Não foram as palavras que convenceram os soldados Alisson Gomes e Cristian Cambruzzi, ambos de 21 anos, a ingressar na Brigada Militar (BM) em Caxias do Sul. Eles simplesmente seguiram os passos trilhados pelos pais. Hoje, os policiais atuam lado a lado com suas famílias no combate à criminalidade.
O soldado Cambruzzi lembra que a decisão de ser brigadiano aconteceu aos cinco anos. O anúncio contrariava até as palavras do próprio pai, o tenente Cristiano Becker, 47, que aconselhava o filho a seguir os passos da mãe e virar médico.
— Sempre foi meu sonho ser policial. Não sei se tem um motivo, mas sempre gostei da função. Andar fardado, ajudar as pessoas, salvar vidas, prender criminosos... por ser criado em um quartel, eu acompanhava e admirava de toda essa rotina. Foi decisivo ter um pai policial, mas também sempre foi a minha escolha — conta o soldado, que se formou na última turma em 2018.
Cambruzzi comenta que tudo aconteceu tão rápido e do jeito que sonhava, que "a ficha ainda não caiu". Um concurso para a BM foi aberto justamente quando completou 18 anos. O esforço nos estudos garantiu a classificação para escolher onde iria servir: Caxias do Sul. No 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM), passou na seleção para atuar na Força Tática, tropa que, não por coincidência, é o pelotão que o seu pai lidera.
— Ele se criou vendo e tem o mesmo foco que o meu. Cresceu vendo todos os prós e contras, pelas história que eu vivia e contava. Hoje, questiono ele sobre o trabalho e ele responde que "essa é minha vida". É exatamente como me sinto também. Proteger a sociedade e ter o meu filho comigo, é muito gratificante — se emociona o tenente Becker.
Juntos, pai e filho atuam na linha de frente do 12º BPM. A Força Tática é responsável por incursões contra o tráfico de drogas e reforçar perseguições a assaltantes, por exemplo.
— Um cuida do outro e assim seguimos. Confio que ele irá me proteger, e ele confia que estarei lá por ele. Às vezes, bate uma preocupação. Em outras, até esquecemos porque a adrenalina está muita alta. Só que na Brigada, principalmente na Força Tática, somos uma família e temos este sentimento de proteção por todos — aponta Cambruzzi.
— Olha, não é tão fácil de separar. Tenho um sentimento por todos os meus colegas policiais que estão nas ruas atuando, mas quando se tem um filho junto neste momento de risco, os cuidados e a preocupação aumentam. Já estivemos juntos em ocorrências com disparos de arma de fogo. O nosso treinamento é para esses momentos e ambos queremos proteger a sociedade.
Neste domingo de Dia dos Pais, contudo, pai e filho não poderão se abraçar. O soldado Cambruzzi está em isolamento domiciliar após apresentar sintomas de covid-19: coriza e perda do paladar. O procedimento da BM é o afastamento imediato e a realização do teste, que tem resultado previsto para a segunda-feira. Nada que abale a relação desses brigadianos que se enxergam um no outro.
"O caminho já estava trilhado"
Proteger a sociedade também é uma tradição na família Gomes. Neste caso, existe um ingrediente a mais: o carinho pelos animais. O soldado Alexandre Gomes, 43, atua há 20 anos no Canil do 12º BPM, local que o filho Alisson frequentava com o pai desde a infância.
— A minha esposa também é brigadiana e o Alisson sempre nos acompanhou, principalmente no final de semana que não tinha escolinha. Desde bem pequeno, ele ficava no Canil e conhecia a todos. Sempre deixei à vontade para ele escolher, mas dizia que é preciso querer. Aos 17 anos, ele disse que se identificava com a profissão e decidiu fazer o concurso — conta o pai brigadiano.
No meio militar, é repetida uma frase que explica decisões como a do soldado Alisson:
— "A palavra convence, mas o exemplo arrasta". Meus pais nunca precisaram me falar para ser policial. O caminho já estava trilhado. É o exemplo que tenho do meu pai, da minha mãe, da minha família e dos amigos. O exemplo é que nos leva a acreditar — afirma o jovem soldado.
Alisson iniciou a carreira militar em Porto Alegre, mas logo conseguiu a transferência para voltar para sua segunda casa, o quartel do 12º BPM. Hoje, o soldado atua no serviço noturno atendendo as ocorrências e os chamados pelo 190 durante a madrugada. Apesar de saber os riscos da profissão, o pai Alexandre garante que dorme tranquilo.
— Quando ele era mais novo e saía para uma festa, eu sempre fazia questão de levar e buscar. A preocupação é normal de pai. Agora, na Brigada, eu sei que ele pode estar em uma ocorrência complicada, mas também sei que há um batalhão e toda uma corporação para apoiar ele. O perigo existe, mas os colegas não irão deixar ele na mão. Então, hoje consigo dormir melhor — comenta.
O trabalho policial faz parte das conversas em família, mas pai e filho ainda não tiveram a oportunidade de trabalhar juntos. Eles aguardam pela chance de se unirem no Canil. Desde pequeno, Alisson já tem familiaridade com a função e o carinho com os animais. A intenção é em breve fazer o curso para treinamento de cães. Se depender do soldado Alisson, a tradição da família Gomes passará para mais uma geração.
— Os meus filhos terão todo o direito a escolha, mas não posso negar que também ficaria muito feliz se escolhessem esta profissão.