O governo do Estado inicia hoje a troca de tornozeleiras eletrônicas e instalação de novos equipamentos em detentos que estão no regime semiaberto e em prisão domiciliar. A primeira cidade contemplada é Santa Cruz do Sul, no Vale do Rio Pardo: são 348 equipamentos destinados ao Presídio Regional.
A utilização dos equipamentos do novo contrato é aguardada na Serra desde dezembro, quando foi inaugurado o Instituto Penal de Monitoramento Eletrônico da região. A estrutura foi preparada justamente para o aumento do monitoramento. Na época, as lideranças da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) apontavam que haviam 504 apenados em prisão domiciliar em aguardando por tornozeleiras em Caxias do Sul.
Leia mais:
Para fiscalizar mais de 500 presos, central de monitoramento da Serra é inaugurada
Como é a rotina de uma presa com tornozeleira eletrônica em Caxias do Sul
Estado é condenado a criar vagas para o semiaberto em Caxias do Sul
Contudo, nesta quinta-feira, a Susepe informou que há apenas 148 detentos aguardando pelo equipamento na cidade. A mudança seriam resultado de um equivoco na análise e comunicação dos números na época (confira entrevista abaixo). Hoje, há 297 apenados monitorados eletronicamente entre Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Nova Prata e Vacaria.
Em entrevista a GaúchaZH, o secretário estadual de Administração Penitenciária, César Faccioli, afirmou que, nos próximos dias, o governo realizará um levantamento do número de presos que deveriam ser vigiados eletronicamente mas, por falta de aparelhos, estão em casa sem controle do Estado. A promessa é que o déficit será zerado em no máximo cinco meses:
— O fim do processo de instalação não passa de outubro. A Susepe acredita que, antes disso, vá instalar todas, passando por Pelotas e chegando até a Região Metropolitana — afirma o secretário.
A Susepe ainda não tem uma previsão de quando as novas tornozeleiras serão instaladas na Serra.
"A ideia é instalar tornozeleiras em todos"
O início do governo Eduardo Leite (PSDB) e a criação da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária trouxeram algumas mudanças para a Susepe. Uma delas é que manifestações só podem ser feitas via pela assessoria de imprensa, que tem sede em Porto Alegre. Os diretores das casas prisionais da Serra e até mesmo o novo delegado regional, Marcos Ariovaldo Spenst, não estão autorizados a falar com a imprensa. Confira o que respondeu o assessor Paulo Bogado sobre a diferença dos números de apenados que aguardam tornozeleiras eletrônicas em Caxias do Sul.
Pioneiro: Por que esta diferença nos números?
Paulo Bogado: existe uma diferença entre o Judiciário querer que (apenados) estejam em tornozeleiras e aqueles que temos ordens judiciais para instalar tornozeleira. Há aqueles que o Judiciário sinaliza que irá colocar tornozeleiras, mas não tenho uma ordem oficial. Prisão domiciliar não necessariamente precisa de tornozeleira. Existem variáveis, depende da decisão do juiz.
A juíza de Caxias do Sul sempre manifestou querer todos do regime semiaberto com tornozeleira...
Provavelmente, ela queira isto. Mas, o número oficial que temos são 148. Temos falta tornozeleiras, se não já estariam instaladas.
Caso sejam 500 necessitando de tornozeleiras, a Susepe será capaz de instalar?
A ideia é instalar tornozeleiras em todos que o Judiciário achar conveniente. Com 10 mil (equipamentos), poderemos. O que o Judiciário determinar, teremos capacidade de atender. Hoje, no Estado, há apenas 2,6 mil monitorados. Agora, poderemos ir a 10 mil. São quase quatro vezes mais.
A Susepe pretende reformar o albergue do regime semiaberto?
Há este movimento (para reformar o albergue de Caxias), mas não sei informar como está (o processo). O secretário de Administração Penitenciária tem trabalhado nisso, mas há este movimento em outras cidades também. A prioridade desse nosso governo é a construção de casas prisionais.
"Deveria ter em todos", diz juíza
Procurada sobre a diferença nos números em menos de seis meses, a Vara Regional de Execuções Criminais (VEC) afirmou que a contagem sobre o monitoramento eletrônico é feita pela Susepe. A VEC só possuiria dados por regime — fechado, aberto ou semiaberto — e sem distinção por cidade na região. Contudo, não teria acontecido uma mudança significativa na demanda desde dezembro.
— Em Caxias do Sul, quando o preso vai para o regime semiaberto, a determinação é de colocação de tornozeleira eletrônica. Não é um pode ser, é uma determinação. Deveria ter em todos, salvo exceções muito pontuais. A regra é 99,9% com tornozeleiras — esclarece a juíza Milene Fróes Rodrigues Dal Bó.
Economia e mais segurança
O novo contrato é de R$ 40 milhões e corresponde à utilização de até 10 mil tornozeleiras. Faccioli faz um comparativo do custo dos presos do sistema fechado para o monitorado, quase 60 vezes mais barato.
— Se fizermos uma "conta de padaria", dividindo o número de meses do contrato pelo valor, cada preso vai custar R$ 66 por mês. No sistema prisional fechado, o valor varia, mas fica em torno de R$ 4 mil — compara.
A nova tornozeleira, produzida pela Georastreamento Inteligência e Logística, de Domingos de Martins (ES), teria menor chance de ser rompida. Segundo a empresa, o equipamento identifica inclusive se o vigiado está deitado ou em pé, pela posição no GPS. O alarme é acionado se o detento sair do perímetro permitido ou se forçar na tentativa de rompimento. De tecnologia semelhante à usada na Suíça, é construída em peça única de material rígido, com formato que se assemelha a um anel. A abertura e o fechamento é de forma automática e será controlada pela Susepe. O peso é de até 200g.