Um filho que mantém as esperanças de encontrar o pai há três décadas. Uma mulher que procura o irmão desaparecido em Camaquã há dois anos. Uma senhora que veio de Bento Gonçalves em busca de ajuda nas buscas pelo filho. São histórias como essas que foram apresentadas aos peritos de Caxias do Sul durante a Campanha Nacional de Coleta de DNA de Familiares de Pessoas Desaparecidas, organizada pelo Ministério da Justiça e Segurança. Foram recolhidos 11 perfis genéticos na Serra gaúcha, que abastecerão um banco nacional e poderão ser comparados com pessoas encontradas em qualquer lugar do país.
A coleta aconteceu entre os dias 14 e 18 de junho por equipes da Polícia Civil e do Instituto-Geral de Perícias (IGP) no Rio Grande do Sul. Em Caxias do Sul, o mutirão foi realizado no Palácio da Polícia, ao lado da Praça Dante Alighieri. Os 11 casos relatados são antigos ou investigados por outras cidades, por isto a coleta genética ainda não havia sido realizada.
Ao todo, foram realizadas 188 coletas no Rio Grande do Sul, o que é mais de três vezes o número de amostras cedidas por familiares em 2020, quando 59 pessoas procuraram o IGP. O resultado da semana de mutirão ultrapassa o total de coletas realizadas entre 2018 e 2020, quando 158 amostras foram armazenadas no Banco de Perfis Genéticos do IGP (BPG/IGP).
— Conseguimos atingir o público em locais diferentes e, principalmente, divulgar o serviço que realizamos. Não imaginávamos que a campanha tivesse o alcance que teve. Se tivéssemos coletado de dez famílias, já teríamos ficado felizes —comemora a perita criminal Cecília Matte, administradora do BPG.
O material coletado é inserido no banco e será comparado ao material genético de 501 corpos até agora não identificados em território gaúcho. Como o número de coletas superou a expectativa, o processamento das amostras deverá começar em cerca de três semanas. Todos as comparações positivas devem ser confirmadas com nova análise, por isso os laudos não são liberados de imediato.
Em caso de identificação positiva, as famílias serão avisadas pela Polícia Civil. Se isso não acontecer, semanalmente são feitos novos cruzamentos, sem necessidade de uma nova coleta. Dependendo da qualidade da amostra tirada de um cadáver, os primeiros resultados podem ser conhecidos em 15 dias.
Além disso, os perfis genéticos dos familiares também são inseridos no Banco Nacional de Perfis Genéticos, para cruzamento com os DNAs de ossadas encontradas em todo o Brasil, o que aumenta as chances de identificação. Em todo o país, mais de quatro mil ossadas permanecem não identificadas.
— Teremos um incremento muito significativo no número de famílias cadastradas no Banco. A expectativa é de que consigamos identificar uma boa parte dos restos mortais não identificados que já fazem parte no BPG, e assim, muitas famílias conseguirão encerrar um ciclo de angústia diária na busca do seu familiar — explica Cecília.
Familiares que buscam informações de um ente querido desaparecido, mas não conseguiram participar do mutirão, podem procurar o posto médico-legal mais próximo. A coleta de material genético para identificação de cadáveres é um serviço permanente realizado pelo IGP em todo o Estado.