Roselane Cândida da Silva, 45 anos, foi a primeira vítima de feminícidio do ano na Serra. Ela foi morta com quatro tiros quando chegava para fazer compras em um mercado no Centro de Canela. Roselane foi baleada duas vezes fora do estabelecimento, e mais duas dentro do local, para onde tentou fugir.
Câmeras de segurança mostram a ação premeditada. Por volta de 10h20min, Roselane e o seu marido, não identificado, se aproximam da entrada do local, quando, de dentro de um veículo estacionado, um homem desembarca, aponta o revólver calibre .32 para o casal e começa a disparar. Roselane e o companheiro correm para tentar se salvar, o executor os persegue e continua os disparos. Roselane cai e o autor do crime, Manoel Adelar da Silva, 63 anos, se aproxima e atira mais duas vezes na vítima. Em seguida, ele sai do mercado. Manoel se suicida a algumas quadras do estabelecimento.
Roselane chega a ser socorrida e encaminhada ao hospital, mas não resiste. O que antecede a tragédia é uma narrativa com elementos comuns a milhares de outras histórias. De acordo com a prima da vítima, Débora Aparecida da Silva da Cruz, o autor do crime perseguia Roselane há pelo menos um mês. Todos sabiam, inclusive a polícia, que foi avisada através de registro de ocorrência, revela a diarista.
— Ele (o autor) conhecia a gente desde criança, morávamos próximos. Não sei em que momento ele passou a ficar obcecado com ela. Ela dizia que nunca teve nada com ele e ele ficava perseguindo ela. Todo mundo estava procupado. Já tinha feito ocorrência na delegacia, mas a polícia não fez nada — lamenta Débora.
Roselane trabalhava como diarista em um condomínio. De acordo com Débora, o autor do crime inclusive já havia ido ao trabalho dela:
— Quinta-feira (9/12) a gente conversou e eu falei 'te cuida prima, esse homem está te perseguindo até no trabalho'. Ela disse 'eu já pedi para a polícia, agora tenho que esperar'. Mas não adiantou.
A prima de Roselane revela que recentemente "todos ficaram sabendo que Manoel havia comprado uma arma, o que ressaltou preocupação de amigos e familiares. Para quem acompanhou a escala de risco da situação vivenciada por Roselane, resta desamparo diante da ineficiência da rede de proteção:
— Tu vai na polícia e em 500 lugares diz que não pode trabalhar, não pode ir para lugar nenhum que tem um homem me perseguindo e ninguém faz nada. Infelizmente agora a polícia age, mas quando não tem o que fazer — desabafa Débora.
De acordo com Débora, Manoel seria casado e viveria com a esposa no bairro Santa Marta, onde ela reside e, no passado, onde Roselane também morou. Foi ali que ela e Manoel teriam se conhecido, mas nunca tido qualquer relação. De acordo com a Brigada Militar, Roselane e o autor não possuíam um relacionamento, mas o homem costumava seguir a mulher e forçar uma relação entre eles.
Após o ataque, o autor do crime cometeu suicídio na região conhecida como Morro da Cruz. Com ele, foi apreendido o revólver calibre .32, usado para executar Roselane. A arma estava com a numeração parcialmente raspada.
"Se dava bem com todos"
Roselane era natural de São Francisco de Paula e morava há cerca de dois anos com o marido no bairro Vila Boeira. Ela tinha um filho de 26 anos de um relacionamento anterior.
— A Roselane era uma pessoa familiar, se dava bem com todos, Sempre alegre, rindo, disposta com a família. É triste ir dá parte em todos os lugares possíveis enão adianta nada — lamenta Débora.
Essa foi a quinta morte violenta registrado na Serra e o primeiro feminicídio do ano na região.
Polícia vai investigar relação
O delegado substituto da Delegacia de Polícia de Canela, Gustavo Barcellos, comentou que a investigação após o fato será concentrada na relação que a vítima tinha com o autor do crime.
— Ela (Roselane) tinha registrado uma ocorrência no fim do ano, antes do Natal, dizendo que estava sendo perseguida. Nessa ocorrência ela disse que não tinha nenhuma relação com ele. Mas precisamos investigar se de fato não havia e, no caso de haver, qual seria.
Questionado sobre a contestação da familiar da vítima quanto à suposta ineficiência da rede de proteção que envolve a Lei Maria da Penha, Barcelos explica que a ocorrência não se enquadrava nessa legislação.
— Esse registro não foi feito na delegacia de polícia, foi feito com a Brigada. Militar. E se ela não tinha relação com ele ou qualquer tipo de vinculação, em princípio não haveria como ela obter medidas protetivas, por não se enquadrar na Lei Maria da Penha — ressalta o delegado
Ele reitera que por não ter se enquadrado como violência doméstica, a atuação da rede ficou prejudicada:
— O que a rede de proteção faz é dar efetividade naquilo que é possível. Não tem como uma pessoa ser monitorada 24 horas por dia. Se houve uma relação entre eles, não estou afirmando, mas se houve e ela omitiu, ela trouxe um prejuízo até para ela e para a rede.
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