A redução dos roubos em Caxias do Sul merece ser comemorada, mas a média de seis assaltos por dia ainda é uma preocupação. Outro alerta das lideranças policiais é sobre a migração de bandidos para crimes de estelionatos e furtos, delitos que dificilmente resultam em prisão e trazem grande prejuízo às vítimas.
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Conforme o Código Penal, o furto qualificado tem pena de dois a oito anos de reclusão. A previsão para estelionato é ainda menor: de um a cinco anos. Em regra, penas menores podem ser cumpridas em regime aberto, em que não cabe medida preventiva, o sentimento é de impunidade.
— Deixaram de cometer os crimes com emprego de violência para a prática de furtos e os estelionatos. É importante essa redução nos roubos de veículos, mas no furto de veículo não vemos a mesma diminuição. Eles sabem que a pena de furto não é restritiva de liberdade — analisa o delegado Vítor Carnaúba.
— O que interessa ao criminoso efetivamente é o bem, o lucro, e não a maneira como é obtido. Existe a tendência de migração. Estelionatos são um grande problema. A vantagem ilícita, o dinheiro, é obtido em um golpe que não oferece risco para o criminoso e, por vezes, com vantagens muito maiores — aponta o tenente-coronel Jorge Emerson Ribas, comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
As lideranças policiais ressaltam que um pouco mais de atenção das vítimas seria suficiente para evitar os golpes. Em 2019, mais de 1,6 mil estelionatos foram registrados em Caxias. É o único crime que continua em crescimento no Estado.
— A tecnologia também propiciou isso. Eles não aparecem fazendo o crime, pois trabalham por aplicativos de comunicação, redes sociais, e podem atuar no Brasil inteiro. Você está em Caxias do Sul e pode estar sendo enganado por alguém em São Paulo. Fica mais difícil a investigação. É uma forma de ganhar dinheiro menos prejudicial para ele e que gera menos prisões — concorda o delegado Carnaúba.
Outra mudança no comportamento criminal envolve dependentes químicos. Apontados pela elevação do número de roubos a pedestres, usuários de crack se especializaram em furtar materiais que podem ser vendidos em reciclagens.
— Percebemos eles praticando muitos furtos, de qualquer material que possa render ganho: alumínio, hidrômetros, fios de cobre, qualquer coisa de metal... Todos os dias, os números continuam, mesmo que muitas vítimas não registrem. (Os usuários) arrumaram uma forma menos violenta para sustentar o seu vício — relata o delegado.