A investigação sobre a morte de Paulo Cesar Gonçalves, de 42 anos, em Nova Prata no dia 28 de fevereiro, não aponta para legítima defesa. O caminhoneiro foi morto com dois tiros pela ex-mulher em um estacionamento. A hipótese inicial era baseada no fato de a autora ter um registro de violência doméstica contra o homem. Contudo, segundo a Polícia Civil, a mulher já havia retirado esta queixa.
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Mulher mata ex-marido em Nova Prata
O casal decidiu pela separação no início deste ano e, em sequência, a mulher foi à delegacia registrar uma ocorrência por ameaça contra o ex-marido. O caminhoneiro estava no Maranhão na época e nunca foi notificado da medida protetiva decretada. Ao saber do registro de ameaça, Gonçalves procurou a Polícia Civil daquele estado e afirmou que a acusação da ex-mulher era falsa.
Antes de retornar para o Rio Grande do Sul, o homem fez contato com a ex-mulher para esclarecer a situação. Os dois conversaram e a mulher procurou novamente a Polícia Civil, desta vez para retirar a queixa — o que é permitido em casos que não há agressão física. Ao chegar em Nova Prata, Gonçalves procurou a delegacia local.
— Era sexta-feira e ele chegou próximo das 18h (horário em que termina o expediente dos policiais). A dúvida dele era sobre os bens (do casal), principalmente a situação de um carro. Como existia uma medida protetiva contra ele, ele foi orientado a não se aproximar da ex-mulher durante o final de semana. Mas eles conversaram (por telefone) e, conforme testemunhas, combinaram que ele iria buscar o carro — relata a delegada Liliane Pasternak.
O encontro aconteceu por volta das 20h do dia 28 de fevereiro, no estacionamento da empresa onde a mulher trabalhava como vigilante, no bairro Vila Lenzi. Gonçalves estava acompanhado do filho mais velho, de 17 anos.
— Estava tudo combinado. Meu pai ia buscar o carro e depois trocar por outros dois de menor valor: um para ele e outro para ela. Ele foi na guarita e pediu para chamarem a minha madrasta. Ela disse que precisava tirar algumas coisas do carro e eles foram juntos até o veículo. Ao se aproximar do carro, eles discutiram. Ela sacou a arma e deu o primeiro tiro, que falhou. O meu pai se jogou no chão para escapar. Ela atirou nele já caído — relata o adolescente.
A mulher foi detida logo após o crime e encaminhada para o Presídio Estadual de Nova Prata, mas foi solta no dia seguinte. De acordo com a Polícia Civil, o juiz homologou a prisão em flagrante, mas entendeu que não era caso para prisão preventiva. A argumentação é que a investigada é ré primária e tem residência e trabalho fixo, além de existir um caso de violência doméstica anterior.
— Não finalizamos o inquérito ainda. Ela foi presa por homicídio e alegou legítima defesa, mas não está comprovado. Ela convidou ele para o seu local de trabalho. Se estivesse com medo, poderia não teria aceitado conversar, ter chamado por algum colega (vigilante), se protegido na guarita e acionado a Brigada Militar — analisa a delegada Liliane, que ainda aguarda o resultado de perícias.
Além do adolescente de 17 anos, Gonçalves deixa outros dois filhos, de 12 e seis anos. A família reclama que a investigada foi solta em menos de 24 horas após o crime e reforça que as acusações de violência doméstica eram falsas:
— Meu pai era cidadão de bem, nunca tinha feito mal a ninguém. Era caminhoneiro, por isso viajava bastante, mas até já tinha deixado as coisas dele na minha casa porque iriam separar. Todo mundo na cidade está revoltado — relata o filho mais velho.
O nome da investigada não é divulgado em razão da possibilidade do caso envolver um caso de violência doméstica. A Polícia Civil também não confirma a identidade da investigada devido em função da legislação sobre abuso de autoridade. A reportagem, por isso, não conseguiu contato com a suspeita.