Ruas vazias, mas não abandonadas. Enquanto a maioria da população fica em casa contra a pandemia de coronavírus, policiais patrulham Caxias do Sul com atenção redobrada. A missão principal é evitar que delinquentes se aproveitem da situação de calamidade, além de passar segurança aos trabalhadores dos serviços de saúde, limpeza, mercados e farmácias. Ao mesmo tempo, os brigadianos orientam a população que insiste em sair de casa. Os PMs relatam que justamente uma parte do grupo de risco da covid-19 é a que continua a se expor em Caxias do Sul: os idosos.
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Para enfrentar este momento de pandemia, o 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) distribuiu guarnições em ponto estratégicos da cidade, como praças, parques e vias que levam aos serviços essenciais. Comandante da Companhia de Operações Especiais (COE), tenente Cristiano Becker salienta que a BM está reforçando a segurança em razão da suspensão de férias, licenças e dispensas pelo governo estadual.
— Na teoria, ruas vazias tornam mais fáceis as ações de meliantes. Mas nosso policiamento está focado e estamos com o dobro do efetivo que normalmente patrulha as ruas. Nossos PMs estão orientados a ficarem atentos a agências bancárias, supermercados, farmácias e postos de combustíveis que precisam continuar à disposição da população — conta
O tenente Becker viveu os dois lados do regramento social contra esta pandemia. No início da segunda quinzena de março, o brigadiano entrou em férias e viajou para Florianópolis, em Santa Catarina, como estava planejado com a esposa. Dois dias depois, retornou para a Serra.
— Estava em um hotel perto da praia, mas fechados no apartamento. À noite, com a minha esposa, decidi dar uma caminhada. Logo que saímos na rua, aproximou uma viatura e os policiais mandaram ir para casa, que não era para ninguém ficar nas ruas. Ordens diretas, a questão estava séria por lá. Logo depois, voltei para ajudar em Caxias. Aqui, estamos orientando com mais tranquilidade, pois a situação está mais controlada. Atuamos com parcimônia, até para evitar animosidades — relata o tenente que poderia estar aposentado há três anos, mas decidiu continuar a servir a comunidade.
Ocorrências diminuíram
De acordo com o 12º BPM, a primeira semana de restrições no comércio e atividades de lazer teve queda no número de ocorrências policiais, o que é considerado natural pela redução de pessoas nas ruas. O temor sobre um possível aumento de furtos e brigas domésticas não se concretizou. Os chamados ao 190 diminuíram em 23%.
Entre os dias 12 e 18 de março, a BM recebeu 432 ligações. No dia 20, a prefeitura anunciou o decreto que restringia o funcionamento do comércio, e a maioria das escolas e universidades suspenderam as atividades. Nos sete dias seguintes, foram contabilizados 331 atendimentos.
Sobre crimes e contravenções, o comando do 12º BPM afirma que há uma visível redução em furtos, roubos, perturbação do sossego alheio e casos de violência doméstica. Contudo, as estatísticas não foram divulgadas. Outro número com redução sensível são os atendimentos a acidentes de trânsito, justamente pela menor quantidade de carros nas ruas.
Com mais PMs disponíveis e menos ocorrências em atendimento, os brigadianos auxiliam as autoridades municipais na orientação da população sobre a necessidade de ficar em casa e não se expor ao coronavírus. Policiais militares estão distribuídos nos chamados pontos base, locais de maior movimento e visibilidade para a população, como a Praça Dante Alighieri, a Casa de Pedra e os acessos aos bairros Desvio Rizzo e Cruzeiro. Também são realizadas blitze educativas para abordagens e orientações a motoristas.
Parques e praças continuam movimentados
No Rio Grande do Sul, não há restrição de cidadão que impeça as pessoas de irem às ruas. Os decretos em vigor limitam apenas a atuação de estabelecimentos e atividades de lazer. Desta forma, a atuação policial é apenas de conversar com as pessoas sobre os riscos do coronavírus e salientar as recomendações das autoridades médicas.
Um dos pontos nevrálgicos atendidos pela BM é a Praça Dante Alighieri. O trabalho mais incisivo começou na segunda-feira (23). Na terça-feira, os soldados Keila Caroline Ribeiro Flores, 22, e Jacir Robinson Júnior, 24, já haviam perdido a conta de quantas pessoas foram abordadas e orientadas a deixar a praça. É normal que algumas pessoas entendam a orientação, mas acabam não deixando os bancos.
— Percebemos que a maioria levou a sério (o isolamento social), mas outros demonstram desconhecimento, não sabem como acontece o contágio ou não acreditam na pandemia. Querendo ou não, também estamos buscando esse conhecimento para poder falar com as pessoas. A maioria compreende e acata as medidas de precaução, voltando para casa — conta o soldado Fabiano de Souza, que há 22 anos compõe a Brigada Militar.
Na quinta-feira (26), o número "anormal" de atletas amadores no Parque dos Macaquinhos preocupou os policiais militares.
— Eram esportistas que estavam usando o parque, pois as academias estão todas fechadas. Há quem não entenda a complexidade do vírus, pois é muita informação nas mídias e as pessoas não assimilam tudo. Conversamos e algumas pessoas aceitaram, mas outras resistiram alegando falta de opção. A resposta mais comum é que (se não podem usar o parque) iriam caminhar pelas ruas. Querem manter sua rotina de exercícios — relata o soldado De Souza.
Os PMs sabem que também estão expostos, mas tentam manter a distância segura e apelam ao uso constante do álcool gel e, quando possível, lavam as mãos com água e sabão. Além de monitorar a população, os policiais precisam estar atentos ao movimento de suspeitos.
O tenente Valderi Quadros, que também precisa ir às ruas, diz que os colegas adotaram alguns procedimentos básicos. Na condução de um preso, por exemplo, o ideal é que ele use uma máscara tanto para a própria proteção como para a proteção dos policiais. O oficial relata que a estratégia é trabalhar em parceria com outros órgãos em barreiras solidárias e circular em parque e praças.
— Não tem como fechar o Parque dos Macaquinhos, então, passamos ali e solicitamos a saída. Nada é coercitivo. Quem é necessário para a cidade, está trabalhando. Os que podem estar em casa, infelizmente, insistem em ficar na rua — complementa o tenente Quadros.