Dados do programa RS Seguro, divulgados pela Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP-RS), mostram que Caxias do Sul vem registrando uma queda constante nos casos de roubo de celular nos últimos anos. Em uma estatística desde o ano de 2016, o maior município da Serra passou de 2.187 ocorrências naquele ano contra 774 no ano passado, uma queda de 64%. Se comparado com o ano anterior, 2022, que teve 848 episódios, a baixa em 2023 foi de 8%. Com isso, Caxias foi na contramão do Estado, que, conforme o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, teve um aumento, passando de 3.188, em 2022, para 3.511, em 2023, uma alta de 10%.
Os roubos de celular estão incluídos nas métricas de roubo a pedestre em Caxias do Sul. Mas, segundo o delegado regional da Polícia Civil, Augusto Cavalheiro Neto, mais de 95% dos roubos a pedestre são para subtrair o aparelho eletrônico. Isso porque o aparelho costuma ser usado como moeda de troca para o tráfico de drogas ou para venda de peças em empresas clandestinas de conserto de equipamentos eletrônicos.
Sobre as principais marcas de celular mais roubadas no Brasil, conforme o anuário, em 2023 a mais visada pelos criminosos foi a Samsung, com 37,4% dos casos, Motorola, com 23,1%, Apple com 25%, e Xiaomi, com 10%.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública, divulgado em março, aponta que o Brasil teve 442.999 roubos a celular no ano passado. No ano anterior foram 492.905 registros, ou seja, queda de 10% entre 2022 e 2023. Segundo o estudo, os roubos no país ocorrem, na maioria das vezes, quando as pessoas estão saindo de casa para o trabalho ou para a escola, nos dias úteis da semana, entre 5h e 7h, e também no final do dia, no retorno para casa, entre 18h e 22h.
Este tipo de crime, no ano passado, ocorreu em 78% das vezes em vias públicas. Conforme o delegado regional de Caxias, Augusto Cavalheiro Neto, uma característica que motiva o criminoso a agir é a desatenção do pedestre.
— O criminoso quer uma presa fácil. Ele estuda a vítima e, quando ela está mexendo no celular, expondo o bem material enquanto anda na rua ou está na parada de ônibus, o criminoso se aproxima, mostra a faca, revólver ou faz menção de estar armado, ameaça e leva o celular — detalha Cavalheiro Neto.
O Anuário Brasileiro também demonstrou que os jovens, com idades entre 20 e 29 anos, foram a maioria das vítimas de roubos no ano passado.
Na opinião do subcomandante do 12º Batalhão da Brigada Militar (BM) de Caxias do Sul, major Wagner Carvalho, algumas medidas de precaução podem ser tomadas pelas pessoas para evitar a exposição:
— A pessoa não deve andar na rua digitando no celular, parar em local ermo para atender o telefone ou até mesmo mandar mensagem. Guarde o celular em um local seguro, dentro da mochila ou da bolsa, evite ficar mostrando o aparelho aos outros. Todas essas situações reduzem a possibilidade de roubo e podem evitar que esse tipo de ação venha a evoluir para latrocínio, que é o roubo seguido de morte — explica o subcomandante.
Roubos de celular em Caxias nos últimos anos
Ano e número de casos registrados
- 2016: 2.187
- 2017: 1.749
- 2018: 1.345
- 2019: 1.331
- 2020: 1.141
- 2021: 887
- 2022: 848
- 2023: 774
- 2024: 324
Combate ao roubo
O roubo a celular é um dos crimes monitorados pelo programa RS Seguro, conforme explica o delegado Cavalheiro Neto. É um crime com uma pena que varia de quatro a 10 anos de prisão.
Na avaliação do major Carvalho, a atuação ostensiva da Brigada Militar nas ruas é um dos fatores que contribuíram para a redução dos casos em Caxias nos últimos anos. O militar explica que as operações são feitas em horários e locais onde havia registros do crime, e isso tem auxiliado para inibir a ação do criminoso e para efetuar a prisão em flagrante do suspeito.
