Há seis meses o Centro Integrado de Operações de Caxias do Sul (Ciop) entrou em funcionamento, integrando as forças de segurança de Caxias do Sul. A inauguração ocorreu no dia 9 de outubro de 2023. Graças ao videomonitoramento das 300 câmeras, os índices criminais de roubo a pedestres, a estabelecimentos comerciais e de veículos tiveram redução. Além disso, as imagens já serviram como prova em incontáveis inquéritos policiais de crimes contra a vida. A ferramenta é operada por 60 agentes diariamente, integrantes da Guarda Municipal, Brigada Militar e Polícia Civil.
O secretário municipal de Segurança Pública e Proteção Social (SMSPPS), Paulo Roberto Rosa da Silva, explica como é o trabalho de monitoramento. Por exemplo, um homem de boné branco e camiseta verde em atitude suspeita próximo de um contêiner de lixo. Esse homem comete o crime de colocar fogo no equipamento de lixo seletivo:
— O agente do Ciop aciona uma viatura e acompanha as ruas que esse homem vai passar. A polícia da rua faz a abordagem, da a voz de prisão, leva ele até a delegacia e informa na ocorrência que as imagens o pegaram em flagrante. Essas imagens vão ser salvas para servir como prova no inquérito policial.
Reduções nos índices
Rosa afirma que há dois tipos de câmeras instaladas na cidade: as que fazem cercamento eletrônico e as de videomonitoramento. O cercamento eletrônico serve para identificar os veículos que passam pela cidade. As câmeras tem um sistema que permite a inserção automática de placas de veículos roubados e, quando eles passam por algum dos equipamentos, é emitido um alerta para o Ciop. Segundo a Guarda Municipal, o sistema registra em média 12 milhões de placas por mês em Caxias. Já no caso do videomonitoramento, o objetivo é flagrar pessoas cometendo crimes e identificá-las. Algumas câmeras são fixas, outras são do modelo Speed Dome (giram 360º). Em caso de envolvimento em um crime, por exemplo, um veículo que foi roubado em via pública, o proprietário não pode solicitar imagens das câmeras do Ciop de forma direta. O pedido pode ser feito apenas via judicial.
— No caso da repercussão do estudante que foi sequestrado dentro de uma van, em Caxias, no final do ano passado. As câmeras foram fundamentais para auxiliar na identificação do veículo, acompanhar o trajeto feito pelos criminosos e localizar o ponto em que o menino estava. Foi um trabalho integrado que teve um resultado positivo. Esse é o objetivo do Ciop — salienta o secretário.
- Nos três primeiros meses de 2023, 63 contêineres de lixo seletivo foram queimados em Caxias do Sul. Neste ano, no mesmo período, foram sete. A união dos setores de inteligência das forças de segurança, Codeca e Ciop já identificou e prendeu três pessoas responsáveis pelo crime.
- A Guarda Municipal flagrou pelas câmeras 75 pessoas, em seis meses, cometendo crimes diversos. Todos foram detidos e levados para a Delegacia de Polícia. Dentre eles, um homem que pichou o próprio prédio do Ciop foi preso em flagrante pelos servidores.
- Roubo de veículo: no primeiro trimestre de 2023, 63 carros foram roubados em Caxias. No mesmo período de 2024, o número caiu para 39, uma redução de 38%.
- Roubo a pedestre: no primeiro trimestre de 2023, 192 pessoas foram roubadas em Caxias. No mesmo período de 2024, houve queda para 142, uma redução de 26%.
O Centro Integrado estava no papel há cerca de 20 anos, segundo o secretário, em busca de investimentos e passando pelas burocracias do poder público municipal. O espaço atual foi alugado por 10 anos e o serviço do sistema por quatro, sendo atualizado pela empresa ao fim de cada período. Contudo, mesmo com esses prazos de encerramento de contrato, o secretário de Segurança afirma que o Centro Integrado "veio para ficar" e os contratos devem ser renovados.
O acesso ao Ciop é permitido apenas para os servidores autorizados, com entrada principal pela Rua Marechal Floriano, próximo ao cruzamento com a Rua Tronca, na área central de Caxias. A estrutura tem 1,2 mil metros quadrados que comportam cinco salas: administrativas, de reuniões, de crise, de aula para 40 pessoas, além de vestiários, banheiros, cozinha e garagem para os veículos de segurança.
Na sala principal há 15 estações de trabalho, com 10 painéis de vídeo de 55 polegadas e 30 monitores de bancada de 24 polegadas. Nas ruas estão instaladas câmeras de videomonitoramento, de cercamento eletrônico e junto aos totens dos relógios eletrônicos. No total, são 300 equipamentos, com investimento de mais de R$ 20,7 milhões. Os pontos onde as câmeras são instaladas não foram divulgados, justamente para flagrar ocorrências. Por exemplo, 20 delas ficam próximas das Estações Principal de Integração (EPI) do transporte coletivo Floresta e Imigrante.
