O jovem de 22 anos, amarrado e gravado por colegas de trabalho em um supermercado de Caxias do Sul, é natural de São Francisco de Paula e veio para Caxias com a família em busca de oportunidades. Surdo e cego de um olho, o rapaz estudou na Escola Estadual Especial Helen Keller e é capaz de se comunicar por libras e desenhos, de acordo com a mãe.
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Prestes a completar cinco anos trabalhando no supermercado, ele foi amarrado e filmado por colegas de trabalho em uma área de acesso restrita a funcionários de uma unidade do supermercado Andreazza. A Polícia Civil classificou o caso como tortura e injúria racial. O caso aconteceu no dia 26 de setembro, data instituída como o Dia Nacional do Surdo.
O Grupo Andreazza repudiou o acontecido e informou, por meio de nota, que identificou e demitiu os dois autores do vídeo. Como o caso ainda está em apuração, não foi divulgada a identidade dos investigados pela 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP).
Na noite desta terça-feira (8), a mãe da vítima conversou com a reportagem do Pioneiro:
Pioneiro: Como vocês estão após o acontecido?
Mãe da vítima: Desde que aconteceu o fato, não teve um dia que não chorei. Não criei um filho para passar por isso. O meu filho ficou muito sentido e deprimido. Ele está carente, abraçando a gente a toda hora. Está magoado com a situação. Ele não pode falar e estava com as mãos atadas. Se escutam mais vozes (no vídeo) e ninguém fez nada. O açougueiro (que aparece no vídeo) disse que tentou desamarrar, mas aquele jeito de puxar só apertou mais e provocou a lesão no pulso (do filho). Ficou uma marca vermelha.
Seu filho tem alguma deficiência?
Ele é surdo, só escuta um pouquinho por um ouvido. Precisa gritar para ele ouvir. Também é cego de um olho. Falar, ele não consegue. Ele se comunica por libras e, o que não entendo, ele desenha. Viemos para Caxias do Sul justamente para ele estudar. Ele adorava trabalhar. Mas segunda-feira me falou que não quer mais trabalhar. Sei que o vídeo foi divulgado em um grupo de funcionários do mercado. Sabia que se espalharia. Nunca pensei em me expor dessa maneira, mas também nunca pensei que meu filho passaria por isso. Ele vai completar cinco anos trabalhando neste mercado. Enquanto estava na parte da frente com a gurizada, nunca tinha acontecido nada. Agora que ele virou repositor e foi para a parte de trás, iria trabalhar com adultos mais experientes, e aí acontece esse tipo de coisa.
Ele já tinha relatado algo semelhante?
Só me contou agora, que passaram dos limites. Mas me disse que estavam sempre rindo dele e fazendo deboche. É a primeira vez que passa por isso. Ele falou para a tradutora de libras na escola onde estuda que não se sente mais à vontade (para trabalhar) e queria procurar outra coisa para fazer.
Como é o seu filho?
Ele é brincalhão e não tem essa maldade da gurizada. É um garoto que não faz folia e nem gosta de bebida. Ele é bem tranquilo e só sai comigo. Ele estuda, joga futebol e faz natação.
Vocês tiveram medo após o acontecido?
Sim, tenho medo. Meu filho anda sozinho pela rua e já foi assaltado, enforcaram ele porque não sabia falar. Tenho medo, mas quero justiça. O mercado ofereceu psicóloga e assessoria jurídica para a gente.