Estamos a dois meses do final do ano e 2020 já ultrapassou o número de mortes violentas de todo 2019 em Caxias do Sul. Foram 90 assassinatos até ontem, um a mais do que em 2019, quando ocorreram 89 casos.
O crime mais recente, em que o motorista por aplicativo Jonathan Silva Ramos, 26 anos, foi executado com 12 tiros dentro de um carro na Rua Sargento Venino Vargas, no bairro Esplanada, na noite de quarta-feira, faz parte de um contexto que, segundo os órgãos da segurança pública, explica o que causa tamanha violência em Caxias: a guerra entre organizações criminosas pelo controle do tráfico de drogas na cidade.
Nesse caso, a Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), informou que no interior do carro foram encontradas porções de maconha, 11 gramas de cocaína, 33 unidades de LSD e 42 comprimidos de ecstasy, além de dinheiro e máquina de cartão de crédito.
– Não temos dúvida que está relacionado ao tráfico de drogas. Não roubaram nada, apenas o celular dele sumiu – afirmou o delegado Ives Trindade.
Segundo o delegado, ainda não há informações sobre o que levou Silva até o local do crime ou qual a relação dele com o tráfico. Ele tinha antecedentes policiais por porte ilegal de armas, conforme a Polícia Civil. A investigação fará contato com a empresa que opera o aplicativo de transporte ao qual ele era ligado para verificar se houve solicitação de corrida para a localidade naquela noite. O veículo que ele utilizava era alugado. A suspeita inicial de que os autores do crime chegaram ao local em um carro e em uma motocicleta segue sendo apurada.
Para além das vítimas diretas do tráfico, a violência segue atingindo também pessoas inocentes, como a jovem grávida e o filho dela de quatro anos assassinados a tiros na madrugada da última terça-feira. Para a polícia, Edson Toffolo, 37 anos, era o alvo dos bandidos e os outros, Vanessa Martins dos Santos, 29, o bebê que ela gerava de seis meses, e o outro filho, Enzo dos Santos de Oliveira, 4, foram vítimas circunstanciais. Toffolo foi atingido com 12 disparos de arma de fogo, Vanessa dois e Enzo um único tiro no pescoço.
Organizações criminosas são reativas
As organizações criminosas atuam em Caxias, como em outras cidades do país, pelo domínio de território em função de poder de negócio. No caso local, para ampliar os pontos de comércio de drogas, que são fontes de renda dos grupos. Em Caxias, segundo a polícia, atuam quatro facções, mas duas delas com mais representatividade e status, e cujos líderes locais comandam os liderados de dentro do sistema penitenciário. Para combater a rival, eventualmente, elas se aliam às duas menores. Uma das duas facções maiores age prioritariamente nas regiões norte e sul. A outra está mais espalhada. As mortes, em geral, ocorrem quando uma tenta avançar no espaço da outra, o que gera uma reação com mais mortes formando ciclos de violência.
– As mortes têm relação com a disputa entre facções, que entram em conflito pelos pontos de tráfico de drogas, e também com as mortes ocorridas no último confronto com a Brigada Militar. Esse conflito (entre as organizações criminosas) é cíclico e reativo a alguma ação da outra parte – pondera o delegado Trindade, referindo o confronto em que seis suspeitos morreram após atirarem contra uma casa conhecida como local de venda de drogas e contra policiais militares durante perseguição.
A professora do curso de Direito da Universidade de Caxias do Sul, Gisele Mendes Pereira, corrobora a visão do delegado:
– Aqui na nossa cidade, as organizações criminosas nessa busca por espaço, vão matando os opositores. O que se observa é que as mortes são de pessoas jovens e que os envolvidos, quando identificados, também são pessoas jovens envolvidas com o tráfico.
O mês de outubro, com 21 homicídios neste ano, é considerado o mais violento desde 2016, quando houve 25 mortes violentas. Nessa conta da violência entram, ainda, casos como o da briga entre vizinhos em que avó e neto foram mortos a tiros, golpes de faca e pauladas.
No foco da polícia, estão ações de repressão como no caso do confronto, de prisões e apreensões de armas, drogas e dinheiro, para descapitalizar as organizações, mas todas tem como base serviço de inteligência, com investigação e troca de informações.
Mortes na faixa dos 20 anos cresceu
Comparando o perfil dos 90 assassinados neste ano ao dos 89 do ano passado, a maioria segue sendo homem sem passagem pela polícia. Mas o número de pessoas com idade entre 18 e 29 anos aumentou cerca de 20%. A quantidade de vítimas mulheres teve o mesmo índice só que de redução passou de 10, em 2019, para oito em 2020.
Perfil dos mortos de 2020
Sexo
:: Mulheres - 8,89%
:: Homens - 91,11%
Passagem pela polícia
:: Não - 51,16%
:: Sim - 48,84%
Idade
:: Menores de 18 anos - 8
:: Entre 18 e 29 - 44
:: Entre 30 e 39 - 17
:: Entre 40 e 49 - 10
:: Entre 50 e 59 - 5
:: Acima de 60 - 3
Perfil dos mortos de 2019
Sexo
:: Mulheres - 11,24%
:: Homens - 88,76%
Passagem pela polícia
:: Não - 54,9%
:: Sim - 45,1%
Idade
:: Menores de 18 anos - 1
:: Entre 18 e 29 - 37
:: Entre 30 e 39 - 24
:: Entre 40 e 49 - 16
:: Entre 50 e 59 - 4
:: Acima de 60 - 5