Os próximos objetivos, de acordo com Rosa é a integração com as câmeras LPR (Leitura e Reconhecimento de Caracteres do Rio Grande do Sul). Também está em tratativa com a Polícia Rodoviária Federal a viabilidade de integração com o sistema nacional. A intenção é ampliar a visibilidade sobre os veículos que passam por Caxias do Sul.
Brigada Militar (BM)
A Brigada Militar tem permanentemente militares dentro do Ciop. Os brigadianos estão divididos em duas bancadas. Em uma delas, são gerenciadas três linhas do telefone 190 e a outra acompanha e despacha as viaturas. Ao solicitar o apoio da BM para uma ocorrência, o caxiense liga para o 190. Um servidor da BM atende o telefone e ouve a solicitação. Ele avalia e pode tomar duas ações: orientar a pessoa a acionar outro órgão competente ou acionar uma viatura para ir até o endereço. A outra equipe monitora por GPS e localiza a viatura mais próxima, a despachando para a ocorrência.
Caso algum desses brigadianos flagre pelas câmeras alguma situação de crime, mesmo sem o chamado de algum envolvido pelo 190, a viatura é deslocada para o endereço e pode atuar.
Desde outubro, quando o Ciop foi inaugurado, a BM gerou 8.494 ocorrências gerais com o apoio do videomonitoramento. Veja a seguir:
— Os números são muito positivos. A tecnologia, aliada ao raciocínio policial, produz excelentes conhecimentos que se traduzem em prisões nas ruas — afirma o comandante do 12° Batalhão da Brigada Militar, tenente-coronel Ricardo Moreira de Vargas.
Polícia Civil (PC)
A Polícia Civil de Caxias do Sul tem um agente permanente dentro do Ciop, que trabalha na coleta de imagens que servirão como provas ou para acionar os demais agentes das delegacias para repassar um crime que está em andamento. Segundo o delegado regional Augusto Cavalheiro Neto, as câmeras colaboram positivamente para na identificação da autoria, dos veículos e armas utilizadas nos crimes.
Cavalheiro relata que a PC já conseguiu contabilizar uma redução no número de crimes patrimoniais graças à implantação das câmeras em pontos estratégicos.
— Tivemos redução em crimes como roubo de pedestres, veículos e em estabelecimentos comerciais. Em outubro do ano passado, no roubo a pedestre, por exemplo, a média era 69 por mês. Em março deste ano, caiu para 60,3. Nesse crime, entre outubro e março tivemos números abaixo da média. Inclusive, em fevereiro, foram 37 crimes, a menor média dos últimos 10 anos — destaca Cavalheiro.
As demais reduções foram de roubo de veículos (de 18,1 para 14,3) e nos roubos a estabelecimentos comerciais (de 5,3 para 4,3), segundo dados coletados pelo delegado no sistema do RS Seguro. Nos crimes contra a vida, como homicídios e feminicídios, não é possível fazer a contabilização. Contudo, o delegado afirma que há números positivos também.
Polícia Rodoviária Federal (PRF)
A maioria dos pontos onde as câmeras estão instaladas não são divulgadas justamente para que flagrem as rotas de fuga utilizadas pelos criminosos. Esses pontos foram definidos com apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF). De acordo com o chefe da Delegacia da PRF em Caxias, Jonatas Josué Nery, devido à falta de efetivo, não há um agente trabalhando no Ciop, mas há o acesso remoto pelos agentes da delegacia.
Nery destaca que não são contabilizados em quantos casos as câmeras já auxiliaram a PRF. A principal ferramenta utilizada pelo setor de inteligência da polícia é a possibilidade de mapear o trajeto dos veículos suspeitos em casos de crimes contra a vida, tráfico de drogas, descaminho, contrabando, entre outros. A tecnologia permite que os agentes cadastrem placas dos veículos e o sistema emite um alerta. Esse alerta pode ser útil no ato do crime ou é possível pesquisar alguns dias anteriores para verificar o trajeto que ele fez antes.
— Os criminosos não usam as principais vias, como a BR-116 e a RS-122 ou as ruas centrais para fugir. Eles utilizam estradas e vias do interior, de bairros menos monitorados. Por isso, essas câmeras ajudam a acompanhar por esses pontos cegos.
A PRF tem acesso remoto a todas as câmeras coordenadas pelo Ciop, mas a intenção, segundo o chefe da PRF, é que no futuro haja efetivo suficiente para disponibilizar que um agente fique pessoalmente no Centro.