A cobrança de um empréstimo de R$ 100 mil foi o que motivou o assassinato de Vanessa Silvestre Lisot, 37 anos, e Adriano Camargo Leopold, 28, no interior de Caxias do Sul. A alegação é do autor confesso do crime, um homem de 26 anos que é ex-namorado da mulher e foi preso em Gravataí, na Região Metropolitana, na manhã de domingo (11). Em depoimento à Polícia Civil, o investigado afirmou que o dinheiro havia sido um presente de Vanessa e que se sentia ameaçado por ela e seu atual companheiro, Adriano.
A motivação do duplo homicídio e os passos da investigação foram esclarecidos em coletiva de imprensa no final da manhã desta segunda-feira (12). O delegado Luciano Pereira, da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco) afirma que o crime foi planejado:
— Quem cometeu o delito tinha conhecimento daquela área. Eles sabiam por onde fugir, evitaram os principais acessos para evitar a chegada da polícia. O local onde foram largados os corpos (um barranco a mais de 10 quilômetros da casa) e incendiar o veículo (uma trilha a mais de 500 metros do barranco) foram para dificultar o trabalho policial. Foi um homicídio por motivo torpe.
Além deste ex-namorado descrito como mandante do assassinato, outros dois homens, de 19 e 27 anos, foram presos preventivamente. Ambos são trabalhadores rurais e sem histórico policial que foram capturados em Santa Lúcia do Piaí. Com o mais velho, a Draco apreendeu dois revólveres que foram utilizados nos homicídios. O mais novo confessou aos policiais que participou da execução como motorista.
De acordo com a Polícia Civil, o autor estava separado de Vanessa há mais de três meses. Ao longo destes seis dias de investigação, foram analisadas quatro linhas de investigação, segundo a polícia
— O feminicídio decorre da condição de mulher da vítima, o que não foi este caso. É um crime com motivo patrimonial. O sangue na cena do crime (onde Leopold foi baleado na testa e arrastado até a garagem) mostra que foram lá com a intenção de matar. Só que no início das investigações não podíamos descartar nada (um roubo ou sequestro), — explica o delegado regional Cleber dos Santos Lima, que completa:
— Investigação policial trabalha com fatos, por isso foi importante o encontro do carro (incendiado). Antes, não podíamos descartar que as vítimas estivessem vivas. A motivação principal foi a dívida. O estopim, conforme o depoimento dos autores, foi esta cobrança feita pelo Adriano. O autor alega que se sentiu ameaçado por ele.
Este ex-namorado prestou dois depoimentos à Polícia Civil e negava a participação no crime, só dizia que tinha recebido os R$ 100 mil como uma doação de Vanessa. Ao perceber o avanço das investigações, o suspeito fugiu na sexta-feira (9) levando diversos pertences para a casa de um familiar em Gravataí. Ele foi capturado no domingo, quando se preparava para viajar para Santo Ângelo.
Após a prisão, o investigado informou onde foram escondidos os dois corpos: uma ribanceira com 60 metros de profundidade e a cerca de cinco quilômetros da residência das vítimas. O Instituto Geral de Perícias e os Bombeiros participaram do resgate.
Sobre o empréstimo de R$ 100 mil, a Polícia Civil tem provas das cobranças feitas por Vanessa e apreendeu um veículo Fiesta Titanium que foi comprado pelo autor confesso com o valor. Os investigadores afirmam que o restante do dinheiro continua nas contas bancárias do investigado.
A Draco ainda procura pelo quarto envolvido no duplo homicídio. O grupo será indiciado por duplo homicídio qualificado por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima.
— Não ficou claro se estes três participaram do crime por amizade (ao mandante) ou se foram pagos. Ainda temos estas investigações complementares para fazer, mas o caso já está esclarecido e com estes três presos preventivamente — afirma o delegado Pereira.
Como foi o crime
* Na noite de segunda-feira (5), Vanessa Silvestre Lisot e Adriano Camargo Leopold estavam em uma casa na comunidade de Linha São Paulo, no distrito de Santa Lúcia do Piaí, quando quatro homens chegaram em duas motocicletas. Os criminosos invadiram a propriedade rural por uma trilha nos fundos.
* Os criminosos renderam o casal e trancaram o filho da mulher num quarto. Na entrada da casa, Leopold foi morto com um tiro na testa. O corpo dele foi arrastado até a garagem. Os bandidos utilizaram o carro da mulher, um Ônix vermelho, para levar Vanessa e o corpo de Leopold.
* A BM foi acionada por volta das 22h20min daquele dia. O filho da mulher foi até a residência do avô e contou o que tinha acontecido. Ele teria dito ainda ter ouvido um tiro. O caso foi registrado inicialmente como um roubo, mas chamava a atenção dos policiais nenhum pertence ter sido roubado além do carro da mulher.
* Vanessa foi morta com um tiro na cabeça e jogada em uma ribanceira com 60 metros de profundidade a cerca de 10 quilômetros de sua casa. Leopold também foi arremessado no barranco. O local dificultava a visualização dos corpos, tanto pelos policiais em terra quanto pelos helicópteros que ajudaram nos cinco dias de buscas.
* O Ônix vermelho foi encontrado queimado na sexta-feira (9) na estrada de Caravaggio da 6ª Légua. O ponto onde o veículo foi localizado fica a menos de um quilômetro do barranco onde foram jogados os corpos. A trilha coberta por árvores costuma ser utilizada por motociclistas.
* Um ex-namorado de Vanessa foi preso em Gravataí na manhã de domingo (11). Ele confessou o crime e informou aos policiais onde os corpos foram escondidos. Uma segunda equipe policial foi acionada, junto com os peritos e bombeiros, e encontrou a ribanceira com ajuda de moradores da região.
* Ainda no domingo, outros dois suspeitos foram presos em Santa Lúcia do Piaí. Um quarto envolvido é procurado pela Draco. O grupo será indiciado por homicídio duplamente qualificado e ocultação de cadáver.