Duas das principais vias de Caxias do Sul, a Avenida Júlio de Castilhos e a Rua Sinimbu, concentram o maior número de roubos a pedestre em 2022. Na sequência estão as ruas Ernesto Alves, Pinheiro Machado e Do Guia Lopes, sendo que a maioria acontece na área central do município. O levantamento foi repassado pela Brigada Militar (BM) com base em dados do sistema de consultas da Secretaria de Segurança Pública (SSP).
Apesar dessa concentração de casos, o número de registros de roubo a pedestres apresenta queda pelo sexto ano consecutivo na cidade. Para se ter uma ideia, Caxias do Sul viu o número de ocorrências cair de 2.134 de janeiro até 16 de novembro de 2016 para 758 no mesmo período de 2022. Isso significa uma redução de 64%.
Já a BR 116, a RS-453 e a RS-122 são as rodovias nas quais mais carros são roubados. Em seguida, a maior incidência é registrada nas ruas Antônio Gattermann, no bairro Kayser, Angelina Michielon, em Lourdes, e na Avenida Rio Branco, em São Pelegrino. Contudo, assim como o roubo a pedestres, o ataque a veículos também teve redução. De janeiro até 16 de novembro de 2016 até o mesmo período de 2022, a queda foi de mais de 72%. Naquele ano, foram registradas 872 ocorrências no município. Em 2022, o número de roubos é de 244 do primeiro dia do ano até quarta-feira passada (16). Os dados são do programa Avante, da Secretaria de Segurança do Governo.
Policiamento e integração
Não é por acaso que os números começaram a cair depois de 2016. Aquele foi o ano que entrou para a história como o mais violento de Caxias do Sul, com uma explosão nos índices criminais. Isso ocorreu não apenas na cidade, mas em todo o Rio Grande do Sul devido à crise financeira do governo, que parcelou o salário dos servidores e cortou as horas extras dos policiais.
Sem reforço no efetivo e diante de números assustadores, o Estado fortaleceu a integração entre os policiais civis e os militares. O major Wagner Carvalho, subcomandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), aponta que a presença dos policiais nas ruas contribui para a redução do número de casos, sendo que geralmente os roubos são de celulares. No acumulado do ano, a redução é de 6% e, comparado aos últimos 12 meses, ela é de 10%.
— Somos uma cidade com mais de 500 mil habitantes, com dois presídios lotados de criminosos. O crime sempre vai existir. Para o porte da nossa cidade, acredito que os números são toleráveis. No roubo a pedestres, temos um problema social, como o aumento no número de dependentes químicos — destaca o major.
A Brigada Militar faz o mapeamento desses espaços e aumenta o policiamento para ampliar a segurança nesses pontos e reduzir o número de registros, tanto de roubo a pedestres como o de carros. A cidade, que já chegou a ter cerca de seis roubos de carro por dia no passado, hoje tem uma média de 0,8 por dia.
— A gente notou uma redução nos últimos anos pelo trabalho de integração da Brigada Militar e da Polícia Civil, inclusive, com a Susepe para a remoção de lideranças de grupos criminosos. Via de regra esses presos encabeçam de dentro do sistema prisional o roubo de veículos — afirma o subcomandante do 12º BPM.
A Brigada Militar também fortaleceu o trabalho de inteligência e a Civil focou em identificar e prender as quadrilhas que atuavam nas ruas.
— É feito um mapeamento dos locais onde ocorrem esses crimes e realizamos policiamento ostensivo, ações de barreira, de presença e de visibilidade, que têm contribuído para a redução desses crimes violentos que assolam a sociedade — ressalta.
Ele acrescenta que os furtos de veículos também estão com os números em queda. A polícia nota que esses criminosos migram para a prática de outros crimes, como tráfico.
— Também é um crime rentável e é mais difícil de serem presos. Quando são, estão com pouca quantidade de drogas e migram porque a exposição é muito maior no roubo a pedestre do que o de veículos, e geralmente eles são presos — explica o major.
Foco em identificar e desmantelar quadrilhas reduz roubo de carros
O titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), delegado Luciano Righes Pereira, reitera que ao contrário do que ocorria há alguns anos, hoje a maioria dos roubos de carros é por encomenda, sendo repassado aos criminosos o modelo específico.
— Na investigação da Draco foi constatada que a coordenação continua sendo conduzida de dentro dos presídios. Neste ponto, a instalação de bloqueadores de sinal é uma ferramenta extremamente necessária para frear as quadrilhas no roubo de veículos.
A hipótese mais provável da busca por esses carros específicos é para o desmanche e revenda de peças no mercado negro. Por isso, o delegado alerta para que a comunidade compre peças originais para inibir este tipo de comercialização. Entre os carros mais roubados estão as caminhonetes, como Hilux, Triton e Ranger. O Focus também é um dos carros mais procurados pelos assaltantes. O foco da Draco é desmantelar as quadrilhas especializadas em roubos e furtos de veículos
— Geralmente esses assaltos são a mão armada, seja com arma de fogo ou armas brancas. A grande maioria é arma de fogo, porque são integrantes de quadrilhas especializadas mesmo. Ao longo desses anos, a Draco atuou em cima das organizações e a visualização na queda dos índices era quase imediata. Na hora que fazia uma operação e se atuava em cima dos líderes dentro do sistema prisional e nas quadrilhas especializadas a redução era instantânea. Aí demorava um pouco para se reestruturarem e depois dava uma pequena aumentada, até serem presos novamente —complementa o delegado.
Vídeo monitoramento
Tanto a Brigada Militar, quanto a Polícia Civil apontam que a instalação de um sistema de vídeo monitoramento urbano ajuda na redução desses tipos de crimes.
— A instalação do sistema é essencial para reduzir os índices na segunda maior cidade do Estado. Prova disso são os resultados em São Leopoldo, Novo Hamburgo, Bento Gonçalves e até mesmo Porto Alegre. O bloqueador de sinal nos presídios também é importantíssimo porque quando a gente retira o criminoso das ruas e coloca no sistema prisional ele tem que perder esse contato e a coordenação no externo ao presídio — ressalta o delegado Luciano.
O major Carvalho concorda com o delegado:
— Quando for implementado o cercamento digital aqui da cidade teremos um maior controle em relação ao roubo de veículos. Teremos como mapear com as placas dos veículos em ocorrência, a circulação deles aqui na cidade. Até lá seguimos com a nossa integração, com nosso tino policial, a experiência dos nossos policiais, e a investigação que a Civil faz com as informações que trocamos para não deixar os crimes sem respostas.