Uma operação coordenada pela Polícia Federal (PF) de Caxias do Sul desarticulou uma organização criminosa que atua no tráfico internacional de drogas. A ação chamada de Operação Manifest foi desencadeada na manhã dessa quinta-feira (2) em sete estados brasileiros e o Distrito Federal com foco em desmontar a logística do grupo. De acordo com a investigação, integrantes de uma facção com base em São Paulo, mas com ramificações nesses dois países, transportavam pasta base de cocaína em aviões agrícolas pela rota Bolívia-Paraguai-Brasil. Os crimes identificados até o momento são de tráfico internacional de drogas, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
A intenção da Polícia Federal foi descapitalizar a organização por meio da apreensão de aeronaves, imóveis, veículos e bloqueio de contas bancárias dos investigados. O montante ainda não foi contabilizado. No total foram cumpridos 30 mandados de busca e apreensão. Oito aviões de pequeno porte foram apreendidos em hangares junto a aeroportos.
O objetivo da Manifest também foi prender os principais integrantes da organização. Dos 15 mandados de prisões preventiva expedidos pela Justiça, 10 já foram cumpridos, sendo quatro no Rio Grande do Sul: dois deles em Vacaria, nos Campos de Cima da Serra, um em Passo Fundo e um em Carazinho. Estes últimos já estavam no sistema prisional.
Segundo o delegado da PF Noerci da Silva Melo, que coordenou a investigação, essas pessoas atuavam no suporte logístico do esquema. Os presos em Vacaria eram responsáveis por encontrar locais para a aterrissagem dos aviões em fazendas, por receber a cocaína que vinha da Bolívia e Paraguai e direcioná-la, ainda em forma de pasta base, aos portos de Rio Grande e de Itajaí, em Santa Catarina. eles estão sendo ouvidos na sede da PF em Caxias e, depois, serão levados ao Presídio Estadual de Vacaria. Já os presos em Passo Fundo e Carazinho tinham a tarefa de distribuir internamente no Estado a droga já processada, eram as conhecidas mulas. Também foram presos preventivamente, em Santa Catarina, donos de empresas de aviação agrícola cujas aeronaves eram usadas no tráfico.
O delegado explica que a região dos Campos de Cima da Serra é uma área com muitas plantações, ou seja, propícia para a aterrissagem de aeronaves que fazem o transporte em pistas clandestinas e para arremessos (quando a droga é jogada dos aviões ainda em movimento). Além disso, foge do foco das regiões comumente usadas para essa finalidade:
— Essa não é uma região muito visada, mas é estratégica porque está a meio caminho do porto de Rio Grande e a meio caminho do porto de Itajaí. Essa droga possivelmente descia em Vacaria e, de lá, era levada para um ou outro porto e exportada para a Europa.
A investigação começou quando um dos aviões utilizados sofreu avarias em um pouso em uma plantação de milho em Muitos Capões em dezembro do ano passado. A PF identificou que ele estava carregado de cocaína. A apuração avançou e a PF constatou que a organização criminosa é formada por empresários do setor de aviação agrícola, advogados, pilotos e indivíduos ligados à facção de atuação nacional. Os nomes dos presos não foram divulgados.
— Descobrimos, pelas provas colhidas, que esse transporte de droga estava ligado ao abastecimento de uma facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios, com maior intensidade no estado de São Paulo —comentou o delegado.
Cerca de 150 policiais federais cumpriram os mandados no Estado, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Roraima e no Distrito Federal. A investigação segue com a análise dos materiais apreendidos, como mídias, celulares e GPSs.