Caxias do Sul está há 11 dias sem registrar homicídios após um outubro marcado pela violência na cidade, com 14 assassinatos em oito dias. A morte mais recente foi registrada no dia 1º de novembro, no Vila Ipê. Joel Teixeira Lobo, 51 anos, morreu após ter sido baleado quando estava na esquina das ruas dos Canários com a Tangarás, no bairro Vila Ipê. De acordo com informações da Brigada Militar (BM), dois homens que estavam em uma motocicleta chamaram Lobo pelo nome.
Logo em seguida, eles efetuaram diversos disparos de arma de fogo contra o homem, que morreu antes de receber atendimento médico. Além de outubro ser o mês mais violento, 2020 ultrapassou o número de mortes de todo 2019 no último dia 29. Foram 90 assassinatos até o dia 28, um a mais do que em 2019, quando ocorreram 89 casos.
O clima de violência e a disputa de território para o tráfico de drogas entre organizações criminosas gerou apreensão na comunidade e motivou reforço policial para a investigação de casos de homicídio e para policiamento ostensivo. A onda de crimes contra a vida também fez com que oito apenados fossem transferidos da Penitenciária Estadual do Apanhador, entre Caxias e São Francisco de Paula, para outras prisões do Estado. A remoção ocorreu no dia 5 de novembro.
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O aumento de homicídios em outubro fez soar o alerta em meio à segurança pública. Tanto a BM quanto a Polícia Civil reforçaram o policiamento nas ruas. Basta circular pela cidade para perceber a presença de mais viaturas do Batalhão de Choque nas ruas. A tropa conta com 60 PMs, em 16 viaturas. O 12º Batalhão de Polícia Militar (BPM) também intensificou o patrulhamento nos bairros onde aconteceram os assassinatos.
— Nesses últimos dias as ações que tomamos foram para combater e frear a curva ascendente de homicídios em Caxias do Sul. A Brigada Militar e a Polícia Civil reforçaram medidas conjuntas e operações para combater os crimes. A BM intensificou o policiamento em locais com índices mais elevados de homicídios e estamos patrulhando vias de acesso, locais de grande circulação e pontos conhecidos de Caxias pela criminalidade e tráfico. O setor de inteligência também tem atuado fortemente. Esse trabalho tem tido resultados positivos na redução de homicídios. Tanto que em outubro foram 25 e, até esta quinta-feira em novembro, registramos uma morte — afirma o coronel Glauco Alexandre Braga, responsável pelo Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO/Serra).
Brutalidade
O reforço do efetivo não foi definido apenas pelo aumento do número de casos, mas pela crueldade das mortes. Em outubro, em meio às disputas por território para a venda de drogas, Caxias foi palco de decapitações, esquartejamentos, homicídios a sangue frio, com tiros à queima roupa, e corpos carbonizados. Em um dos ataques, uma família inteira foi executada. Para a polícia, Edson Toffolo, 37 anos, era o alvo dos bandidos. Vanessa Martins dos Santos, 29, grávida de seis meses, e o outro filho, Enzo dos Santos de Oliveira, 4, foram vítimas circunstanciais. Toffolo foi atingido com 12 disparos de arma de fogo, Vanessa com dois e Enzo com um único tiro, no pescoço.
Para reforçar a atuação da Polícia Civil, três investigadores de Porto Alegre passaram a integrar em 4 de novembro, a equipe da Delegacia de Homicídios e Desaparecidos (DHD) de Caxias do Sul. O reforço também conta com o delegado Adriano Linhares, que atuou na cidade até este ano, mas que foi transferido para Caçapava do Sul. O titular da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Ives Trindade, lembra que o mês passado foi marcado por crimes relacionados a disputa de organizações criminosas.
— Uma das iniciativas para barrar a onda de crimes foi providenciar o reforço do efetivo. Para a Brigada Militar, o incremento é muito significativo porque sabemos que a presença de policiais em determinados pontos chaves da cidade inibe a prática de delitos de toda a espécie. As ocorrências também são atendidas de forma mais rápida porque tem mais policiais e viaturas nas ruas, e a chance de flagrante aumenta muito. Além disso, as abordagens e apreensões de armas são significativas porque sabemos que as facções exploram o tráfico de drogas para poder se manterem porque para eles os armamentos são muito caros.
Ele ressalta ainda que, com o aumento do efetivo, a DHD está focada na elucidação dos crimes do mês de outubro:
— Estamos praticamente trabalhando só na investigação dos casos que ocorreram no mês de outubro. Estamos tendo um bom resultado e evoluindo principalmente nos fatos que tiveram mais repercussão. Temos um obstáculo que é o período eleitoral porque não podemos efetuar prisões, mas creio que, para a semana que vem, teremos novidades boas em relação a esses casos — explica ele.
Para o delegado a remoção dos líderes das organizações criminosas também impactou na redução de casos em novembro:
— A transferência de lideranças que a Susepe identificou nos presídios de Caxias e do Estado teve um impacto grande para cessar o número de mortes. Tanto que estamos no dia 12 e tivemos um homicídio no dia 1º e duas tentativas. Essas ações tomadas pelo Estado são importantes.
O delegado ressalta ainda que o confronto que culminou com a morte de quatro criminosos em Farroupilha também teve impacto na redução de crimes bárbaros, já que eles seriam os autores do esquartejamento de um jovem e do sumiço da cabeça dele e também pela decapitação de outro homem.
— Claro que não comemoramos mortes, mas aquela ação da BM também foi significativa para que a situação voltasse à normalidade e para manter os crimes em níveis suportáveis para a comunidade, já que não podemos acabar definitivamente com todas as ocorrências.
A equipe também deve permanecer em Caxias pelo menos até o dia 15 de novembro para participar da força-tarefa de investigação dos assassinatos ocorridos em outubro.
Operação Inpulsa
A Operação Inpulsa da BM está prevista para se estender até, pelo menos este domingo (15), data do primeiro turno das eleições municipais. Depois, será avaliada a possibilidade de a operação prosseguir na cidade. Confira alguns números desde o reforço do efetivo:
1.092 pessoas foram abordadas
300 veículos fiscalizados
306 estabelecimentos vistoriados
6 pessoas foram presas em flagrante e um foragido foi capturado
Também foram apreendidas munições, armas, drogas e dinheiro.