A Polícia Civil investiga se a morte de Daniele dos Santos Camargo, 23 anos, em Serafina Corrêa, foi premeditada. Em depoimento, o autor confesso disse que assassinou a jovem depois de uma discussão que tiveram na manhã do dia 4 de agosto. O nome dele não foi divulgado pela polícia.
O ex-companheiro da vítima, de 40 anos, passou por novo interrogatório na manhã de quinta-feira (26), após o Instituto-Geral de Perícias (IGP) confirmar que o sangue no porta-malas do carro dele era compatível com o de um filho ou filha do pai de Daniele, pessoa da qual foram coletadas amostras para o exame. Mas, mesmo admitindo a autoria e informando a localização do corpo, o homem negou a premeditação. O depoimento é mantido em sigilo pela Polícia Civil.
De acordo com o delegado Tiago Albuquerque, o autor confesso falou que após Daniele entrar no veículo (ele a aguardava em um ponto do trajeto que ela costumava fazer diariamente do trabalho para casa), ele seguiu até o Morro do Cristo, ponto turístico da cidade. Lá eles teriam descido do carro para conversar, mas teriam discutido. Ao voltar para o veículo, segundo ele, Daniele teria tentado agarrar os cabelos dele e, na sequência, ele teria usado um fio de luz de uma extensão que tinha no carro para asfixiá-la e a teria colocado no porta-malas. O método utilizado é um ponto de dúvidas para a polícia.
— O exame da necropsia talvez nos aponte outras lesões. Em função do período transcorrido, 22 dias, talvez o IGP não consiga detectar, mas havia quantidade razoável de sangue no porta-malas do veículo. Esperamos esclarecer isso. Sabemos que a asfixia gera um certo sangramento pela boca, mas nos parece incompatível com o que tinha (quantidade encontrada) no porta-malas — analisa o delegado.
Depois do crime, o homem circulou por alguns locais, segundo disse à polícia, sem saber o destino que daria ao corpo. Então, foi ao interior de Nova Araçá, município vizinho, e enterrou o corpo dela em um bosque. Esse é outro ponto de dúvida para a polícia.
— Ele nega que tenha utilizado outros instrumentos para cavar. Ele disse que foi até o local e usou um pedaço de pau que encontrou no lugar. A nossa convicção, pela análise do local é que não teria como efetuar aquele buraco com um pedaço de pau. Foi utilizado algum instrumento, porque havia certa profundidade e pelo tipo de solo, dificilmente conseguiria cavar com pedaço de pau — avalia Albuquerque, referindo que o local escolhido dificultou a localização.
O delegado acredita que as declarações quanto ao uso apenas do fio e quanto a não ter usado objeto para abrir o lugar onde foi ocultado o corpo apontam para uma estratégia da defesa para descaracterizar uma possível premeditação.
Ainda no depoimento, o ex-companheiro disse que jogou a bolsa de Daniele e o fio de luz no Rio Carreiro. Os objetos não foram localizados. Por isso, se alguém tiver encontrado ou souber sobre o paradeiro deve informar a Polícia Civil pelos números 197, em Serafina Corrêa ou para as delegacias do município, no (54) 3444 1214, e de Guaporé, no (54) 3443 1592.
Albuquerque diz que vai pedir a prisão preventiva do autor confesso nos próximos dias. Ele foi preso temporariamente no dia 6. Desde então, permanece na Penitenciária Estadual de Caxias do Sul. O prazo de 30 dias da prisão temporária termina em 5 de setembro. O delegado aguarda o laudo da necropsia e outras diligências para concluir o inquérito e remetê-lo à Justiça.
— Gostaria de destacar o emprenho dos policiais civis e bombeiros nas buscas. A comunidade nos auxiliou bastante nesse trabalho complexo — disse o delegado.
