Informações incoerentes no depoimento levaram à prisão preventiva de um jovem de 19 anos pela morte de Joana Fabris Deon, também de 19 anos. O crime ocorreu na madrugada de sábado (17), em Bento Gonçalves. Na segunda versão, o preso alega que o disparo aconteceu de forma acidental.
Inicialmente, o namorado da vítima relatou que Joana teria sido atingida no tórax durante uma ocorrência de roubo, no bairro Ouro Verde, segundo a Polícia Civil. Ele ainda teria afirmado que chegou a socorrer Joana ao hospital após o crime. A versão foi desmentida pelo pai do suspeito.
— O pessoal começou a perguntar detalhes e ele se atrapalhou. E aí o pai dele voltou à delegacia e entregou. Foi ouvido novamente e foi feito a perícia no local onde essa moça foi morta, com luminol. Depois, então, se representou pela prisão preventiva dele — diz o delegado regional da Polícia Civil, Cleber dos Santos.
O disparo aconteceu na casa do investigado, onde também estava o pai dele dormindo. O suspeito alega que Joana estava mexendo no revólver calibre .38 quanto este disparou acidentalmente contra o peito dela. O rapaz alegou que jogou a arma fora, por isso ela não foi apreendida pelo policiais.
À reportagem, a família de Joana afirma que a jovem não tinha namorado. Eles afirmam não conhecer o suspeito que foi preso preventivamente, mas não descartam que Joana o conhecia.
As circunstâncias do crime e a relação entre Joana e o suspeito são investigados pela Delegacia Especializada em Atendimento à Mulher (Deam). No depoimento inicial, tanto o autor confesso quanto o pai dele apontaram que o investigado era namorado da vítima. A mãe de Joana prestará depoimento na terça-feira (20).
— Não fazia diferença naquele momento, pois a polícia agiu rapidamente para prender o autor desta morte. Agora, cabe a investigação esclarecer. Interessa para efeito de determinação se havia uma relação abusiva, se houve este namoro mesmo, que aí se enquadraria mais perfeitamente ao crime de feminicídio. Tudo será devidamente apurado, pois muda o enquadramento do crime — aponta o delegado Santos, que lembra que o feminicídio (assassinato de mulher em razão de seu gênero) possui uma pena maior prevista na legislação.
— A violência de gênero se caracteriza quando acontece no âmbito doméstico ou há desprezo pela condição da mulher. Mesmo que seja breve, havia um relação entre eles. E tem este fato grave, de um disparo no tórax dela. No mínimo, vejo que há uma subjugação da mulher neste caso — complementa a delegada Deise Salton Brancher, que atendeu o caso no final de semana e é titular da Deam de Bento Gonçalves.
Joana era moradora do bairro Cidade Alta e estudava Psicologia na PUC, em Porto Alegre, mas estava fazendo as aulas de forma virtual em razão da pandemia de coronavírus. A jovem trabalhava na Escola de Educação Infantil da mãe dela, no bairro Planalto. Joana foi velada em Bento Gonçalves e cremada na manhã deste domingo (18), em Caxias do Sul.