Não é de hoje que se sabe da importância dos cachorros nas operações policiais em Caxias do Sul. Mas, dos 15 cães que fazem parte atualmente do canil do 12º Batalhão de Polícia Militar (12ºBPM), um deles vem chamando a atenção, o Colt. Somente neste ano, de 32 prisões por tráfico de drogas realizadas, em 16 delas ele esteve presente — e fazendo um belo trabalho, segundo Guilherme Bastos Mello, soldado que atua diretamente com o animal.
Colt chegou ao canil de Caxias junto com Bold, no dia 29 de junho de 2019, com 60 dias. Ambos da raça pastor-alemão, conhecida pela inteligência e versatilidade, foram doados por um criador e treinados pela polícia durante dois anos. Atualmente, Bold atua no patrulhamento e choque, enquanto Colt trabalha farejando entorpecentes e armas.
Mello, que além de soldado é cinotécnico do canil da BM, explica que Colt participa de operações desde 2019, mas muito antes disso ele já treinava muito. No treinamento, ele aprendeu a investigar, identificar os odores e obedecer aos comandos, tudo baseado em brincadeiras. O cão também foi ensinado por Guilherme a identificar a presença de armas de fogo, farejando o cheiro de pólvora queimada, e substâncias específicas:
— Quando ele tinha um ano, comecei a treinar o faro dele. Os traficantes misturam as drogas com pó de lâmpada, gasolina e outros elementos, por isso, o treinei para identificar o componente molecular. A droga pode estar misturada com o que for que ele vai encontrar.
Assim como acontece com qualquer animal adestrado, quando Colt realiza bem suas tarefas é recompensado com o brinquedo favorito: a bola. Mas nem adianta tentar enganar o Colt, pois Mello garante que ele só obedece a ele ou a pessoas próximas.
— Ele é apaixonado pela bolinha. O amor dele é tanto por esse brinquedo que é capaz de pular de um prédio. Dá para dizer que a bolinha é o segundo dono dele. Se você tiver uma bolinha já conquista ele — brinca o soldado.
O tutor do cão revela que, na penúltima operação, Colt foi capaz de reconhecer o cheio de drogas em um saco que aparentemente continha apenas moedas. Nessa mesma operação, em uma festa desmantelada pela Brigada Militar de Caxias, o animal localizou quase todas as substâncias ilícitas que estavam no local. Mello lembra ainda de uma operação no ano passado que, com a ajuda de Colt, foi possível apreender 42 pedras de crack escondidas em um fundo falso de um freezer que estava em uma cozinha:
— No início eu duvidei porque as drogas estavam escondidas em uma parede e disfarçadas por causa de uma esponja. Mas ele mostrou que estava certo.
Em julho de 2020, Colt também ajudou a prender em flagrante uma mulher por tráfico de drogas ao localizar entorpecentes enterrados no terreno ao lado da casa revistada. Outra mulher, dessa vez em janeiro deste ano, também não conseguiu escapar do faro apurado de Colt. Ela foi presa no bairro Jardim América, em Caxias, com oito porções de cocaína, nove de maconha e 30 pedras de crack prontas para venda.
Nessa última semana, Colt vem mostrando serviço. Na segunda-feira (17), ele localizou 34 porções de cocaína, cinco pedras de crack e um tijolo de maconha. Na operação, um homem foi preso por tráfico de drogas. Já na noite de quarta-feira (19), o cão localizou seis porções de cocaína e três de maconha no interior de um veículo Clio no bairro São Leopoldo.
Esses são apenas alguns exemplos do trabalho realizado pelo cão que vem fazendo história no Batalhão de Caxias. Cães militares geralmente trabalham em torno de nove anos, mas para Colt o tempo de serviço vai ser menor, já que ele possui uma doença genética chamada de displasia canina, que é uma condição que afeta, especialmente, os animais de médio e grande porte. O problema é caracterizado por uma espécie de desencaixe nas articulações e é genético.
— Eu quero aposentar ele mais cedo por causa dessa doença. Se eu deixar, ele trabalha por muitos anos, mas sei que depois disso ele não teria muito tempo para aproveitar a vida como um cachorro normal — conta Mello.
Após contribuir com trabalhos em prol da sociedade, os cães podem se aposentar e serem adotados como animais de estimação pelos tutores. E esse é justamente o plano de Mello:
— Ele é um cachorro muito querido e tem que cuidar porque ele adora dar beijo, às vezes os soldados estão desatentos e o Colt aproveita e os beija. Mais do que um colega de trabalho, pra mim ele é um irmão porque está sempre comigo. Quando eu mais preciso, sei que posso contar com ele .