Em nota, a defesa do autor confesso disse que "a pedido do investigado, contatou a autoridade policial de Serafina Corrêa, a fim de que pudessem ser esclarecidas as circunstâncias do fato." Que, após o depoimento prestado nesta quinta, "os fatos foram integralmente esclarecidos, podendo, dessa forma, dar um desfecho ao caso e à localização de Daniele, o que espera que tenha trazido algum conforto àqueles que buscavam o paradeiro da jovem." Os advogados Giovana dos Reis e Vinicius Octávio Reis disseram estar à disposição das autoridades, assim como o cliente deles.
Sobre os pontos a serem esclarecidos, o defensor disse que "quanto ao sangue encontrado, ele (ex-companheiro) não soube explicar a origem, uma vez que, segundo ele, o único objeto utilizado para asfixiá-la fora o fio que seria utilizado para uma extensão em sua residência. Sendo assim, será necessário aguardar o resultado da necropsia para que novos questionamentos sejam feitos ao investigado."
— O relato da polícia é absolutamente equivocado e certamente com tal afirmação busca atribuir outras qualificadoras ao crime, uma vez que a defesa acompanhou tanto a localização do corpo, quanto o trabalho da perícia no local e o corpo estava em uma cova rasa, não sendo necessário para sua visualização mais do que espalhar a terra úmida com a mão. A defesa nega veementemente que houve a premeditação, fato que restou amplamente esclarecido pelo depoimento prestado pelo investigado na data de 26 de agosto. Demais aspectos quanto à linha de defesa serão abordados quando da instrução processual — disse Vinícius Reis.
A defesa não encaminhou pedido de liberdade por entender que o retorno de alguns laudos da investigação são importantes para o esclarecimento de alguns pontos. Após a conclusão da investigação a defesa reavaliará a possibilidade de pedir, ou não, a liberdade do ex-companheiro de Daniele.
Daniele será velada na tarde de sexta-feira (27), das 14h às 16h30min, na Capela Mortuária Municipal, em frente ao Cemitério Municipal Jardim da Paz, em Serafina Corrêa, onde será sepultada.
Entenda o caso
Daniele trabalhava no período noturno em uma indústria alimentícia. Após terminar o expediente, no dia 4 de agosto, a jovem foi a uma academia e depois encontrou uma amiga em uma padaria. Ela deixou o local pouco depois das 7h30min e caminhou em direção da casa onde morava com os pais e a irmã. Ela nunca chegou na moradia da família.
Imagens de câmeras de monitoramento mostram Daniele embarcando, de forma espontânea, no carro do ex-companheiro. Segundo a Polícia Civil, o homem de 40 anos esperou por cerca de 40 minutos até a chegada da jovem. Na sequência, o carro foi flagrado por outras câmeras indo e voltando da localidade de Morro do Cristo, no interior de Serafina Corrêa.
Inicialmente, o homem negou ter encontrado Daniele no dia do desaparecimento. Confrontado com as imagens, ele mudou a versão e admitiu uma conversa. Na ocasião, ele alegou ter deixado a jovem próximo de sua residência, mas os investigadores não encontraram uma imagem que pudesse confirmar essa versão. O ex-companheiro foi preso temporariamente na noite do dia 6 de agosto.
As buscas, com apoio de bombeiros e voluntários, se concentraram na localidade de Monte Cristo, mas aos poucos foram sendo ampliadas enquanto os policiais conseguiam novas provas. A Polícia Civil conseguiu imagens do veículo do suspeito em direção aos municípios de Nova Bassano e Nova Araçá. Por isso, buscas começaram a ser feitas com apoio de barcos no Rio Carreiro.
Segundo a Polícia Civil, Daniele e o investigado tiveram um relacionamento por mais de um ano. Eles chegaram a morar juntos por um período. Segundo o delegado Tiago Alburquerque, a família fala em dois meses do rompimento antes do desaparecimento. Posteriormente, o homem enviou mensagens para ex-companheira numa tentativa de retomar o relacionamento, segundo apurou a investigação.
A família também relata que o homem já teria agredido Daniele, contudo esse fato não foi denunciado à polícia na época. Nos depoimentos, o suspeito foi descrito como controlador e ciumento.