As notícias sobre os três corpos que estavam no Posto Médico-Legal (PML) de Caxias do Sul aguardando por familiares chegaram até o motorista Gonçalino Vieira, 50 anos. O morador de Vacaria é irmão de Carlos Roberto de Oliveira, 55, e poderá prestar suas últimas homenagens. O Instituto-Geral de Perícias (IGP) ainda procura por familiares de outros dois homens mortos. Caso nenhum representante apareça, os corpos poderão ser doados para estudos anatômicos na Universidade de Caxias do Sul (UCS) ou enterrados em cemitérios da cidade.
Segundo Gonçalino, Oliveira era um andarilho e era normal ficar meses sem contato com a família. Ainda conforme o irmão, o homem tinha problemas com alcoolismo e, em outros tempos, com drogas. Por isso, preferia viver sem residência fixa em Caxias do Sul.
— A cada três ou quatro meses ele aparecia lá em casa. Ele ia e voltava a pé entre Vacaria e Caxias. Pelo que eu sabia, ele morava no bairro Santa Fé, ficava com outras pessoas como ele. Estas visitas eram o contato que tínhamos, quando ele ficava de uma semana ou 15 dias. Sempre tentei por ele num ônibus, pelo menos, mas ele fugia. Gostava de ser assim, um andarilho — conta Gonçalino.
A última visita aconteceu em meados de agosto. Na ocasião, Gonçalino conta que percebeu uma tosse insistente e tentou levar o irmão ao médico, mas Oliveira recusou. O andarilho foi encontrado morto no dia 26 de outubro na Rua Armando Salvador, próximo ao prédio dos bombeiros no bairro Desvio Rizzo. Segundo os profissionais do Samu, ele estava sem documentos e em situação de rua.
Oliveira foi identificado graças ao exame papiloscópio, que faz a comparação de digitais, e seu corpo era mantido resfriado no PML de Caxias do Sul. Os peritos não encontraram nenhum contato de familiares. Gonçalino ficou sabendo da morte por meio das notícias.
— Ficamos gratos, do fundo do coração (a todos que compartilharam). Só assim fiquei sabendo. Sou a única família dele. Tive que ir atrás de documentação e tive a sorte de achar uma certidão antiga dele. Hoje (sábado) estou em Caxias providenciando toda esta papelada e iremos sepultar o meu irmão lá em Vacaria assim que possível — agradeceu.
Outra morte que teve repercussão a partir das notícias foi a de Antônio Ferra dos Santos, 68. Ele foi reconhecido por vários torcedores do Juventude, que o conheciam pelo apelido de Mandela. Segundo o relato da torcida organizada Os Loucos da Papada, divulgado em redes sociais, Mandela era uma pessoa humilde e amigável que era conhecida por todos os grupos de torcedores jaconeros por estar sempre no entorno do estádio Alfredo Jaconi nos dias de jogos.
A publicação da torcida tenta alcançar moradores de Taquara, cidade natal de Santos, para encontrar familiares e proporcionar um velório e enterro digno para essa "querida figura das bandas do Jaconi". Na sexta-feira (12), uma pessoa entrou em contato com PML por telefone, disse que é parente de Santos e que semana que vem irá pessoalmente realizar os trâmites para o sepultamento.
Santos morreu no dia 16 de dezembro de 2020. Ele morava na Rua Coronel Camisão, no Centro, e foi encontrado caído dentro de casa por um conhecido e pelo dono do imóvel. Acionado, o Samu constatou o óbito. Não foi possível determinar a causa da morte, mas a análise da polícia e os peritos descartaram um possível crime ou violência.
Sem encontrar telefones de familiares, o corpo de Santos vem sendo mantido no PML.
O outro corpo a espera de familiares é o de João Luiz Farias, 57. Ele deu entrada no PML no dia 6 de agosto vindo do Hospital Pompéia. Ele era natural de Erval Seco, no norte do Estado, e o último endereço dele que consta no sistema de consulta pública é de Vacaria. A causa da morte, segundo a necropsia, foi uma hemorragia digestiva alta.
Como nenhum familiar foi encontrado pela equipe do hospital, o falecimento foi registrado em um boletim de ocorrência.
— A Polícia Civil é quem faz essa procura por familiares, afinal tem mais meios. Claro, estamos à disposição e as famílias podem nos procurar diretamente. É uma situação que acontece de tempos em tempos e, quando não temos contatos, sempre procuramos divulgar nos meios de comunicação para tentarmos encontrar as famílias — explicou Airton Kraemer, coordenador do IGP na Serra.
Quem tiver informações sobre familiares desses homens ou quiser tirar dúvidas pode entrar em contato com o PML pelo telefone (54) 3212-3007. O serviço em Caxias do Sul fica na Rua Quintino Bocaiúva, no bairro Petrópolis, atrás do bloco S da UCS.