— É difícil a gente fazer um estereótipo do autor, mas o que a gente visualiza é que são pessoas que vivem em situação de rua e consumidores de entorpecentes que cometem este crime para troca do objeto por dinheiro. O ladrão sabe que vai ter um lucro com aquele aparelho — explica Carvalho.
Por isso, uma das ações das forças de segurança em Caxias do Sul é a Operação Mobile, realizada mais de uma vez por mês, onde as polícias vistoriam estabelecimentos comerciais que revendem ou consertam celulares. A fácil receptação do aparelho é um incentivo para o criminoso agir.
Em 2024, já se percebe queda também no indicador, segundo a Brigada Militar. No primeiro semestre deste ano foram 331 crimes de roubo contra 506 no mesmo período de 2023, uma redução de 34,6%. Até o dia 29 de julho deste ano foram 324 casos em Caxias.
Especialista em segurança pública diz que dados não refletem a realidade
Já o professor Charles Kieling, historiador especializado em Ciências Sociais na área de Segurança Pública e estudioso do tema há, pelo menos, 30 anos, diz que os dados divulgados pelas autoridades baseiam-se apenas nos boletins de ocorrência registrados pelas vítimas. No entanto, o especialista acredita que há uma diminuição no número de ocorrências que são registradas.
— Um grande número de pessoas deixou de fazer ocorrência, porque viu que não dá resultado. Então, dentro desse número dos 64%, que eles dizem que houve de redução, na verdade, há pessoas que desistiram de fazer a ocorrência policial — opina o especialista.
Outro fator que contribui para a diminuição no registro de ocorrências, ainda segundo Kieling, é a facilidade de adquirir um novo celular. Mais um aspecto levantado pelo professor é que o mercado está se adaptando a essa realidade e facilitando a compra, inclusive, diminuindo o valor do produto.
Já o delegado regional da Polícia Civil, Augusto Cavalheiro Neto, não acredita que as pessoas estão deixando de fazer o registro de ocorrência em casos de furto e roubo de celular. O aparelho, hoje em dia, é onde estão armazenados muitos dados pessoais e estratégicos das pessoas, como documentos e todos os aplicativos de contas bancárias, por exemplo.
— Essa situação de crimes que não são trazidos pela população ao conhecimento da polícia através do boletim de ocorrência, a gente não descarta que possa acontecer. Mas a experiência nos mostra que, até mesmo porque o celular é possível de rastreio, a pessoa, assim como ocorre no furto de veículo, por exemplo, a tendência dela é registrar ocorrência para que não possa ser habilitado com nenhuma outra linha — explica o delegado.
Como se proteger
O comandante-geral da BM, Cláudio dos Santos Feoli, dá algumas dicas para que as pessoas se protejam contra furtos e roubos:
- Manter bolsas e mochilas fechadas, junto ao corpo
- Tomar cuidado ao manusear o aparelho em locais públicos
- Não colocar o dispositivo no bolso de trás da calça
- Evitar manusear o celular em locais escuros
- Se observar alguém suspeito, ou cometendo furtos, denunciar imediatamente às autoridades
Levaram meu celular, e agora?
O advogado José Milagre, especialista em crimes cibernéticos, dá algumas dicas importantes para atenuar e prevenir danos, caso o seu celular tenha sido roubado ou furtado:
- Preventivamente, o ideal é ter um "celular de casa", reservado para as contas ou, pelo menos, não sair com todos os aplicativos bancários no celular
- Usar aplicativos que ocultam os programas sensíveis também é uma estratégia efetiva
- Ativar biometria e segundo fator de autenticação para todos os apps
- Após o furto, procurar um outro dispositivo, acessar o icloud, em caso de sistema iOS, ou findmydevice, se for Android, e rastreá-lo solicitando bloqueio
- Imediatamente, contatar bancos, operadoras, exchanges para bloquear contas, chips e transações
- Ativar todos os recursos de segurança do celular
- Registrar a ocorrência policial
Denuncie
- Brigada Militar: 190
- Disque-Denúncia: 181
- Pela delegacia online
- Na delegacia mais próxima