Um dia após ação que resultou na morte de um agente da Susepe durante o resgate do preso Guilherme Fernando Mendonça Huff, 29 anos, por comparsas, na Upa Zona Norte, em Caxias do Sul, a secretária municipal de Saúde, Daniele Meneguzzi, disse que pretende fazer uma reunião com a Brigada Militar, Polícia Civil e Susepe na próxima semana para reavaliar os processos de escolta de presos até as unidades de saúde.
— Será de forma multidisciplinar. Precisaremos envolver os órgãos de segurança que são os responsáveis pelo transporte de apenados para atendimento. Estamos agendando reunião para reanalisar esse fluxos — disse.
A Upa Zona Norte ficou fechada durante boa parte da segunda-feira. N início da manhã desta terça-feira (8), já reaberta, registrou baixa circulação de pessoas. Por volta das 8h30min, dois pacientes aguardavam por atendimento. Para a reportagem, eles falaram que não estavam receosos de estar ali, mesmo após o crime, porque entendiam que a ação havia sido planejada pelos criminosos e que, provavelmente, não se repetiria.
Carlos Eduardo Braga, 37 anos, havia tentando atendimento na segunda-feira, mas se deparou com as portas fechadas.
— Como eu vim buscar auxílio da assistência social, pude voltar hoje (terça-feira). Não tenho medo de vir porque já me recuperei de um acidente grave e sobrevivi. Agora, vou ter medo de quê nessa vida? — disse Braga, que atuava como ferreiro armador, mas por conta do acidente ter comprometido o joelho esquerdo, é beneficiário do INSS.
Por volta das 8h50min, Michel Andreata, 27, também acessava a parte da triagem, praticamente vazia na UPA. Ele acompanhou as notícias sobre os tiros e a morte do agente que ocorreu no local e evitou ir até a UPA quando soube que estava fechada:
— Não sou de ficar com medo, mas essa situação nos deixa inseguros e é ruim para todo mundo.
A média de atendimentos na UPA Zona Norte é, segundo a prefeitura, de 300 a 400 consultas por dia, mas o número pode ser ainda mais alto quando concentram-se casos de covid-19. A secretária da saúde de Caxias considera prematuro avaliar uma redução na procura pela unidade por conta do crime na segunda-feira.
— A demanda espontânea voltou a acontecer — disse.
Quando houve a interrupção dos atendimentos na segunda-feira, 13 pacientes precisaram ser transferidos para a UPA Central e hospitais da cidade. O local ficou fechado para higienização. Funcionários do local ficaram abalados, conforme a secretária:
— Ofereci apoio aos funcionários e agradeci muito por nenhum ter ventilado a possibilidade de deixar seu posto de trabalho em função do ocorrido. A equipe está estruturada e vamos oferecer apoio do setor de saúde mental para que se possa restabelecer a normalidade. É um trauma que com certeza vai ficar marcado em todos.
A reportagem constatou que havia pelo menos três agentes de portaria atuando na entrada da UPA na manhã desta terça. O colega deles foi baleado no pé no dia do crime, já passou por cirurgia e deve receber alta na quarta-feira (9). A outra funcionária ferida é do setor de higienização e já teve alta, segundo a secretaria municipal da Saúde.
Quanto ao funcionamento do serviço de portaria, a Fundação Universidade de Caxias do Sul (FUCS), que assumiu a gestão da UPA Zona Norte há quase um ano após convênio com a prefeitura, informa que não divulgará detalhes por questões de segurança.