessão de licenças ambientais. Além dele, outras 16 pessoas ainda estão em celas do Presídio Central, incluindo atuais e ex-secretários dos governadores Tarso Genro (PT) e Yeda Crusius (PSDB).
O advogado do Isoppo, Angelo Rafael Neves Xavier, garante que não houve crime ambiental ou compra de licença para a exploração de água em uma área de 20 mil metros quadrados apresentada no site da empresa "no entorno de 186 mil hectares de mata protegida, a maior área de preservação ambiental para extração de água da Mata Atlântica brasileira".
Uma nota oficial assinada pelo advogado Fernando Barretti, que atua com Xavier, diz que "a acusação está fundada em suspeita, isoladamente, na pessoa do sócio da empresa, numa suposta troca de influências". Xavier acrescenta que o motivo da prisão foi a ligação de Isoppo a uma pessoa que, por sua vez, teria vínculo com um funcionário público.
Ele não esclareceu o que teria ocorrido a ponto de culminar na prisão, também não disse de qual esfera seria o referido servidor público. Outro advogado que atende a empresa, Denis Jorge Acco, conta que o processo para Isoppo conseguir a autorização para extrair e comercializar água durou de oito a nove anos, via governo federal. Acco trabalha para Isoppo há mais de 10 anos, atuando em processos reclamatórios na Justiça do Trabalho.
Isoppo obteve a Licença de Operação (LO) para engarrafamento de água junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) em 2006, último ano do governo Germano Rigotto (PMDB). Naquele ano, presidia a Fepam Claudio Dilda, que em março do mesmo ano assumiu a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, ficando até o final do governo Rigotto.
- Esta área de licenças ambientais é complicada, mas o Dilda nunca causou problemas. Pelo contrário, tanto na Fepam quanto na secretaria ele apresentou um trabalho muito bom - testemunhou Rigotto.
Em 2007, quando Yeda Crusius (PSDB) assumiu o governo, Claudio Dilda foi convidado pelo prefeito José Ivo Sartori (PMDB) para trabalhar no Samae. Ficou na autarquia, com cargo de confiança equivalente a secretário (CC8) até dezembro do ano passado.
Sartori, que na noite de terça-feira à noite estava em Passo Fundo, não pôde atender ao telefone para falar de sua relação com Dilda. O vice de Sartori e atual prefeito, Alceu Barbosa Velho (PDT), confirma:
- Dilda trabalhou no Samae de 2007 a 2012. Era amigo do Sartori e, no Samae, era responsável pelo licenciamento ambiental. Não o mantive por não ter relação. Não tenho nada contra, nem nada a favor.
Hoje residindo em Porto Alegre, Dilda afirma conhecer a água mineral Boca da Serra, mas não o proprietário Nei Renato Isoppo. Sobre sua função no Samae, diz:
- Eu trabalhava em projetos e assessorava o então diretor Marcus Vinicius Caberlon na área ambiental. Questionado se utilizou a influência e os contatos no governo do Estado para obtenção de licenças para o Samae entre 2007 e 2012, como na obra do Sistema Marrecas, Dilda é categórico:
- Eu ajudei o Samae a fazer a coisa certa.
Operação Concutare
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Advogado de Nei Renato Isoppo garante que não houve crime ambiental ou compra de licença
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