As pessoas que conviveram com Rafael Mateus Winques, 11 anos, ainda procuram uma explicação para o que teria levado a mãe, Alexandra Dougokenski, a asfixiar o filho caçula e esconder o corpo dele por 11 dias até confessar o crime na última segunda-feira (25). O caso ocorrido em Planalto, no norte do Estado, e inicialmente tratado como desaparecimento, ganhou repercussão com a confissão da mãe do menino e, nesta terça (26), com a divulgação do resultado da necropsia que trouxe mais crueldade ao fato: segundo o Instituto-Geral de Perícias (IGP), Rafael foi estrangulado.
Um menino calmo, quieto, doce e estudioso. Essas palavras foram repetidas à reportagem por educadoras que conheciam e conviveram com Rafael nesses últimos anos. Ele nasceu e morou nos primeiros anos de vida em Planalto. Fez o pré e os anos iniciais na Escola Municipal de Ensino Fundamental Mário Quintana. No início do ano letivo de 2017, a mãe pediu transferência para um colégio da rede estadual de Bento Gonçalves, para onde a família estava de mudança. Foi então que Rafael passou a cursar o 3º ano na Escola Estadual de Ensino Fundamental Ângelo Salton, no distrito de Tuiuti, no interior de Bento.
– Estou chocada com o que aconteceu porque ele era um menino muito querido, carinhoso, amável, muito inteligente, não tinha queixa de comportamento – comentou a diretora da instituição da Serra, Simone Balssanello.
Segundo a diretora, os pais, à época, participavam sempre que havia alguma atividade na escola. A interação de Alexandra com o estabelecimento de ensino em que Rafael estudou recentemente é semelhante. É que, em meados de 2018, Alexandra e os filhos voltaram para a cidade de origem. Moravam em uma casa alugada em frente à residência da mãe de Alexandra e os garotos estudavam no Instituto Estadual de Educação Padre Vitório. Rafael no 6º ano e Anderson, 16, no 3º ano do Ensino Médio.
– O Rafael sempre foi muito doce, calmo, educado, reservado, era um exemplo de aluno – relatou Ladejane Ravagio, que em 2019 foi professora do menino no 5º ano.
De acordo com a professora, Alexandra era uma mãe atenciosa:
– Ela nunca faltou nas reuniões, vinha trazer ele no colégio, buscava, sempre muito preocupada com ele, cuidadosa. Por isso que foi tão chocante, porque sempre víamos o Rafael com ela em todos os lugares.
Na época da separação do casal, o pai Rodrigo Winques ficou em Bento, onde trabalha com cultivo de parreiras. Ele contou que no dia 15 deste mês recebeu uma chamada do celular do filho, mas era o atual namorado de Alexandra que falava, perguntando se Rafael estava em Bento com o pai. No dia seguinte, Winques foi para Planalto e começou a procurar por Rafael.
As buscas ao menino só se encerram na última segunda, quando a mãe indicou à polícia onde havia deixado o corpo do filho.
Entenda o caso:
:: Em 15 de maio, Alexandra Dougokenski registrou o desaparecimento do filho caçula Rafael Winques, 11 anos.
:: Ela relatou à polícia que ao acordar não encontrou o filho em casa.
:: A polícia deu início às buscas, utilizando, inclusive, cães farejadores.
:: Desconfiados de partes dos relatos da mãe e de contradições, a polícia chamou Alexandra para mais um depoimento na última segunda-feira, 25, quando ela confessou ter matado o filho, mas de forma não intencional. Ela disse que o menino estava agitado na noite do dia 14 e que ela teria dado a ele dois comprimidos de diazepam (usado como calmante) para que adormecesse. Que depois foi vê-lo e ele estava morto.
:: A mãe indicou o local onde escondeu o corpo do filho, uma casa abandona que fica vizinha a que eles moravam. O menino estava enrolado em um lençol, dentro de uma caixa de papelão.
:: A polícia pediu e a Justiça concedeu prisão temporária de Alexandra.
:: Na terça pela manhã, o laudo da necropsia do Instituto-Geral de Perícias apontou que Rafael foi morto por asfixia mecânica causada por estrangulamento.
:: A polícia investiga se há mais algum envolvido no crime. Se a mãe usou o medicamento para dopar Rafael e o motivo.