A Polícia Civil irá apurar se houve eventual crime discriminatório no áudio que circula pelas redes sociais, com ameaças a religiões de matriz africana em Caxias do Sul. Conforme a delegada Aline Martinelli, da Delegacia de Polícia de Pronto-Atendimento (DPPA), o caso será encaminhado para uma delegacia distrital.
Segundo ela, o autor do áudio já foi ouvido e afirmou não ter tido intenção de ameaçar a umbanda ou qualquer outra religião. Será enviada também, de acordo com a delegada, uma cópia à prefeitura para que seja verificada a regularização da área para fins de utilização para oferendas e seu impacto ambiental.
Ronaldo de Lima de Carvalho, o Pai Nado de Oxalá, procurou a polícia na última terça-feira (24), após receber a mensagem de uma amiga em seu celular. Com uma casa religiosa no bairro Jardim América, sentiu que os ataques foram direcionados a ele e, por isso, resolveu registrar um boletim de ocorrência.
Na ocorrência, Pai Nado informou que na gravação a pessoa dizia que ia "pegar os batuqueiros, enforcar e colocar fogo na praça", além de falar que tinha amigos na Guarda Municipal e na Brigada Militar. A mensagem menciona a Ku Klux Klan, organização norte-americana surgida no século 19 de ideais supremacistas brancos, promotor de ataques também contra a comunidade negra.
O ex-presidente da associação de moradores do bairro (Amob) Jardim América, Rogério Garcia, admitiu a autoria do áudio. Nele, reclama de restos de oferendas em praça do bairro Jardim América, ao lado da delegacia da Polícia Civil. Ao Pioneiro, Garcia disse que teria feito a declaração em tom de brincadeira e pediu desculpas pelo ocorrido.
Conforme Pai Nado, há um acordo com a atual diretoria da Amob para que casas religiosas utilizem o espaço dos fundos da praça, que não é usado por moradores, para oferendas. O presidente da entidade, Idair Moschen, confirma o combinado.
— É bem no cantinho da praça, na descida. E não tem nada de animais mortos, são só frutas, coisas naturais — destaca Moschen.
Mobilização de entidades
O presidente da Frente Parlamentar de Combate às Intolerâncias da Câmara de Caxias, vereador Lucas Caregnato (PT), publicou nota e vídeo manifestando repúdio às declarações do áudio durante a semana. Na sexta-feira (27), o parlamentar iria se reunir com o delegado regional Cleber dos Santos Lima para tratar do caso.
O caso também gerou mobilização no Conselho da Comunidade Negra de Caxias do Sul (Comune). Conforme o presidente Antonio Jorge da Cunha, uma representação contra o autor do áudio foi encaminhada ao Ministério Público na quinta-feira. O Conselho quer que o responsável pelas ameaças seja punido.
— Se a pessoa se sentiu incomodada (com as oferendas), poderia ter procurado as religiões ou ter até mesmo nos procurado. Poderia ter tido outro desfecho — diz Cunha.