Os assassinatos triplicaram em Farroupilha e mais da metade destes homicídios aconteceram em apenas dois bairros: Industrial (8) e São José (5). Apesar de estarem distantes um do outro, as localidades se assemelham por serem extensos e terem áreas invadidas, onde o tráfico de drogas acabou se instalando.
— O Industrial na verdade são três bairros. É na área invadida que dá os problemas, mas nós pagamos o "pato" também. É complicado falar, ninguém quer se expor — comenta um comerciante que pediu para não ser identificada. Ela mora há 32 anos no bairro e teve seu negócio assaltado três vezes nos últimos cinco anos.
De acordo com a BM e a prefeitura, estes terrenos as margens da linha férrea recebem pessoas de diversas origens, o que serve para esconder aquelas que vem com a finalidade do crime, como o tráfico de drogas.
— É uma grande área invadida, inclusive com litígio e decisões judiciais. É uma questão social. Conversamos com Ministério Público para tentar bloquear a vinda de outras pessoas e cadastrar todos que já moram lá, o que hoje, infelizmente, não estamos conseguindo manter _ aponta o major Juliano Amaral, subcomandante do 36º Batalhão de Polícia Militar (36º BPM).
Sobre o bairro São José, a avaliação é que a localidade conhecida como núcleo SFAN se tornou, aos longo dos anos, uma referência para compra de drogas. Como os usuários procuram a região, não importa quantas prisões aconteçam porque sempre aparece um novo traficante tentando lucrar.
— O problema é na parte de cima do bairro, a SFAN. Tem traficantes e assaltantes, são umas gangues que tentam tomar conta. Acontece entre eles, mas prejudica a todos. Não tem como os moradores se defender. Fica sempre nessa insegurança de não saber o que vai acontecer ou a quem recorrer — lamenta uma arquiteta de 28 anos que sempre morou no São José.
Para tentar resolver estas invasões e subabitações que favorecem a clandestinidade e o tráfico de drogas, a prefeitura de Farroupilha planeja a criação de bairros sociais. O projeto foi apresentado na Câmara de Vereadores na última segunda-feira.
"Sabíamos que uma hora iria estourar em Farroupilha"
Pioneiro: Como a prefeitura acompanha este aumento dos homicídios?
Prefeito Claiton Gonçalves (PDT): Estamos vendo com muita preocupação. Há quatro anos, percebemos que começou a migrar para Serra diversas pessoas que tinham ligação com o crime da Região Metropolitana. Aconteceu em Caxias e, mais recentemente, em Bento, por isso sabíamos que uma uma hora iria estourar em Farroupilha, porque estamos no centro da Serra gaúcha.
Começamos a fazer uma observação, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social, quem eram os habitantes das áreas de invasão e ficamos muito preocupados. Adotamos uma política de controle destas áreas, mas isso não diminuiu o impacto que, migrando de Porto Alegre, se instalou na Serra. Somos uma região desenvolvida e quanto maior poder de consumo, maior a circulação de drogas e maior o número de pessoas envolvidas com este comércio irregular.
As mortes se concentram nestas áreas mapeadas?
Sim, são em duas áreas de invasão. No São José, é no núcleo da Sfan, que é um núcleo de habitação, institucionalizado, com terrenos muito pequenos, mas que ocupou áreas lindeiras com subabitações que abrigam, eventualmente, esses nichos de comércio de drogas. No Industrial, é, principalmente, na da linha férrea, uma área do Governo Federal repassada para o município, mas, de qualquer forma, tem uma invasão histórica que foi ampliada neste momento que Caxias e Bento também tem os seus problemas.
Como resolver?
O grande projeto é a construção de bairros sociais para que possamos dar amplitude para estas pessoas. Serão construídos com dinheiro público, mas com contrapartida do morador. Ele precisará ir atrás de trabalho para pagar sua prestação. Então, iremos retirar pessoas de áreas de invasão para passar para estes bairros sociais. O que deve acontecer nos próximos anos, porque no Poder Público tudo é muito lento.
Como estes homicídios afetam Farroupilha?
Tem uma inferência na cidade, mas é um tipo de acontecimento que não tem relação direta com os descaminhos da cidade. É um outro grupo que atinge uma outra fatia da sociedade que, tem impacto pela morte violenta, mas que não é do cotidiano das pessoas. Mas, afetam os números de segurança e preocupam.