A Delegacia de Polícia Civil de São Francisco de Paula instaurou um inquérito para apurar um crime de importunação sexual registrado no último dia 18, um sábado, no Lago São Bernardo. Lá, um homem de 73 anos foi detido e levado à delegacia depois de ter sido flagrado abordando mais de uma vez quatro meninas que passeavam pelo local. As vítimas têm entre 12 e 13 anos. O caso foi registrado pela Delegacia de Pronto Atendimento de Taquara, mas está sendo investigado pela polícia de São Francisco de Paula. O suspeito, segundo relatos das vítimas e testemunhas, se aproximou e perguntou se as meninas queriam fazer amizade.
A delegada Fernanda Seibel Aranha explica que um casal presenciou a cena, interviu para proteger as meninas e acionou a Brigada Militar (BM). Na delegacia, o suspeito permaneceu em silêncio e as mães das vítimas prestaram declarações. Fernanda ressalta que, pela análise preliminar, o delegado plantonista em Taquara entendeu que seria o caso de registro para apuração por inquérito policial:
— As mães das vítimas relataram que não houve contato físico desse suspeito com as meninas. No carro dele foram feitas buscas e localizados preservativos, lubrificantes, sabonetes e cervejas — explica a delegada.
Caso seja comprovado o crime, ele pode ser indiciado por importunação sexual. O tema é antigo, mas o crime foi tipificado apenas no final de 2018. A pena é de um a cinco anos de prisão, caso o ato não se constitua em crime mais grave.
— O crime consiste em praticar um ato libidinoso, sem a anuência da vítima, com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro. Pelo fato delas serem menores, ele pode ter aumento de pena nesse sentido, um aumento da gravidade de conduta — explica a delegada, acrescentando que o homem não tem antecedentes policiais referentes a este tipo de crime.
Fernanda ainda orienta a comunidade que, nesses casos, é essencial acionar a BM e tentar proteger crianças e adolescentes.
"Ele abordou as meninas e disse: vamos fazer uma amizade?" conta testemunha
Moradora de Taquara, Gizele Michel, 50, estava no Lago acompanhada pelo marido, a filha de 16 anos e o namorado da adolescente quando presenciou a aproximação do idoso e viu o constrangimento pelo qual passaram as meninas. Ela conta que a família sempre fica no mesmo ponto mas, na ocasião, optaram por sentar em outro local do parque.
— Em um banco, a uns cinco metros na minha frente, tinha quatro menininhas sentadas e conversando. Em seguida, se aproximou um senhor de idade. Aquilo me chamou a atenção e, mais ainda porque duas delas levantaram e correram. Eu vi que as duas mais pequenas ficaram acuadas e nervosas. Chamei as que correram e perguntei se estava acontecendo alguma coisa. Elas disseram que o homem havia abordado elas querendo fazer amizade — relata Gizele.
O marido de Gizele, então, chamou o homem e questionou se ele estaria com as meninas. Naquele momento, as outras duas também saíram correndo. O idoso, então, começou a filmar o marido de Gizele, que avisou que iria acionar a polícia. O suspeito, então, guardou o celular e se afastou. Conforme o casal, as meninas relataram que aquela era a segunda abordagem feita pelo homem ao grupo:
— Elas disseram que ele as abordou uma primeira vez e perguntou se estavam sozinhas. Elas responderam que sim, se afastaram e sentaram na minha frente. Aí foi quando ele fez a segunda abordagem. Ouvi nitidamente ele dizer a elas se queriam fazer uma amizade. Isso nos chocou — diz Gizele.
O casal acionou a BM, mas não conseguiu localizar o suspeito em um primeiro momento. Gizele, então, informou aos policiais ter visto o homem em um Sandero, trocando de boné. A mulher recorda que ele estava transitando devagar e teria abordado uma terceira vez as meninas mais novas, que deixavam o lago. O marido de Gizele, então, seguiu o idoso até um ponto mais movimentado e colocou o carro na frente do Sandero para evitar que ele fugisse, pedindo que descesse e entregasse a chave.
— Ele me chamou de vagabunda. Eu já estava nervosa e fiquei cega. Parti para cima dele e dei uns tapas — relata Gizele.
As meninas foram localizadas na área central de São Francisco de Paula pelo casal, que as levou novamente ao lago. De lá, todos seguiram para a delegacia para o registro de ocorrência. Abalada, Gizele lembra que as meninas estavam muito assustadas e as mães delas também. Enquanto isso, o homem estava tranquilo, sem demonstrar nervosismo. Ela conta que se sentiu culpada em um momento por ter agredido o homem, mas, depois, se deu conta da postura e do comportamento dele, que a deixou chocada:
— O olhar frio desse homem não sai da minha cabeça. Eu não consigo esquecer. E como ele não tocou nelas, ele foi solto. Eu vi ele coagir as meninas. É um sentimento de impunidade. Às vezes, a gente não sabe porque Deus nos coloca em um determinado lugar, e naquele sábado Ele quis que a gente salvasse aquelas meninas — desabafa ela.
"As meninas estão assustadas e nós, muito revoltadas", desabafava mãe de uma das crianças
A reportagem foi procurada pelas mães das duas meninas mais jovens que teriam sido vítimas da importunação sexual do homem no Lago São Bernardo. Uma das mulheres, de 35 anos, reencontrou o suspeito na tarde da última quinta-feira (23), na área central do município. Na ocasião, ambos acabaram trocando agressões e foram levados à delegacia para registro de ocorrência. O homem foi levado para o hospital e liberado na manhã desta sexta-feira (24):
— Quando ele passou, eu estava de costas e minha filha se agarrou em mim, apavorada, e disse: é ele. Aí aconteceu o que eu mais temia: fui para cima dele. Chamei para fora de uma loja, perguntei o nome e questionei se ele sabia quem eu era. Ele disse que não, respondi que era mãe de uma das meninas que ele tentou abusar. Ele negou. Nesse momento, chutei ele, que revidou e me agrediu com um soco — conta.
Ela ressalta que sabe que errou, mas que não se conteve ao ver a filha tremendo e em desespero:
— Não tem mãe que vai deixar passar depois de todo o sofrimento que ele provocou na minha filha, nas meninas e nas nossas famílias. E se ele encontra ela sozinha na rua, o que vai ser? — questiona ela.
Ela conta que as meninas saíram pela primeira vez sozinhas, com autorização dos pais, e voltaram para casa assustadas e traumatizadas:
— Ele acuou as meninas, as mais novas ficaram paralisadas, sem entender o que estava acontecendo e não conseguiram se mexer. É revoltante.
A outra mãe acredita que, no dia da importunação sexual, o idoso saiu de casa mal intencionado.
— No carro dele tinha preservativos. E ele disse à polícia que não viu nada demais no que estava fazendo. Como vamos ficar tranquilas com esse homem solto? — questiona a mulher de 36 anos.
— Levamos e buscamos elas na escola e em todos os lugares, tentando conciliar com o horário de trabalho, porque temos medo do que pode acontecer. Não vou deixar minha filha sozinha. Como ele não encostou nelas e nem abusou, foi liberado. Agora as nossas filhas estão correndo risco, presas dentro de casa, e ele solto, andando pela cidade — complementa.
A reportagem tentou contatar o idoso, mas os dois números dele não estão disponíveis.
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- Gepevid (Grupo Especial de Prevenção e Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar) - @gepevid@mprs.mp.br
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