A JBS de Ana Rech, em Caxias do Sul, negou nesta quarta-feira (10) que o venezuelano Edgar Oliveros Acosta, 37 anos, tenha pedido ajuda na enfermaria da empresa antes de ser encontrado sem vida no banheiro do local, como foi relatado por funcionários ao Pioneiro. O homem, que estava na empresa há quatro dias, morreu no início da tarde desta terça (9).
Em conversa com a reportagem por telefone, assessores de imprensa da JBS e a técnica de enfermagem Gabriela de Oliveira Marques afirmaram que, por volta das 12h30min, um funcionário chegou na enfermaria informando que havia um homem passando mal no banheiro e "não sabia se ele já não estava morto".
A enfermeira acionou um técnico de segurança e ambos foram até o banheiro masculino. No local, encontraram Acosta desacordado, sentado no chão e com vômito na boca. Um supervisor já estava no local quando os dois chegaram. A equipe tentou fazer a reanimação do homem por cerca de 20 minutos, mas sem sucesso. O suporte da Resgate Sul Emergências Médicas foi acionado em seguida e, conforme a técnica de enfermagem, os socorristas chegaram no local por volta das 13h.
Até a chegada da ambulância, Gabriela afirma que a equipe continuou fazendo o procedimento de massagem cardíaca em Acosta e foi instalado um equipamento para suporte cardíaco. Quando os socorristas chegaram, os médicos mantiveram as manobras de ressuscitação e medicação, mas o venezuelano não reagiu e o médico atestou o óbito. Após a situação, o banheiro foi isolado.
— Não tinha muito o que ser feito. porque o médico atestou o óbito e foi isso. Em momento nenhum ele não teve atendimento, ele também não nos procurou na enfermaria para relatar que estava passando mal. Ele estava almoçando com colegas, se encaminhou ao banheiro e do banheiro aconteceu tudo o que te relatei — diz Gabriela.
A reportagem do Pioneiro esteve na empresa na terça (9) e nesta quarta-feira (10) e, conforme relatos de funcionários, o venezuelano teria ido até a enfermaria e ouvido da equipe que ele poderia estar com frio e, em seguida, teria pedido que ele retornasse para as atividades. Alguns colegas de trabalho disseram ainda que foi solicitado para Acosta uma requisição, que ele deveria pedir para o próprio gestor para, enfim, receber atendimento.
— Essa questão da requisição que está sendo falada é um procedimento interno da empresa para ter controle da saída dos funcionários, não para regular se o funcionário tem que ir para a enfermaria ou não. É só para o supervisor saber onde o funcionário se encontra e a condição de saúde dele. Se ele tivesse nos procurado e dito que estava passando mal e não estava se sentindo bem, a gente ia prestar o atendimento para ele sem essa requisição, porque (esse) é um caso diferente. A gente avalia todos os casos, mas, em momento nenhum, ele procurou a enfermaria. Ele só relatou, para o colega que estava almoçando junto, que ele não estava se sentindo bem e que iria ao banheiro — afirma a técnica de enfermagem.
A enfermeira mencionou ainda que uma equipe de quatro enfermeiros prestam atendimento aos cerca de 1,3 mil funcionários, em todos os horários em que a empresa opera e pontuou que os sinais de problemas anunciados por funcionários são comumente identificados e que a equipe "não nega atendimento".
Na manhã desta quarta, uma funcionária da empresa conversou com a equipe do Pioneiro e questionou o atendimento da enfermaria do local.
— Não temos acesso à enfermaria sem autorização do supervisor e, algumas vezes, tu não encontra, porque estão sempre em reunião — relatou a mulher.
Em contato com a Polícia Civil, a guarnição informou, na tarde de terça-feira, que recebeu a ligação da empresa por volta das 16h. A assessoria da JBS afirmou que "os órgãos foram acionados para prestar atendimento ao funcionário" e que o atendimento ocorreu "no tempo normal". Após constatado o óbito por parte dos médicos, a polícia foi chamada e, ainda segundo a assessoria da JBS, "parece que houve demora da própria polícia" para chegar no local.
A Polícia Civil afirmou à reportagem que foi até o local assim que foi informada sobre o caso e que o atendimento ocorreu normalmente, sem atrasos.
Paralisação dos funcionários
Desde a tarde de terça-feira, os funcionários da empresa paralisaram os serviços em prol do colega morto. Na manhã desta quarta, mais uma paralisação de cerca de 80 funcionários ocorreu para cobrar explicações por parte da JBS.
Questionada sobre as paralisações, a assessoria de imprensa da JBS afirmou que os funcionários ficaram comovidos com a situação e que essa "comoção é perfeitamente explicável pelo modo como coisas se deram", por ser um colega de trabalho e que se trata de uma comoção "bastante natural", porque cada pessoa reage de uma forma.
A JBS disse ainda: "o que está no controle da empresa é prestar auxílio. Os funcionários foram todos liberados e tudo o que a empresa poderia fazer, como disponibilizar dois ônibus para o velório na manhã desta quarta e prestar assistência e suporte, para a família de Acosta, foi feito".
As investigações
O caso está sendo investigado pela Polícia Civil. De acordo com o delegado Rodrigo Duarte, da 1ª Delegacia de Polícia de Caxias, um inquérito já foi instaurado, mas a causa da morte de Acosta só poderá ser confirmada com o laudo necroscópico, que não tem data para ser entregue.
Em conversa com a reportagem, o diretor do Instituto-Geral de Perícias (IGP) em Caxias, Airton Kraemer, afirmou que a causa da morte é indeterminada até o momento e que a equipe aguarda o exame anatomopatológico no coração para verificação de infarto agudo do miocárdio, que pode ficar pronto em até 90 dias. O diretor adiantou que "o importante é que não se trata de uma morte violenta".
O gerente regional do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Vanius Corte, afirmou que uma reunião com a JBS e o Sindicato dos Trabalhadores está prevista para ocorrer nesta quinta-feira (11) "para esclarecer algumas coisas" do caso, mas que ainda não é possível dar informações concretas sobre a situação.
Edgar Oliveiros Acosta
O venezuelano morava em Caxias do Sul com a irmã e um cunhado, no bairro São Cristovão e, por indicação de uma prima, começou, na semana passada, a trabalhar na unidade do frigorífico no bairro Ana Rech.
Filho mais velho de sete irmãos, Acosta deixa os pais, que estão no país de origem, e seis irmãos, entre eles Marielis Oliveros, 33, que está há um ano em Caxias e era sua referência na cidade.
Pela burocracia de transladar o corpo para a Venezuela, os poucos familiares de Acosta na cidade optaram pelo sepultamento em Caxias, no Cemitério Santos Anjos, que ocorreu nesta quarta-feira.